Conversando com as nossas crianças interiores

Conversando com as nossas crianças interiores
Autor Camilo de Lelis Mendonça Mota - [email protected]
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Uma recomendação que sempre dou a meus clientes - tanto alunos de Reiki quanto os que se apresentam para sessões de psicoterapia - é que eles se esforcem para observarem-se a si mesmos em cada uma das situações por que passam em seu dia a dia. Esse auto-olhar pode ser feito através de atividades de meditação, mas também na contemplação e reflexão diária quando estão fazendo coisas comuns: lavando um prato, caminhando ou simplesmente quando se deita numa rede para observar o vento nas folhas das árvores. Ou ainda, anotando seus sonhos e procurando mergulhar sobre a significação pessoal daquele festival de símbolos que vêm nos povoar a mente à noite. E, principalmente, nas suas relações humanas. Ao tomar a decisão de se olhar, de se reconhecer, de encontrar a sua própria natureza, aceitando suas qualidades e defeitos, o indivíduo inicia o trabalho (árduo, mas edificante) de permitir uma integração cada vez maior da sua consciência exterior (o Ego) com a sua consciência interior, seu mestre interior (o Self), formando uma unidade harmoniosa. Ao explicar uma das funções da "anima" (o arquétipo feminino do homem), M. L. Von Franz mostra como é importante para o indivíduo reconhecer o seu próprio mundo interior para transformá-lo de maneira positiva, ao invés de se entregar aos processos fantasiosos sem qualquer preocupação em decifrá-los:
 

"Mas qual a significação, em termos práticos, do papel da anima como guia para o mundo interior? Essa função positiva ocorre quando o homem leva a sério os sentimentos, os humores, as expectativas e as fantasias transmitidas por sua anima e quando ele os concretiza de alguma forma, por exemplo, na literatura, pintura, escultura, música ou dança. (...) Depois que uma fantasia materializou-se de alguma forma específica, ela deve ser examinada tanto ética como intelectualmente, numa avaliação sensível e calculada." [Von Franz, M.L. O processo de individuação. In: JUNG, Carl Gustav (org). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2011.]
 

O que desejo ressaltar com a citação de Franz é justamente o levar "a sério os sentimentos, os humores, as expectativas e as fantasias". A pessoa desatenta tende a projetar no outro as suas próprias realidades interiores, sem perceber que este é um jogo do próprio Inconsciente para tornar claro para o indivíduo aquilo que ele precisa trabalhar para se tornar um ser integral e maduro. Quando, por exemplo, numa situação hipotética, o marido pede para a esposa lhe trazer uma cerveja gelada e ela nega e vai faz outra coisa para ela mais importante, esse homem pode simplesmente se levantar e ir buscar sua bebida, ou pode reagir de maneira a expressar a sua frustração, fazendo uma regressão a alguma fase de sua infância. Nesse ponto, o homem em questão poderá estar se expressando como uma criança birrenta, sem se dar conta de que está agindo da mesma forma que agia quando tinha alguma coisa negada por sua própria mãe na infância.

Gostaria, então, de fazer aqui uma diferenciação entre os "estados de criança" com que podemos conviver em nossa vida adulta, como uma forma de despertar o interesse na auto-observação. Faço, primeiramente, uma diferenciação entre a "criança interior" e a "criança anterior". Nesse jogo de palavras está uma pequena chave para compreendermos pelos menos duas maneiras de observarmos nossos comportamentos infantis sob a ótica de suas manifestações ao crivo de nossa consciência.

Chamo de "criança anterior" àquelas situações em que nos deixamos envolver por nossos sentimentos de apego à figura materna de nossa infância (como no caso do exemplo citado anteriormente). É importante ver em que medida estamos deixando esta "criança" ser a porta-voz de nossa natureza, ao invés de encararmos os fatos com maturidade e discernimento. E mesmo que tenhamos, em algum momento, nos deixado envolver por essa regressão infantil, é preciso reconhecê-la e trabalhar esta realidade dentro de nós. Esta "criança anterior" pode estar presente quando fazemos uma pirraça, quando sentimos algum medo ou frustração, quando nos sentimos inferiores a alguém e desejamos intimamente correr para o colo de nossa mãe.

Ao trabalharmos a realidade dentro de nós, ao vermos que estamos sendo infantis, abrimos espaço para a "criança interior" se manifestar. Ao mesmo tempo em que o Ego amadurece ao enfrentar os defeitos que quis que permanecessem ocultos de sua consciência e os transforma de maneira a integrá-los positivamente à sua existência, também a "criança interior" vêm à luz como um arquétipo que auxilia no equilíbrio de nossas forças psíquicas. A "criança interior" é o estado em que podemos ver o mundo como uma nova descoberta a cada dia, é a nossa capacidade de agirmos com espírito lúdico e criativo, deixando de lado a rigidez das formas puramente racionais.

Ao direcionarmos nosso olhar sobre o funcionamento de nossa mente, de nossa psique, estamos contribuindo para nosso desenvolvimento integral, de maneira a compreendermos com mais lucidez as verdadeiras razões por que estamos neste mundo.
 



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Conteúdo desenvolvido por: Camilo de Lelis Mendonça Mota   
Terapeuta Holístico, CRT 42617, Psicanalista, Mestre de Reiki, Karuna Reiki, Terapeuta Floral. Atendimento terapêutico em Araruama-RJ, São Pedro da Aldeia-RJ e Saquarema-RJ com hora marcada Tel. (22) 99770-7322. Visite também o site www.camilomota.com.br
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