O MINOTAURO QUE NOS AFLIGE

O MINOTAURO QUE NOS AFLIGE
Autor João Carvalho Neto - [email protected]
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Conta a mitologia grega que Minos, desejoso de se tornar rei de Creta, fez o pedido ao Deus Poseidon que exigiu em troca o sacrifício de um touro branco que sairia do mar. Minos ficou tão maravilhado com a beleza do touro que resolveu poupá-lo e sacrificou outro animal. Quando Poseidon descobriu o engodo, puniu Minos com um filho metade homem metade touro, que o rei prendeu em um labirinto onde devorava rapazes e moças atenienses. Finalmente, Teseu ajudado por Ariadne, filha de Minos, conseguiram matar o minotauro.
Essa lenda da Mitologia grega era contada de geração a geração para ensinar o que poderia acontecer àqueles que desrespeitassem ou tentassem enganar os deuses.
A força dessa coação arquetípica, de uma divindade punitiva, vem acompanhando a humanidade desde tempos imemoriais, estando presente em todas as formas de religião, inclusive nas diversas linhas cristãs.
A maioria de nós não consegue mensurar o quanto essa crença tem inibido nossa capacidade de ser feliz e gozar aquilo que a vida nos possibilita. A repressão tem sido tanta que, muitos daqueles que conseguem rompê-la, acabam descambando, por uma postura reativa radical, para comportamentos libertinos e irresponsáveis.
Toda repressão tende a construir reações de força igual e direção contrária às suas proibições.
Um transtorno psicológico que se apresenta ou potencializa pela visão de um deus punitivo é o Transtorno Obsessivo Compulsivo no qual a pessoa realiza rituais repetitivos, visando uma absolvição por conta da culpa introjetada profundamente no inconsciente. Esses comportamentos repetitivos se justificam, na mente enferma, para evitar situações punitivas que ela imagina poderão vitimá-la. Na verdade, o mesmo condicionamento arquetípico da lenda do Minotauro, de que se “eu não fizer desse jeito a divindade vai me punir”.
O leitor amigo não imagina a quantidade de pessoas com bloqueios sexuais, especialmente as mulheres ou homens hoje que têm sido mulheres em outras vidas, que aparecem no setting analítico, por conta de culpas construídas secularmente, ao longo de vivências reencarnatórias, onde a idéia da relação erro/culpa/castigo prevaleceu.
E talvez você mesmo, que lê essas linhas, seja vítima dessa restrição ao prazer que as religiões nos têm imposto.
Claro que, quero afirmar aqui, não falamos de um gozo absoluto e irresponsável, mas da vivência leve e prazerosa das oportunidades que a vida nos oferece.
A neurose coletiva que toma conta da humanidade, nas suas diversas formas de manifestação (a organização mundial de saúde estima que 60% da população mundial é neurótica; os psicanalistas estimam que isso seja perto dos 100%) é em parte fruto de uma predisposição que se assenta na culpa.
A saúde mental exige que o ser humano goze uma cota de prazer em sua vida que o alivie das pressões intrapsíquicas do desejo. Desejos sequencialmente frustrados por conta do medo de punições ao gozo, criam uma pressão intrapsíquica que acabará saindo por outras vias, como comportamentos neuróticos ou somatizações.
Essa linha de pensamento culposo se apresenta hoje, na sua construção mais moderna, nas correntes espiritualistas, no conceito de que espíritos superiores nos observam os pensamentos e comportamentos, como tutores prestes a nos dar puxões de orelha. Pois me parece que esses espíritos realmente superiores, são como bons mestres ou bons pais que reconhecem o tempo e as limitações de cada um, compreendendo aonde cada um pode chegar sem violentar sua própria natureza evolutiva. Ninguém chega à universidade sem passar pela educação básica como ninguém chegará a níveis mais evoluídos espiritualmente sem vivenciar as etapas preliminares da vida material. A natureza não dá saltos, inclusive a espiritual.
Por isso, leitor amigo, viva agora o que lhe é possível, sempre tentando fazer o melhor que estiver ao seu alcance, mas aceitando com responsabilidade as demandas de desejo que sua evolução ainda te solicita.
Somente assim, Teseu e Ariadne – talvez as novas gerações que estão chegando – conseguirão nos libertar dos monstros ocultos que insistem em censurar nossos desejos, por mais legítimos que eles possam ser.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”.
www.joaocarvalho.com.br



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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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