Qual é a sua maior qualidade?

Qual é a sua maior qualidade?
Autor Camilo de Lelis Mendonça Mota - [email protected]
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A pergunta do título tem uma dupla função. Primeiro, para suscitar no leitor um olhar atento sobre si mesmo, para ver que sua maior qualidade não é a que ele percebe, mas aquela que os outros reconhecem em suas expressões cotidianas. Porque nos iludimos com muita facilidade, e diante de uma pergunta assim, é fácil responder com aquela imagem que criamos de nossos próprios egos: ah, sou generoso! (mas não sei abrir mão de um conforto quando um irmão está muito mais necessitado do que eu); sou humilde (mas acredito que minha formação intelectual é superior a dos demais); sou respeitador das opiniões alheias (desde que sejam iguais às minhas). E, no entanto, alguém algum dia chega para você e diz: olha, gosto de você porque você é generoso (e você nem tinha se apercebido disso, pois fez o ato com tanto desprendimento, que não lhe sobrou nenhuma gota de orgulho).

A segunda função é perceber que a pergunta é voltada para o outro, para como você percebe o seu semelhante, aquela pessoa que convive com você no dia a dia, aquela pela qual você passa na rua, enfim, sobre o pensamento que você nutre quando encontra alguém. Não são poucas as vezes que nos deixamos envolver pela imagem que é construída por nossos próprios preconceitos e pelos conceitos e deformações típicas de formações grupais. Para explicar melhor: quando vivemos em grupo, criamos regras e modelos de conveniência que se tornam norma, e qualquer um que fuja a esta norma corre o risco de ser estigmatizado pelo grupo como um todo. O princípio da ovelha negra deve ter surgido desse sistema de exclusão tão natural em vidas gregárias.

Sigmund Freud, em “O mal-estar na civilização”, já nos alertava para esse embate entre as forças de Eros e Thanatos (Amor e Morte): “Mas o natural instinto agressivo do homem, a hostilidade de cada um contra todos e a de todos contra um, se opõe a esse programa da civilização. Esse instinto agressivo é o derivado e o principal representante do instinto de morte, que descobrimos lado a lado de Eros e que com este divide o domínio do mundo”.

Quando assistimos a movimentos grupais mais intensos, no sentido do coletivo de uma nação, por exemplo, clamando por ódio, por ações extremadas, passamos a vivenciar o princípio de Thanatos em contraponto a Eros. Num instante como este, cabe ao indivíduo se acercar para mais perto de si, da sua compreensão maior do significado da vida, para não se deixar levar pelas marés dos que se deixam iludir pelo poder da vingança, do preconceito, do ódio e de ações que não passaram pelo crivo da reflexão e do conhecimento histórico para compreender a realidade que se está vivenciando. E o contrário também é verdadeiro, pois a ilusão também se instala quando nos deixamos iludir por discursos vazios de salvação, por promessas políticas, por reinos encantados que atendem apenas ao interesse de uma parcela do grupo e procura com isso gerar uma simples projeção de desejos que nunca serão realizados, mas sempre retroalimentados pela ilusão de estar a serviço de alguém que é superior e a quem desejamos muito ser submissos.

Diante deste quadro, nos encontramos também no dia a dia com situações bem mais simples e que nem percebemos o quanto a força gregária nos impõe normas e conceitos que acabam sendo introjetados sem que nos demos conta. Por exemplo: aquele sujeito que todo mundo diz que é uma mala, que é arrogante ou que é a pedra no sapato de todos. Quantas não são as vezes que aceitamos o discurso do outro sem fazer a pergunta com que iniciamos este artigo: qual é a sua maior qualidade? É preciso que fiquemos atentos para que consigamos ouvir com mais clareza os impulsos de Eros (do Amor, da Vida), para que possamos perceber que somos nós que enxergamos as qualidades no outro. Cabe a nós olharmos para nosso semelhante e ali procurar a centelha que identifique sua natural qualidade. Pois mesmo o pior dos homens pode ser a causa de nossa própria salvação ou de nossa correção.


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Conteúdo desenvolvido por: Camilo de Lelis Mendonça Mota   
Terapeuta Holístico, CRT 42617, Psicanalista, Mestre de Reiki, Karuna Reiki, Terapeuta Floral. Atendimento terapêutico em Araruama-RJ, São Pedro da Aldeia-RJ e Saquarema-RJ com hora marcada Tel. (22) 99770-7322. Visite também o site www.camilomota.com.br
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