Olhar Risonho 2

Olhar Risonho 2
Autor Verônica Dutenkefer - [email protected]
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Em homenagem à minha tia Marta Webber Dutenkefer

Há alguns anos, eu escrevi um texto que nomeei de “olhar risonho”. Nele descrevo esse olhar repleto de compreensão e aceitação.
Na semana passada eu tive um sonho nítido. Nele foi trazido à minha consciência a lembrança de uma sensação deliciosa que tive em minha infância.
Eu estava na casa de minha tia que morava ao lado da minha casa. Estava brincando com minha prima, companheira de tantas aventuras! No sonho, eu sabia que sonhava e absorvia sedenta as deliciosas lembranças e sensações que tive quando pequenina, e que estavam enterradas em minha memória.
Percorri o quartinho de bagunça dos fundos da casa que me despertava medo e curiosidade, pois era escuro e repleto das mais variadas “bugigangas”. Percorri o quintal da frente que era coberto de caquinhos vermelhos, o qual minha tia, caprichosamente, encerava. E o terraço, palco de inúmeras brincadeiras, transformava-se em castelo, escola, hospital, nave e tudo que nossa imaginação pedia.
Sabendo que sonhava eu me maravilhei com aquela sensação tão antiga e aconchegante que adormecia dentro de mim.

Quando acordei continuei sonhando tentando capturar e guardar essas sensações. Acordada, lembrei como era bom brincar nessa casa.
Havia um portão no quintal dos fundos que ligava minha casa à casa de minha tia. Lembrei das camas desarrumadas onde eu e minha prima brincávamos de esconde-esconde. Das tampas de panelas que viravam direção de carros imaginários, que dirigíamos com grande imponência!
E costumava ser lá que eu era tocada por aquele olhar risonho dessa tia. Talvez uma das pessoas mais simples e bondosas que tive o privilégio de conhecer.
Quando havia briga com minha irmã mais velha, ela sempre me defendia. Quando eu me desentendia com meus pais que me ameaçavam com castigos ou “abandono”, eu sabia que não ficaria sozinha. Era só fugir para casa ao lado que minha tia me acolheria.
Eu nem fazia ideia da extrema importância desse olhar risonho na minha formação. Ele me dava a certeza absoluta de ser amada por ela, não importando o que eu fosse ou o que eu fizesse.
Foi a presença desse olhar risonho que me ensinou a perdoar. Foi ele que me embalou adormecendo minhas fúrias. Me deu luz quando estava cega e perdida. Foi ele que enxugou minhas lágrimas e me aqueceu derretendo a geleira da indiferença, todas as vezes em que ela ameaçou tomar conta do meu ser.
Foi a presença do amor incondicional dessa tia que me “apadrinhou”, acalmando meus medos e mostrando o melhor que havia dentro de mim.
Aquele sonho me remeteu a um tempo em que eu não tinha sido tocada pela gigantesca dor da perda. Um tempo antes que essa prima fosse totalmente reformada pelo início das convulsões e da doença que a fez regredir até não sobrar quase nada daquela companheira que brincava comigo.
Um tempo que antecedeu a morte prematura desse anjo, dessa mãe, que foi minha tia.
E, então, esse sonho revelou a grande saudade que sempre existirá em meu coração, mas também a enorme e infinita gratidão por ter tido o privilégio de ser tocada por esse olhar risonho.
O toque da verdadeira compreensão e amor incondicional.
Escrevo essas linhas na esperança que ao contar sobre essa minha experiência, você também possa descobrir, em sua história, o seu olhar risonho. Seja ele vindo de uma pessoa real, ou de uma criação. E que você possa renascer através dele e amar como ele.

Verônica Dutenkefer

Texto Revisado

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