Dr (muito) estranho

Dr (muito) estranho
Autor Andrea Pavlo - [email protected]
Facebook   E-mail   Whatsapp


Adoro filme de super-herói. Tem sempre ação, aventura, fantasia e uma bonita lição de vida. Você sai do cinema pensando que sim, o mal sempre vai perder e que, sim, existe algo que está nos protegendo, mesmo que saibamos que não é exatamente um homem voando com uma capa.

Mas assisti Dr Estranho nesses dias e percebi que os outrora filmes de ação agora mexem mais com o nosso lado psicológico. Eles exploram essas características nos personagens, são mais próximos de questões que geralmente pensamos, mas raramente elaboramos.

Dr Estranho é um renomado neurocirurgião, daqueles bons mesmo. Tem uma precisão rara nas mãos, faz milagres com pacientes condenados à morte. Por isso acaba ficando famoso, ganhando prêmios e, claro, muito dinheiro. É nessa parte, geralmente, que o ego toma conta. Aquela parte que pensa que, se já tomou tantas decisões certas, dificilmente vai errar. Ele é visivelmente arrogante e prepotente, mas com um charme de "ele pode" que quase nos convence.

Até que acontece um acidente. Ele bate com seu carrão de luxo, dirigindo em alta velocidade, numa estrada perigosa e olhando outras coisas ao mesmo tempo. O carro capota muitas vezes, naquelas sequências maravilhosas que só o cinema nos proporciona, e ele machuca gravemente as mãos. Quando acorda está completamente paralisado, com pinos e mais pinos nos dedos e sem resquícios da sua premiada habilidade. Ele fica com raiva, claro. Não aceita. Começa a procurar todos os meios possíveis pela medicina sem sucesso. Até que, depois de relutar, chega a um mosteiro budista no oriente, onde escuta a frase "sua mente pode curar o seu corpo".

O eterno conflito deus x matéria, religião x ciência. Sua primeira reação é negar, mas qual não é a sua surpresa ao ver que sim, existe algo mais sob a terra. Existem outros conflitos no filme, que não cabem aqui, mas, sim, existe o domínio da mente sob a matéria e isso é algo que se repete em religiões orientais há séculos. A meditação, a mudança nos padrões de pensamento, podem curar doenças físicas e emocionais, assim como mudar a sua vida. Não estou também dizendo que os remédios ou a medicina tradicional ou a ciência sejam descartáveis, é óbvio. Tudo é importante.

O poder que temos na nossa mente e ouso dizer, no nosso espírito, é algo absolutamente desconhecido para nós. Não só por conta de não estudarmos o tema, mas também pela nossa própria arrogância. Quando vemos o Dr Estranho tão apegado aos seus "princípios" e as coisas que ele aprendeu com a ciência e como isso o priva de ensinamentos e mudanças reais em outras esferas, percebemos a nossa própria arrogância. Quando achamos que não temos o poder de mudar algo em nós, que não "conseguimos" determinada coisa, na verdade não estamos realmente "querendo" aquilo. O nosso poder não está em nenhum mosteiro no Tibete. Está sim, num vasto e amplo território dentro de nós mesmos, e não querer ver isso é nos colocarmos numa posição de superiores. Donos de uma verdade que, no fundo no fundo, é só nossa.

Lembrei-me, quando sai do cinema, da minha primeira experiência com a Ayahuasca. Realizei alguns rituais sagrados (não eram do Santo Daime) com essa beberagem há alguns anos (e não, não me lembrei disso somete pelos efeitos especiais do filme, apesar de guardar certa semelhança) e, na primeira vez, tive muito medo. Tomei sem acreditar realmente, de verdade, que aquilo tivesse algum efeito sobre mim. Eu? Uma mulher estudada? Duas faculdades e total controle sobre meus pensamentos e sentimentos? Sou daquelas que nunca conseguiu tomar um porre porque sou forte para bebida, imagina dois dedinhos de “chá de ervas”! Mas quando aquilo começou a agir e querer me levar lá para dentro de mim mesma, entrei num dos piores pânicos da minha existência. Eu sofria, queria sair daquele lugar, um meio de caminho entre a razão e os instintos mais puros. Meu espírito me pegando pela mão e me dizendo "Você quer se conhecer é? Pois é, vou te mostrar o que temos aqui dentro". Uma das experiências mais fantásticas e avassaladoras da minha vida.

Fui levada ao inferno de mim mesma. A toda a minha podridão. Meus piores inimigos internos, meu lado mais perverso, assustado, desonesto. Via-me em situações que jamais uma moça de classe média, criada pela avó, pensaria em estar. Desci do meu pedestal de onipotência infantil rapidinho, entre enxergar o espírito de uma planta e Jesus numa nuvem (sim, também tem a parte que seu espírito brinca com você). Mas quando voltei finalmente eu não era mais um segredo. Eu não era mais o meu ego. Eu era tão grande e completa. Tão imperfeita e tão bem com isso que sabia que poderia qualquer coisa, em qualquer tempo. Sabia que aquela força, aquele espírito poderia me responder tudo, poderia me guiar para onde eu quisesse ir. Poderia me curar do que eu precisasse ou nem me deixar adoecer. Eu me entreguei ao meu espírito e vivo nisso até hoje.

Mas não é fácil. Não é uma guerra do bem contra o mal. É uma guerra entre o espírito e o ego. É uma guerra silenciosa, travada pelo personagem do Dr Estranho, e por todos nós, todos os dias. Existem muitas maneiras de entrar em contato com o nosso espírito e não é somente pela Ayahuasca, hoje eu sei disso. Mas procurar pelo nosso "mosteiro no Tibete", nos despir de nosso ego e entender, de verdade, o que nosso espírito quer de nós é um caminho de pura luz. Onde as trevas serão não aniquiladas porque isso é impossível, mas iluminadas.

Você não precisa de um acidente de carro ou de uma tragédia pessoal qualquer para entender isso. Eu precisei de depressão e síndrome do pânico, mas hoje eu sei que eu poderia ter mudado isso antes. Podemos mudar isso agora. Não vou contar o final do filme, mas vale a pena. Podemos sempre aprender e passar a nos olharmos de maneira diferente. Mesmo que seja matar um leão por dia, dentro de nós mesmos. O importante, a grande lição é que, se existe um mal, ele é somente o que o cega para você mesmo. O medo de se olhar profundamente e ter a coragem de aceitar todos os seus lados, por mais pecadores que possam parecer.

A coragem, a verdadeira, não é se jogar de uma ponte ou combater os bandidos, mas se deixar conduzir pela verdade do seu espírito e se conectar com uma fonte de sabedoria infinita que, depois que você prova, passa o resto dos dias sabendo que é, e sempre será, a única maneira de obter a paz. É a nossa iluminação. Dá um trabalho danado, anos de treinamento árduo e muitas crises de choro. Mas quando estabiliza dentro de nós, é um bálsamo, um analgésico na alma. Aceitar suas dores e suas trevas, sair da arrogância e se entender, profundamente é o que, de fato, torna-nos super-heróis da nossa própria vida.

Texto revisado


Gostou?    Sim    Não   

starstarstarstarstar Avaliação: 5 | Votos: 6



Compartilhe Facebook   E-mail   Whatsapp
foto-autor
Conteúdo desenvolvido por: Andrea Pavlo   
Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

Saiba mais sobre você!
Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.