Ostras jogam pérolas aos porcos

Ostras jogam pérolas aos porcos
Autor Sílvio Reis - [email protected]
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O sonho de “colocar um colar de pérolas no pescoço de cada mulher deste mundo” não será realizado. Com um colar falso, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos jogou pérolas aos porcos. Aquele jantar com o brinco da Cleópatra não seria tão rico atualmente. Banquetes de Luís XV ficaram acessíveis ao povo. Ostras discordam de Rubem Alves e ouvem pérolas de Nana Caymmi.
Ostras são animais que produzem joias. Pelo processo natural, entre milhares de moluscos apenas um gera uma pérola considerada perfeita e rara. Hoje, pérolas cultivadas representam cerca de 90% da produção mundial. A técnica de inserir um elemento no corpo do molusco, para estimular a gema, ganhou seguidores depois que o japonês Kokichi Mikimoto (1858-1954) teve sucesso com o cultivo. Dos 800 moluscos testados, ele conseguiu cinco pérolas, mas não realizou o sonho de um colar para cada mulher.
Há mulheres que preferem brilhar por si mesmas, sem ostentar colar, brincos e bracelete. Identificar-se com a fortaleza de uma ostra pode ser muito mais rico do que usar joias. A ex-primeira-dama norte-americana, Jacqueline Kennedy Onassis (1929-1994) brilhou com pérolas falsas. Tornou-se referência de elegância com um colar de três voltas e brincos de pérola. Poderiam ser originais. Se perdesse, seriam repostos. Ao comprovar que um falso colar é tão belo quanto um original, Jackie jogou pérolas aos idólatras desse poder da sofisticação.
Outro que lançou mão do glamour foi o cão da atriz Elizabeth Taylor (1932-2011). Ele comeu uma pérola do tamanho de um ovo de pomba. Pensou que fosse osso, talvez influenciado pelos poderes medicinais dessa gema, difundindo em algumas culturas. A joia foi presente (e marketing) do ator Richard Burton para Liz, em 1969.
Há um conceito de que a pérola é associada à lua, à água e à mulher. Cléopatra era de lua e valorizou muito bem essa joia, destruindo-a. Mas hoje, em tempos de fabricação em série, a ideia e ação resultariam num jantar de classe econômica na aristocracia. Para comprovar a superioridade do Egito sobre Roma, a rainha apostou com Marco Antônio que daria o jantar mais caro da história. Ela esmagou uma grande pérola de um par de brincos e bebeu o líquido dissolvido. Ganhou a aposta.
Quem perdeu brilho ao longo do tempo foram os banquetes à Luís XV. A pintura “O almoço de ostras”, de Jean-François de Troy, em 1752, registrou a alta gastronomia da época, com champanhe. De valor acessível, povos de diferentes classes sociais, especialmente pescadores, têm acesso a banquetes de ostras com limão, arroz, sopa. A gastronomia ainda insiste na sofisticação.

Indiferença e fascinação
Com o cultivo de pérolas, empresários apostaram nesse fascínio milenar exercido sobre mulheres e homens que nadam em rios de dinheiro. Na liderança mundial, a China produz cerca de 800 toneladas anuais do produto. Países e produtores adotam diferentes métodos de fabricação. Uns seguem as etapas naturais da gema durante uns três anos, outros obtêm resultados em seis meses. Melhorias genéticas idealizam um colar de pérolas no pescoço de mulheres com poder de sofisticação.
Em todos os casos de pérola cultivada, o animal sofre maus-tratos e mudança de habitat, que não resultam em grandes manifestações coletivas, como ocorre com outros animais. Um pequeno molusco sem ossos e o fato de um colar ser resultado de violência e morte de milhares de ostras não sensibilizam tanto.
Muito antes das pérolas cultivadas, houve fartura de simbolismos. Cristo foi a grande pérola que Maria carregou. Indianos acreditavam que só os deuses e os privilegiados podiam vê-las e possuí-las. Ter uma joia dessa natureza já foi proibido, por lei, em alguns países. Para os persas, “furar a pérola da virgindade” era consumar o matrimônio. Como símbolo de imortalidade, chineses colocavam pérola na boca do morto.
Tem ainda belas poéticas sobre o tema. Ostras de origem grega transformam em beleza a tragédia de produzir uma pérola, mas discordam do psicanalista, teólogo e escritor Rubem Alves sobre o título do livro “Ostra feliz não produz pérola”. Sem o sentido figurado utilizado pelo autor, ostras fabricam pérolas e nem sabem o que é felicidade.
Enquanto passam anos ou meses gestando uma ou mais joias ao mesmo tempo, elas ouvem “Pérola”, canção de Sueli Costa e Abel Silva que brilha na voz de Nana Caymmi: “É bem assim a natureza de minha alma / Ferida por dentro / Por fora, calma / Até que possa abrir o peito / E tirar do coração / A joia de um amor”.
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Conteúdo desenvolvido por: Sílvio Reis   
jornalista que está se especializando na interação “homem-animal”.
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