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O tempo da delicadeza

O tempo da delicadeza

por Camilo de Lelis Mendonça Mota
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“Depois de te perder te encontro com certeza
Talvez no tempo da delicadeza
Onde não diremos nada, nada aconteceu
Apenas seguirei como encantado ao lado teu”.

(Todo Sentimento. Chico Buarque – Cristóvão Bastos)  

O espectro da perda é uma constante na vida das pessoas. A perspectiva de que estamos perdendo alguma coisa gera incerteza, causa incômodo e desestabiliza o humor, as emoções e até a própria saúde física. Tal sentimento está relacionado com a nossa necessidade de sermos amados, compreendidos e aceitos, com a satisfação plena de nossos desejos mais profundos. O medo de perder se reflete, hoje em dia, até no campo virtual, quando, por exemplo, surge aquele sentimento de que ninguém leu a sua postagem numa rede social, ou pouca gente curtiu aquela foto que para você é tão significativa.

A perda e o sentimento de posse andam de mãos dadas. Quando se estabelece uma relação com o outro, tendo por base um vínculo em que o poder é mais importante do que o próprio afeto, qualquer afastamento acarreta angústia, que na melhor das hipóteses se reverte em saudade. Ou, pior, perde-se de vez no abismo insondável dos sentimentos mais tortuosos: a angústia de separação, ciúme, nostalgia mórbida de um tempo que não volta mais.
Dentro desse contexto, é importante a busca por uma integração maior entre as várias partes da nossa própria construção psíquica, de maneira a compreendermos o quanto estamos vinculados a imagens que criamos para nossas fantasias e satisfações pessoais. Se nos prendermos somente às imagens, às personas que criamos e as desconectamos da nossa integridade (Self), corremos o risco de cindirmos nossa própria individualidade, desenvolvendo sofrimento através de angústia, neurose, fobias e outros transtornos tão comuns em nosso tempo.

Tudo aquilo que vivemos ao longo do tempo, nossas relações afetivas, nossos encontros com outras pessoas, nossas experiências interpessoais são partes integrantes de nossa estrutura global. Eu sou enquanto o outro também é, e no encontro destas duas almas se molda uma nova vida, que transforma cada um dos envolvidos de uma maneira dinâmica. Quando ambos estão livres, libertos do jugo do poder, e podem se deixar envolver pela força do Amor, há um efetivo desenvolvimento humano. Quando se desenvolve esta compreensão, o sentido de perda se desvanece. É como se o outro continuasse a viver dentro de nós, como parte integrante da nossa personalidade.

Se eu penso numa antiga namorada como parte integrante da minha formação afetivo-humana e a compreendo como componente da minha vida, ela passa a fazer parte do meu Self. Eu não a excluo da minha vida simplesmente porque a relação acabou num tempo passado. Ela continua vivendo em mim, assim como continuam em mim também todos aqueles que foram significativos em tempos diversos, mas que no “agora” não estão frente a frente comigo. Eles permanecem como forças integradoras da minha psique. Negar o outro é negar a si mesmo. Não se pode simplesmente apagar de si tudo aquilo que se é sem se correr o risco de perder seu próprio significado, de perder sua alma. E o mesmo é válido para todo sentimento que se reconheça como negativo ou desintegrado de uma alguma expectativa social. Como afirma Carl Jung, “você não pode se despir de seu pecado e lançar todo seu fardo de lado”.

Chegar ao tempo da delicadeza é reconhecer em si a paz do encontro consigo mesmo, a plena realização do seu silêncio interior, quando as palavras já não são mais usadas para acusar, não estão mais a serviço do Super Eu. Nesse instante, tudo aquilo que estava inconsciente de si passa a ser esclarecido e o sofrimento não perdura. Não há mais perda, pois tudo é movimento e flui. Ainda segundo Jung, “se o inconsciente pessoal for esclarecido, não haverá pressão alguma, e você não será aterrorizado; você fica sozinho, lê, caminha, fuma e nada acontece, tudo permanece ‘apenas como está’, uma vez que você está em acordo com o mundo”.

Texto revisado
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Atualizado em 12/10/2014

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