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Falando sobre saúde mental

Falando sobre saúde mental

por Patricia M. Barros
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Em outro artigo escrevi que estou em tratamento em uma Clínica - Dia, por depressão. Há alguns dias participei de uma reunião na Clínica, com um antropólogo que está fazendo mestrado na área de saúde mental. Ele perguntou o que é saúde para nós, pacientes. Uma das minhas colegas respondeu que é bem estar, físico e psíquico. Deste ponto de vista acho que é difícil que alguém esteja plenamente saudável.

Eu falei que acho que a saúde mental depende da integração de partes rejeitadas de nós mesmos. De fato, se rejeitamos partes de nossa psiquê há uma grande probabilidade de que isto leve à doença… Por exemplo, eu sempre fui muito obediente, não sabia dizer “não”, engoli muitos “sapos” durante a minha vida… Eu sempre fui “boazinha”, mas é claro que isto não é saudável. Estou aprendendo a assumir que sinto raiva, que no fundo não sou tão “boazinha”assim. E isso não é ruim, claro! Em certas situações eu preciso ser “má”… Tenho que me defender, me proteger, não é verdade?

Outra questão que foi levantada é que não podemos separar a saúde mental de um indivíduo de sua relação com a família e com a sociedade. Uma família disfuncional, uma cultura doente podem influenciar para que uma pessoa adoeça. Uma pessoa que sofre de um transtorno mental também pode deixar sua família doente. Nenhum homem é uma ilha, não é mesmo? É claro que influenciamos uns aos outros.

Quanto à influência que a nossa sociedade doente pode exercer sobre nós, é importante reagir, questionar. Este tipo de atitude é saudável para pessoas que sofrem com o preconceito.

Estas reflexões são interessantes, pois podem ajudar pessoas que sofrem de algum transtorno mental a lidar com a culpa gerada pela doença. Racionalmente é fácil chegar à conclusão de que não faz sentido sentir esta culpa. Quem pode ser considerado culpado por sofrer de um problema mental? Mas os sentimentos não têm lógica… As pessoas se sentem culpadas sem ter razão para isso.

Outra reflexão: quem é normal? “De perto ninguém é normal”, disse Nelson Rodrigues. Isso me faz pensar que as pessoas que parecem perfeitas na verdade são “assustadoramente normais”. O que estas pesssoas escondem? Com certeza estes seres humanos escondem pequenos ou grandes problemas. A nossa sociedade cobra que sejamos felizes, “bonitos”, bem sucedidos… bem ajustados. Então os “esquisitos”, os “loucos”, aqueles que estão à margem da sociedade na verdade são saudáveis? É o que o mestre Osho dá a entender. (https://blogdoosho.blogspot.com.br/2011/02/ser-louco-e-ser-sao.html)

Rubem Alves em um de seus artigos observa que grandes pensadores e artistas sofriam de algum transtorno mental (https://www.contioutra.com/saude-mental-uma-sabia-reflexao-de-rubem-alves/). Trata-se de pessoas muito inteligentes e sensíveis, que adoeceram justamente por que tinham uma boa percepção da realidade.

Durante aquela reunião eu também observei que uma pessoa pode estar deprimida porque existe uma parte de sua psiquê dizendo que algo não está bem. E isto é saudável! Esta parte da psiquê que alerta para o fato de que algo não está ok é saudável! É como a dor… A dor é um aviso do corpo, sinalizando que algo não está bem.

A minha intenção ao escrever este artigo foi tentar ajudar pessoas que sofrem de algum transtorno mental a aceitar a sua condição. Afinal, a aceitação é o primeiro passo para a mudança, não é mesmo?


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Atualizado em 10/1/2016

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