O massacre dos eletrônicos!

por Paulo Salvio Antolini

“Não consigo mais viver desconectada”, foi com essas palavras que iniciou seu relato, pois o “vicio do celular” tinha acabado com seu namoro.

Eramos em seis pessoas. Nos cotizamos e alugamos uma casa na praia para passar as festas de fim de ano. Todas conhecidas e com agradável relacionamento. Quando da chegada tudo foi alegria e conversa. Os dias que se seguiriam prenunciavam bons momentos. Mas rapidamente percebemos que isso não aconteceria, pois quatro pessoas das seis se apresentavam ao lugar comum da casa, cada um com seu celular.

Poucas conversas seguidas de longos silêncios dedicados ao lerem suas mensagens, verem seus facebooks e soltarem comentários que para os demais não faziam sentido, pois estavam vendo mensagens diferentes. Se alguém perguntava a respeito o emissor as vezes nem escutava. Na praia, tenda alugada para todos os dias de nossa permanência, o quadro era o mesmo: celulares nas mãos. Vez ou outra uma entrada na água e volta para o aparelhinho.

Observando ao redor notei que alguns poucos apenas não estavam agindo assim. Verdadeiro formigueiro humano e os celulares fazendo o maior sucesso.

“Não consigo mais viver desconectada”, afirmação de quem não mais se conecta com as pessoas que estão ao seu redor.

No grupo em que me encontrava um se comunicava com o outro pelo aplicativo watzap e pasmem, repentinamente um caia na risada e olhava então para quem tinha enviado a mensagem, que já estava teclando em outras paragens, nem respondendo aos comentários feitos. Um ao lado do outro. Aparentemente tão pertos e a quilômetros de distância.

Fiz então a escolha de na maior parte do tempo ficar em meu quarto, com agradável temperatura fornecida pelo ar condicionado, lia ou mesmo escrevia. Em alguns momentos em que nos cruzávamos me perguntavam se estava tudo bem, se não estava gostando de algo, ao que respondia que tudo estava bem, mas a vontade era dizer que não queria atrapalhar a interação deles com as maquinetas. Em um ou outro momento até fiz referências ao fato, o que de nada adiantou.

Quando uma das pessoas chamou a atenção ao comportamento do grupo, ocorreu uma transformação. Deram-se conta do que estavam fazendo e modificaram seus comportamentos, deixando os “aparelhinhos” em paz. Quatro dias haviam passado, mas só então o convívio começou e foi ótimo.

Há pouco tempo um cliente perguntou-me o que poderia fazer para tirar um amigo da frente da TV, com seus jogos de lutas. Responsável no trabalho, mas separado exatamente por ter se fixado apenas em seus consoles de jogos. Após sua separação conheceu várias pessoas e com nenhuma permaneceu, pois queria que elas ficassem ao seu lado enquanto ele tinha sua atenção só para os jogos. Pagava todas as suas contas e com o restante de seu salário investia tudo em equipamentos e jogos.

“O vicio da Internet já tem nome de patologia desde 1995, aproximadamente. Conhecido como TDI – Transtorno da Dependência a Internet, surge quando as pessoas passam a fazer um uso compulsivo da internet, substituindo outros prazeres e atividades pelo “navegar”. Foi assim que iniciei o artigo “Viciados na Internet”, isso em 2.007.

De lá para cá muito se agravou, pois o que antes só era possível em computadores, hoje através dos celulares se acessa qualquer site ou aplicativo. “Os meios de comunicação eletrônicos estão aproximando os distantes e distanciando os próximos!”. Triste verdade. Há hoje especialistas na área do comportamento para tratarem dessas compulsões.

Hora de se rever o próprio comportamento e começar a se disciplinar no uso desses equipamentos. Eles por si só nem são bons e nem são ruins. O uso que se dá a eles é que os classificam.

Quando tomarmos consciência de que nada substitui o olhar diretamente nos olhos do outro, muito mais as pessoas estarão se aproximando e desfrutando de suas convivências.