A percepção da ação e da presença dos Opostos
em nossa vida psicológica é o primeiro passo no caminhar da consciência
em busca do auto conhecimento. NINGUÉM que seja unipolarizado pode perceber
com clareza nem a si mesmo nem a ninguém. Conseguir clareza e abertura
de visão para a compreensão do OUTRO é um desafio portentoso
para os nossos EGOS (Arquitetos da Realidade ), acostumados que estão em
se comprazer de suas próprias criações. Confrontamos o mundo
que nos chega com nossos "próprios e pessoais" pontos-de-vista
(com origem nas experiências individuais ou coletivas) e, no mais das vezes,
rejeitamos tudo aquilo que não nos sirva, tudo aquilo que seja diferente,
não familiar, desconhecido, estranho, incompreensível... Assim rejeitamos
-"com a maior naturalidade"- possibilidades de experiência, valores,
estéticas, concepções, visões, experiências
que pessoalmente não tivemos e que assim não podemos compreender,
nem aceitar, nem entender ou nem mesmo tolerar... Não apenas rejeitamos
"concepções" mas pessoas, instituições,
raças, práticas religiosas, teorias e/ou sistemas políticos,
torcedores do time adversário, soldados do exército inimigo, nosso
cônjuge, nossos familiares, nossos ex-amigos, nossos ex-tudo...
Ao nos afastarmos daquilo que nos incomodou, ao rejeitarmos sua existência
e seu sentido, podemos assumir duas posições antagônicas a
saber:
1) A passiva, que se traduz pelo reflexo de nos afastar do es-timulo desagradável
e
2) A ativa, que nos leva a atacar e destruir o objeto, pessoa ou instituição
ameaçadora (....da santa paz de Deus em nossas vidas).
A história da humanidade é a história de um combate incessante
entre antagonismos e separativismos egóicos (o que quer dizer, preconceitos
de percepção e de julgamento oriundos da experiência pessoal,
mas também predisposições de ser, sentir, pensar e agir de
origem social / familiar / coletiva, ou seja, adquiridas e desenvolvidas nos lugares
em que nascemos e crescemos). Através do empenho sempre redobrado de nossa
consciência, vale o esforço para transcendermos estes "pontos-de-vista
locais", do nosso sistema de crenças adquirido e um dos mais altos
degraus do entendimento é o de CONSEGUIR RELATIVIZA-LO.
Em alguns sentidos este é o único recurso palpável que a
nossa consciência tem - e terá - para aplacar o acirramento dos ânimos
e possibilitar a convivência dentro do âmbito de qualquer coletividade.
Contudo assim que se desenvolvem e se estabelecem estes folclores perceptivos,
temos os nacionalismos, os antagonismos de natureza racial, classista, política
ou religiosa. De uma esfera pessoal, passamos para uma esfera maior, mais ampla,
abarcando um horizonte mais extenso, mas sempre há uma fronteira onde se
delimita o FAMILIAR e, para além dela, reside a dimensão do OUTRO,
do diferente, do ameaçador, do inimigo. Assim são, no mais das vezes,
percebidas e julgadas as Polaridades ( Dimensões / categorias / qualidades
) opostas àquelas com as quais nos identificamos.
Se assim é no âmbito pessoal também assim se comporta a Psique
unipolarizada perante o OUTRO. Quer este outro seja um cônjuge, um outro
tipo psicológico, um país ou uma organização oponente,
o mesmo fenômeno se repete. Não me consta que se possa fazer qualquer
alteração ou manipulação psicológica nos conflitos
entre países e raças, então, por enquanto o objeto que pode
ser "tratado e curado" é o âmbito das relações
interpessoais. E aí temos os relacionamentos, suas decorrências,
seus palcos, suas cenografias, seus papéis, suas características
de espaço / tempo históricos.
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Sobre o autor
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.