A maldição de Deus

Autor Vera Bassoi - [email protected]
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“À mulher, disse Deus: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio a dores dará à luz os teus filhos; o teu desejo será para o teu marido e ele te governará”. E a Adão, disse: “Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos (espinhos) e abrolhos e tu comerás a erva do campo. Com o suor do rosto comerás o teu pão até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”.
Gênesis – A queda

Sem dúvida alguma, a simbologia dos textos bíblicos tem diversas interpretações. Quero contribuir com mais uma sem a pretensão de afirmar ser a mais correta, porém, que seja considerada sob um ângulo diferente, sob uma visão transpessoal do ser.

Na “Carta aos Romanos” Paulo, o apóstolo, afirma que toda a humanidade está por natureza sob a culpa e o poder do pecado, sob o reino da morte e sob a inescapável ira de Deus. Ele relaciona a origem desse estado ao pecado de um homem – Adão – que ele descreve como nosso ancestral comum.

Deus colocou Adão num estado de felicidade e prometeu a ele confirmá-lo nesse estado permanente se, e somente se, Adão mostrasse fidelidade e obediência não comendo do fruto proibido da “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Aparentemente, salta aos nossos olhos o grande teste a que Adão foi submetido: será que Adão aceitaria que Deus lhe determinasse o que era bom e mau ou procuraria decidir por si mesmo, independentemente do que Deus lhe havia dito?

Adão levado por Eva, que por sua vez foi induzida pela serpente, afrontou a Deus comendo do fruto proibido. Como conseqüência, primeiro de tudo, a disposição mental que se opõe a Deus e se engrandece a si mesmo, expressa na desobediência de Adão, tornou-se parte dele e da natureza moral e espiritual que ele transmitiu aos seus descendentes: “o pecado original”.

Em segundo lugar, Adão e Eva foram dominados por um senso de profanação e de culpa que os levou a ter vergonha e medo de Deus (conheceram que estavam nus). Em terceiro lugar, eles foram amaldiçoados com expectação de sofrimento e de morte e foram expulsos do Éden. Ao mesmo tempo, contudo, Deus começou a mostrar-lhes a graça salvadora. Fez, para eles, vestimentas que cobrissem sua nudez e prometeu-lhes que, um dia, a Semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Essa promessa prenunciou a vinda de Cristo.

Foi necessário que houvesse a “tentação” para que Adão e Eva exercitassem o seu poder de decisão pessoal – o chamado “livre-arbítrio” – e também ficou muito evidente que Deus não interferiu na tomada de decisão. Sim, Deus nos deu o livre-arbítrio e, sem dúvida, nem Ele próprio e nem ninguém poderá interferir. Este é um dos maiores aprendizados que o ser humano necessita assimilar: cada um é responsável pelos rumos da sua própria vida, pelas conseqüências dos seus atos, pela sua evolução espiritual.

Ao expulsar Adão e Eva do Paraíso, o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, para que não estenda a mão e tome também do fruto da árvore da vida e o coma para viver eternamente, os lanço fora do Jardim do Éden”. E Deus colocou querubins ao oriente do Jardim para guardar o caminho que leva à árvore da vida.

Pois bem, Deus deu a inocência, a felicidade e a paz para a sua criatura, mas deu-lhe também o livre-arbítrio. E, assim como Adão, todos nascemos no contato direto com a nossa essência, com o nosso self, onde reside o hálito de Deus, o mesmo sopro de vida que nosso ancestral recebeu. E é aí que a Mente de Deus e a nossa mente se encontram e se tornam UMA só; e é aí que o homem, assim como Deus, é conhecedor do bem e do mal.

À medida em que vamos crescendo, vamos fazendo uso do nosso poder de escolha e, sem que tenhamos consciência, o nosso ego vai tomando conta de nós, vai inflando, crescendo, dando-nos a ilusão de sermos os donos do mundo e, desse modo, vamos nos afastando de Deus.

Conforme a vida vai nos mostrando os percalços, as dificuldades, passamos a nos sentir abandonados, medrosos, inseguros e, então, culpamos Deus por nos haver abandonado. O vazio toma conta do nosso peito, da nossa vida, e começamos a perguntar: “Por que? Por que isso está acontecendo comigo?” E a resposta não vem e jamais virá de fora para dentro. A resposta está dentro de nós mesmos. Está lá na nossa essência divina, lá onde a nossa mente e a Mente de Deus se encontram e se fundem.

E então, por que os sofrimentos e as dificuldades? Simplesmente porque nos esquecemos da maldição de Deus a Adão e Eva, mas também, nos esquecemos do caminho da redenção proposto por Cristo, para nos levar de volta à casa do Pai: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.

E que caminho é esse?

É o caminho para dentro de si mesmo. É a nossa via sacra com seus mistérios dolorosos e seus mistérios gloriosos. É um caminho torturante e que, para perseguí-lo, é necessário muita fé em Deus e em si mesmo. É necessária muita coragem para se desarmar e deixar das proteções que o nosso ego, desde cedo, se encarregou de nos arranjar. Todos nós, seres humanos, descendentes de Adão e Eva, somos atingidos pela maldição de Deus.

Aqui se faz necessário relembrar que na Bíblia a linguagem é simbólica, que Adão e Eva e sua expulsão do paraíso e a maldição de Deus, são apenas e tão somente, metáforas para se transmitir as mais belas mensagens que vêm do Plano Divino.

Assim sendo, neste momento de lucidez e de certeza quando tudo é como deve ser mesmo, quero dizer o que parecerá, à primeira vista, uma grande incongruência: louvemos a benfazeja maldição de Deus!

Escrito por Vera Bassoi
Psicoterapeuta, Psicanalista Transpessoal e Pós-Graduada em Psicossomática.
Especialista em "Constelações Sistêmicas" também conhecida como "Constelações Familiares", e especialista , também, em "Eneagrama". Se quiserem informações sobre essas duas especialidades, basta visitar o site do autor e lá encontrarão as informações nos artigos que possuem a mesma denominação.
Em 1996 criou o curso-terapêutico "As Chaves para o Autoconhecimento".
Em 2005 criou a "OFICINA PARA A PAZ INTERIOR". É uma proposta que visa formar multiplicadores. Aqueles que estiverem interessados em levar essa oficina para a sua comunidade, é só entrar em contato através do e-mail [email protected]




Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Vera Bassoi   
Formada em Sociologia, Ciências Naturais, Psicologia Transpessoal, Psicanálise e especialista em Psicossomática. Desde 1971 é professora universitária e de pós-graduação. Fez Mestrado em Comunicação e Cultura e sua tese foi sobre Constelações Familiares. Em 2020, tem seu próprio curso "Pós-Graduação em Constelação Familiar" cujas aulas são online
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