Espiritualidade - experiência espiritual da nossa entrega

Espiritualidade - experiência espiritual da nossa entrega
Autor Marcos F C Porto - [email protected]
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Entrega é a essência de toda prática espiritual; nenhum caminho é mais poderoso ou profundo. Mas o que é entregar-se? E o que isso não significa?

Vamos então refletir sobre o tema?

Entrega é muitas vezes mal-entendida, resumida a algumas afirmações sobre ‘deixar acontecer’, acrescentado de três ou quatro orientações, usadas como instrução de autoajuda. No entanto, em nosso mal-entendido com nossas mentes vacilantes, na tentativa da entrega, drenamos a importância do verdadeiro milagre que é.

Algo surpreendente acontece quando nos entregamos e amamos. Nós nos fundimos com o reino do Poder Maior já conosco. O mundo se transforma quando nos autotransformamos. O mundo nos ama quando amamos o mundo.

Entrega não é, e não pode ser entendida como falha ou derrota, punição, decisão de ‘deixar acontecer’, desistência da tarefa à qual não podemos realizar, seja com nosso corpo, mente, ou situação em que não queremos nos envolver.

Ato de entrega é, para todos nós, quando em algum momento de nossas vidas, nos encontramos em situação de dúvida, ultrapassando nossos limites. Às vezes, é uma situação com a qual estamos vivendo há muito tempo, ou evento repentino que nos domina e para o qual nossas habituais estratégias racionais de enfrentamento se mostram inúteis. Embora ambos os conteúdos possam diferir, o que essas experiências compartilham é o poder de nos colocar figurativamente de joelhos, e muitas vezes também até no sentido literal da expressão. É o poder de nos autotransformar! Faz sentido?

Nossas mentes tentam controlar tudo com o que entram em contato, isso é a natureza delas e devemos agradecer por isso, porque queremos ser felizes, e fazer o melhor de nossas vidas. Neste sentido, temos estratégias elaboradas e aparentemente intermináveis para tentarmos garantir que nossas vidas contenham as experiências que queremos e não as que descartamos. Nossas mentes irão lutar, rejeitar, ignorar, empurrar e manter mecanismos para alterar as situações que não queremos. Então, chegada a hora, aquela situação, a qual não podemos continuar lutando, seja porque é muito dolorosa, ou porque sabemos a nível de Corpo-Mente-Alma ser impraticável continuar e, então, outro caminho ainda não conhecido para nós é necessário.

A experiência espiritual da nossa entrega começa onde todas as outras estratégias terminam. Mas entrega não é uma estratégia; é exatamente ausência de estratégias.

Na entrega, não antecipamos se o que está por vir será melhor, mais confortável. Tudo o que sabemos é que não podemos mais continuar assim, do jeito que estamos sentindo, pensando, agindo, por mais algum momento que seja. Não entregamos a vida a cada instante. O que é vitalício só pode ser entregue uma única vez em toda a vida.
Mas o mais surpreendente é que quando a entrega se apresenta, é acompanhada pela grande sensação de tranquilidade e paz. Correto?

Misticamente, algo em nosso interior relaxa, quando reconhecermos que não sabemos como fazê-lo, ou qual o caminho. Sentimos que algo superior vem ao nosso auxílio, quando concordamos nos entregar ao Poder Superior Maior, o incognoscível, ou à nossa própria Verdade ainda desconhecida.

Thomas Merton (1915-1968) monge trapista, escritor, poeta, nos diz: “Entregue sua própria incerteza e reconheça seu nada ao Senhor Deus. Quer você entenda ou não, Deus ama você, está presente em você, vive em você, habita seu coração, lhe chama, lhe salva e lhe oferece compreensão e compaixão que são como o que você jamais encontrou em livro algum e ouviu de alguém”.

Quando nos entregamos, desistimos, dos meios, mas não da maneira como pensamos desistir.
Nós não desistimos da situação, mas sim da noção de que podemos controlá-la - desistimos da crença de tornar a realidade diferente do que é.

Entrega, quando somos agraciados com isso, é um verdadeiro presente. Quando finalmente reconhecemos, então nos damos a oportunidade de sentir o rio da vida nos carregando, levando-nos aonde precisamos ir. Muitas vezes, quando a entrega acontece, não acreditamos que algo nos cuide, nos carregue ou nos mostre o caminho, e é isso que torna entrega tão inimaginável. Nos entregamos porque felizmente expressamos nossa confiança. Quando finalmente ‘soltamos as rédeas’, reconhecendo nosso não saber, a oportunidade mais notável aparece – experimentar diretamente apoiado pela Fonte Maior de sabedoria, o que podemos chamar de Graça Divina, que uma vez experimentada, jamais poderá ser desconhecida. Está claro?

Então, por que refletirmos sobre algo que simplesmente acontece?
Caso a entrega só se manifestasse quando todas as outras estratégias já foram esgotadas, então, por que nos incomodarmos? Será que esperamos pela chegada bem-vinda, ou há algo que possamos fazer para acontecer?

Podemos praticar a experiência espiritual da nossa entrega em menor escala, nos momentos certos, antes das situações críticas, o que só nos ajudará naqueles momentos em que até mesmo nossa resistência em praticar a entrega seja dominante.

Para praticar, simplesmente nos entregamos ao que é - no aqui agora! Nos entregamos em nossa experiência direta, ao que estamos sentindo e vivenciando no momento. Aceitamos sentir a vida, como é agora, sem que nossa mente acrescente, retire, interprete, manipule ou aja de outra forma.

Peçamos e façamos o convite a nós mesmos: “Como será o agora, se eu deixar tudo ser como é?”  “Fazendo nada, qual é a minha real experiência neste momento?"

Sintamos isso no nosso aqui-agora!
Voltaremos ao assunto.

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Conteúdo desenvolvido por: Marcos F C Porto   
Marcos F C Porto – Terapeuta Holístico - Psicoterapia Holística Transpessoal – CRT 44432, Diplomado em ITC - Integrated Therapeutic Counselling, Stonebridge, UK, trabalha auxiliando pessoas na busca da sua essência, editor do OTIMIZE SEU DIA! há 23 anos, autor do livro - Redescobrindo o Eu Verdadeiro, facilitador de Grupos de Reflexão há 20 anos.
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