ASSALAM ALAIKUM

Autor Christina Nunes - [email protected]
Facebook   E-mail   Whatsapp




Nesta retomada da redação de artigos depois de bastante tempo, quero inaugurar a nova fase comentando sobre algumas mudanças que se evidenciam, em mim como certamente nos assuntos publicados, para quem já conheça meus textos e livros, bem como para quem me leia pela primeira vez.

Quem me acompanhou durante os anos em que publicava sobre Espiritismo e Espiritualismo, talvez logo de saída se surpreenda e questione, do mesmo modo como vem acontecendo com alguns da minha convivência mais prolongada. Por que a autora mudou? Por que, sendo espiritualista, abraçou o Islam? Afinal, se trata de universos sem nenhum ponto de contato.

É precisamente nesta questão que reside o maior engano, assim, quero explicar com objetividade, já que é o desejável para este espaço, que não admite um tratado distinto sobre ambos os temas. Melhor uma síntese, que demonstre a insuspeitada convergência determinante da minha decisão, e esclareça que não existe a contradição gritante aparente à primeira vista, pois agindo assim, conservei para mim a essência do que realmente importa durante a nossa permanência neste mundo denso.

O Espiritismo Kardecista é cristão; do mesmo modo como o Islam venera Jesus como grande mensageiro divino, embora nivelado aos demais mensageiros que nos visitaram com o mesmo propósito - não como o filho único de Deus, ou como o próprio Deus. Também Maria, mãe de Jesus, é venerada em sua missão de traze-lo ao mundo, e note-se que no Alcorão Jesus é citado em um número de vezes ainda maior do que o Profeta Muhammad (swas).

Assim também como o Islam tem como pilares a convicção do Deus único; a prática da caridade, preferencialmente anônima; o hábito da oração, o jejum no mês do Ramadã. Reconhece o profeta Muhammad (swas) como o último portador da mensagem de Deus, assim como exige respeito pelos missionários anteriores. Ensina a continuidade da vida após a morte, em condições que obedecerão à submissão do habitante deste mundo à vontade de Deus, para o benefício da própria vida.

Em linhas gerais e principais, portanto, não existe divergência entre o que orientava os meus valores pessoais antes e agora. É o que se pede para que vivamos cultivando concórdia e harmonia com o próximo, e para que deixemos este mundo em situação de paz de consciência para com os propósitos divinos.

Importante realçar a identificação pessoal completa de princípios que me encantam nos ensinamentos do Islam a respeito da mulher; mas para compreender isso, já de saída, se faz necessário liberdade de pensamento e bom senso, que nos permitam o desapego dos clichês inventados pela mídia com propósitos bem determinados.

A mulher, ao contrário do que se dissemina amplamente, não é oprimida. Nem pelo Islam, nem por seu marido. Ao contrário, é considerada uma jóia valiosa a ser respeitada. Com o Islam, consolidou seus direitos, anteriores mesmo às datas das maiores conquistas femininas nos países ocidentais, a exemplo do Brasil, e a julgar, para exemplo, a primeira universidade do mundo fundada por uma mulher muçulmana, Fatima, a Al Quaraouiyine, em Fez, em 859 no Marrocos. A mulher muçulmana, portanto, tem respeitados os seus direitos a estudo, trabalho, e à autossuficiência financeira. E o seu véu, o hijab, em hipótese nenhuma é símbolo de opressão, como querem fazer crer. Trata-se, antes, de liberdade de escolha, da sua identidade, que exibe orgulhosamente, por refletir os valores de dignidade e de respeito a Deus.

Importante ressaltar que opressão, feminicídio e todo tipo de violência são fatos deprimentes que ocorrem em decorrência de um profundo estado de ignorância presente em pessoas ou em coletividades. Não são atributos exclusivos de uma só religião, ou um só país, ou continente.

E é peculiar que para a mulher muçulmana a alegada opressão esteja representada justamente pelo padrão de vestimentas da mulher ocidental, com um excesso de exposição corporal sinalizadora de um apelo excessivo pelo domínio da sexualidade, segundo um parâmetro mercantilista masculino, que banaliza e comercializa a mulher como objeto de consumo e de erotismo fácil.

Além do mais, o uso do hijab trata-se também de questão de escolha sobretudo em países ocidentais, e são respeitadas as circunstâncias peculiares de cada lugar que leva a mulher a ambientes profissionais distintos e à conveniência ou inconveniência do seu uso, em determinados casos.

Em nenhum dos casos, porém, é justificável o desrespeito e a agressividade gratuita. Primeiro, porque com a propaganda enganosa massiva da mídia o real significado e valor do uso do véu não são levados ao conhecimento popular de um modo geral; em segundo, dada a grande contradição de que o uso do véu sempre existiu na citação dos textos religiosos bíblicos, e se as muçulmanas são alvo de preconceito pelo seu uso, as católicas em nenhum momento foram ou são alvos das mesmas agressões, desrespeito ou definições pejorativas aplicadas às mulheres no Islam.

Essa conjuntura, lógico, linka à temática terrorista. Porque, lastimavelmente, um grupo minoritário e distinto que distorce os ensinamentos do Alcorão para a prática da barbárie, de modo algum endossada pelos muçulmanos ou no Alcorão - como, aliás, já aconteceu ao longo da história em várias outras correntes religiosas, a exemplo da caça às bruxas e das cruzadas católicas - leva todos a, de roldão, estigmatizar todo e qualquer muçulmano como praticante de terror, dando margem a acontecimentos deprimentes de teor xenofóbico e racista se alastrando diaria e incessantemente ao redor do mundo.

É apenas mais um episódio crasso de injustiça no repertório triste dos equívocos da história humana, em que essas coisas se repetiram somente em épocas, lugares e em atmosferas religiosas distintas.

De raízes kardecistas, portanto, grandemente contraditório seria que, dando mostras de perverter valores sagrados que me orientaram a vida até aqui, eu abraçasse uma religião que pregasse exatamente o contrário de todos os princípios familiares com os quais sempre convivi. E é por essa razão que, estudando o Alcorão, convivendo com muçulmanos, conhecendo as sunah do Profeta Muhammad (swas), e, aos poucos, a jurisprudência do Islamismo, afirmo com tranquila convicção que, em essência, os mesmos princípios que nutriram meu espírito até então, os encontrei na nova orientação.

E confirmo a cada dia, com encanto confesso, que não era por acaso a minha identificação espontânea, já existente há muitos anos atrás, com os ensinamentos Sufis, a doutrina das areias, lendo Rumi, Rabindranath Tagore, as histórias de Nasrudin na época em que praticava os grupos de meditação orientados pelos ensinamentos de Rajneesh.

É com grande reconforto, assim, que identifico no Islam e nas linhas veneráveis do Alcorão os mesmos ensinamentos luminosos trazidos pelos mensageiros anteriores, e encontrados na Bíblia, nos Novos Evangelhos e nos Salmos. Bem como em várias doutrinas nobres com origens em diversificados continentes do mundo, em Buda, como em Krishna, e nos atos dos apóstolos.

Nem uma só palavra que endosse terror ou barbárie! Em nem uma só frase, ou contexto Corãnico justamente apreciado!

"Não fazer ao outro o que não quer para si mesmo. Amar ao próximo como a si mesmo. Só existe um Deus, viemos dEle e a Ele retornaremos. Levaremos daqui para a continuidade da vida eterna o que fomos e somos em amor." Nada mais - nada! - do que julgamos possuir nesta vida fugaz, acontecendo em um intervalo entre um infinito e outro!

Sou muçulmana, portanto, e continuo certa da continuidade da vida, e da semeadura com respectiva colheita, segundo os mesmos preceitos divinos.

E, sim, trabalho, toco e ouço música, vejo filmes e tv, leio, tomo cafés com minhas amigas...

E - não! - meu marido não tem quatro mulheres! Esse é outro ponto propositalmente vendido de maneira equivocada! Existem países, culturas distintas onde essa prática existe. Mas isso não quer dizer que em um país ocidental uma muçulmana revertida tenha que aceitar obrigatoriamente o marido se casando com quatro esposas. 

Ele mesmo pode não querer. E se a primeira não consente, em muitos casos isso é assentado assim. O profeta Muhammad (swas) diz certamente que se o homem não tem meios de se dedicar com justiça a mais de uma esposa, melhor será que fique apenas com uma.

E - ah! sim! Uso o hijab (véu)! Vaidosa e orgulhosamente, véus lindos que embelezam e valorizam a feminilidade, e que se compatibilizam perfeitamente com virtudes em que sempre acreditei, em favor da dignidade de uma mulher sinceramente valorosa! E também, em nenhum momento fui obrigada a isso por meu marido, como também ele não me obrigou a reverter - isso porque o homem muçulmano pode se casar com uma mulher de outra cultura ou religião, e a mulher, neste caso, não é obrigada a reverter.

Ao contrário do que se pensa, há grande respeito e tolerância nos princípios do Islam em relação a todas as culturas e diferenças raciais e religiosas.

E eu quis, sim, reverter, plenamente identificada com a grande nobreza do Islam e dos seus ensinamentos! Um novo espelho do que sempre compreendi como necessário para um mundo mais justo, mais feito de paz!

E Islam quer dizer PAZ! Submissão a Deus!

Meus textos anteriores permanecem, porque não me foi exigido abrir mão do meu passado. Considero-o sagrado, belo, abençoado por Deus, com todas as vivências e ensinamentos que, sem eles, não teria chegado até aqui. Assim, os mantenho, para leitura e apreciação.

Aos queridos que me leem a partir de agora, prossigo oferecendo sinceros votos de paz.

Assalam Alaikum! 

(Que a Paz esteja sobre vós!)


Gostou?    Sim    Não   

starstarstarstar Avaliação: 4 | Votos: 4



Compartilhe Facebook   E-mail   Whatsapp
foto-autor
Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

Saiba mais sobre você!
Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.