O Menino da pá virada

O Menino da pá virada
Autor Wilson Francisco - [email protected]
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O relógio marca 17h55min.
Estou sentindo calafrios, e não é do tempo, se um pouco frio, estou de blusa de lã e um blusão por cima.
Foi a cena que eu vi. Eu estava com o Luisinho nos braços, ele muito leve, magro e desfalecido com a cabeça tombada para baixo, e meu braço esquerdo segurando-o pelas pernas abaixo dos joelhos; então, ele estava com as pernas dobradas, e minha mão direita o pegava por baixo dos ombros e impedindo os braços dele caírem, muito magro e desfalecido, com a cabeça tombada; vestia um pijama com listras finas e com a blusa desabotoada, mostrando os ossos claviculares.
O lugar era uma espécie de concha ovalada, como um hangar de avião, mais pequeno, e havia uma distância de onde eu estava com ele na entrada da concha. Não era muito alta e as paredes eram firmes, porém, eram como de um elemento vaporoso. Havia uma passarela que eu supus ser de uns 15 metros até o fim da concha. E eu caminhei até lá, onde estava um espírito nobre com manto branco e eu não via o seu rosto por causa da luz branca que emitia, desde o pescoço para cima. 
 
 Eu sabia que ele me receberia, e eu andei devagar com o Luisinho nos meus braços, até bem perto daquele espírito que, então, levantou a mão direita para mim. E eu me ajoelhei diante daquele espírito e entreguei o Luisinho para ele abençoar. E eu só ouvia a frase de Jesus, saída de não sei onde... “O perdão cobre a multidão de pecados”.
Teria sido o Irmão Azul?...
Minha reação foi tão brusca que eu me vi no meu sofá aqui, tremendo de frio.
Tentei desenhar o que vi e não consegui, procurei alguma figura na internet que se relacionasse ou tivesse semelhança, e nada.
 
Agora são 18h10min.
Voltarei depois para corrigir este escrito, pois estou ainda fora de mim.
Denir.
 
Agora estou melhor e vem a lembrança de como conheci o Luisinho. 22h10min.
Um dia lá, na prisão, ele pegou um livro na biblioteca que o Círculo dos Missivistas Amigos doara, e passara pelas minhas mãos; dentro, havia um impresso com o endereço do CMA, oferecendo amizade para correspondência. O endereço era a minha caixa postal aqui em Volta Redonda. Isso foi lá pelos anos 73, e ficamos amigos.
Eu fazia palestras na Penitenciária onde ele estava e, sempre de castigo, não podia ir ao salão de palestra. Falei com o diretor, que apreciava  a ação do CMA e me conhecia, eu tinha carteirinha autorizada, pelo DESIPE (Departamento do Sistema Penitenciário de São Paulo), e por isso eu podia entrar em qualquer penitenciária de todo o estado de São Paulo, Assim como tinha Carteira do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro e de Goiás.
O diretor, então, o retirou do castigo, e lá foi ele para o salão de palestras, ficou sentado na primeira fileira de cadeiras para me ouvir.
Eu, certamente intuído, falei da fraternidade e união universal e nada de Espiritismo.
E, de repente, eu pedi a todos os apenados que estavam ali, que recebessem o Luizinho com o carinho que eu o estava recebendo, pois eu o amava muito.
E eu me lembro como se fosse hoje: Lusinho abriu o blusão de frio que vestia, levou-o até a cabeça se cobrindo e chorou de emoção e eu também chorei ali mesmo. E, então, Gilberto Aielo, que coordenava os palestrantes espíritas, me puxou e falou no meu ouvido:
“-Você não poderia dizer isso, esse pessoal aí são todos criminosos. Não vão entender nada...” 
 
E, nisso, eu ouço palmas daqueles presos que chegavam a 70 ou 90 ao todo, não lembro direito, que era a quantidade de cadeiras que cabiam ali.
Eles já me conheciam de outras palestras, eles amavam Natércia, pois eu tive a liberdade de levar um gravador com a voz dela, cantando e falando errado, como criancinha que era. Isso foi no final de 1974.
 
Irmã Mônica (uma freira bondosa do Paraná que se correspondia com ele, pois fazia parte do CMA) dizia que aquele menino, Luisinho, era da pá virada, pois a punha doida com o vocabulário dele.
Mas Lusinho a respeitava e contava do tudo o que ele fora e era agora como encarcerado.
O CMA, não tinha bandeira religiosa, era apenas fraternidade sincera.
Não era só eu que fazia palestra lá na penitenciária.Hoje, vivos eu sei de Wilson Francisco, que faz parte do grupo “Somos Todos Um” e Wilson Garcia que é um grande escritor espírita. Ambos podem ser localizados no Google.
Lá naquele salão, eu vi o que Jesus dissera de que Ele não viera para os sãos, pois parecia que os palestradores flutuavam, e todos os presos obedeciam.
Entrávamos lá com todos os nossos pertences, carteiras de identidade, dinheiro, canetas, e tudo o mais, e nada nos era tirados quando nos abraçávamos.
E quando eu chegava na Casa do Wilson Francisco ou da Tânia, à noite, e tirava o paletó, os bolsos estavam cheios de bilhetes para as famílias de cada um que metia aquilo nos meus bolsos.
 
No dia seguinte, num furgão dirigido pelo Walter Venâncio, que era espirita e funcionário da Penitenciária, lá íamos nós, Venâncio, eu e Wilson Francisco, para aqueles bairros longe do centro, e algumas favelas, levar os bilhetes e bater um papo com os familiares dos presos.
 
Conto isso, porque me emociono muito, e para relembrar de que eu não preciso mais ensinar ninguém a amar.
Temo apenas que Luisinho esteja a morrer....
Um menino, lá dentro dele, e hoje escritor e teatrólogo, para poder sobreviver.
E agora, quando o amanhã vem chegando, eu peço aos espíritos bons que não o desamparem, aqui nessa matéria de viver, ou no lado de lá tão próximo....
Denir
Volta Redonda 08 de Abril de 2020, 23h:30min. Nessa hora, liguei pro Denir: o nosso Luizinho morreu...
 
Wilson Francisco 


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Conteúdo desenvolvido por: Wilson Francisco   
Terapeuta Holístico. Desenvolve processo que faz a Leitura da Alma; Toque Quântico para dar qualidade à circulação e aos campos vibracionais; Purificação do Tronco Familiar e Cura de Antepassados para Resgatar, Atualizar e Realizar o Ser Divino que há em você. Agendar pelo WhatsApp 011 - 959224182 ou pelo email [email protected]
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