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Diga-me o que você quer e eu lhe darei o que você precisa

Diga-me o que você quer e eu lhe darei o que você precisa

por Isabela Bisconcini
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Dia desses, era domingo, ouvindo um programa de rádio (excelente, diga-se!) tocou uma música do Dobbie Brothers de 1974 cujo título é “Tell Me What You Want (and I'll Give You What You Need)”. A música é luminosa, inspiradora e num instante me vi numa estrada ensolarada, muito verde e o vento soprando de leve a paisagem. O programa acabou, mas o refrão insistia na minha cabeça: “Tell Me What You Want (and I'll Give You What You Need)”. À noite, assisti ao filme “João, O Maestro”, com a história de João Carlos Martins e acabado o filme a frase ressoou conclusiva: 'diga-me o que quer e eu lhe darei o que você precisa'.

Fiquei pensando sobre as vicissitudes da vida do pianista genial que virou maestro. Sobre a vida de cada um de nós.  Olhando com vagar, vemos os cumes e abismos da paisagem interior de cada um. Esse jogo do pleno e vazio, do ápice e o espaço que o rodeia, é que faz da cena inteira. Completa. A vida de ninguém é uma sucessão de ápices (embora a revista Caras me desminta) e defendo que a vida de cada um de nós, por mais anônima que seja, é ‘épica’. Sobre o maestro, estamos acostumados a ouvir que “a sua é uma história de superação”, e é! Mas o que vi foi ‘diga-me o que você quer e eu lhe darei o que você precisa’.

Pense na sua vida: temos um lado mais desenvolvido que outro, partes em que somos mais habilidosos e desejaríamos ficar só nelas. Em se tratando de um dom, parece injusto que tantos obstáculos se interponham dificultando o curso do rio. Parece sempre que a vida com um dom, especialmente musical, tem direito legítimo a se expressar sem acidentes de percurso. Temos essas idealizações. Duvido que tenha alguém que não se pergunte: “mas, afinal, por que uma pessoa tão genial tem de passar por isso?”. Mas a Vida tem planos diferentes dos nossos. A Vida não nos quer (necessariamente) melhores naquilo que já somos excelentes (mas nós, sim!). No caso de um talento genial, é natural que o cume seja muito alto. E, na mesma medida, será o abismo que circunda de espaço esse cume. A Vida quer que completemos o que falta, foi o que pensei ao término do filme. A cena só é inteira se enxergarmos o ápice e o abismo que o envolve.

Que o maestro me perdoe, nem sei se, de fato, poderia falar da vida dele com essa liberdade, tamanho respeito e admiração que tenho por ele. Mas bem, vou falar apenas do que vi na tela e não posso afirmar que coincida com a realidade. Finjamos, portanto, que é um filme de ficção. No começo, a genialidade do pianista era proporcional à sua dificuldade emocional de se relacionar com as pessoas e coisas prosaicas da vida. Ele insistia em tocar e naquele mundo ele reinava sozinho e de maneira perigosa. A insistência no treino já tinha ultrapassado em muito o caminho do meio e da moderação. Sim, se tratava de um gênio. Mas a genialidade se parece com um carro de fórmula 1 a 250km por hora, se me entende. É unilateral demais. É aquilo custe o que custar. O tempo todo. É perigoso. Arrisca-se a vida. Mas, ao longo dos anos, curiosamente, quanto mais ele insistia, mais a vida o limitava. Até que se constela no campo uma fatalidade irremediável que, de fato, já vinha sendo anunciada há muito tempo. Aquela mão já havia dado sinais de fragilidade desde muito cedo. O caminho ficara unilateral demais. A Vida se incumbiria de compensar o que faltava. A contraparte tem de aparecer. O contraponto tem de se estabelecer. O inconsciente vai fazer uma força na mesma medida e intensidade, mas na direção contrária. É assim. Pensando assim, ficamos até com medo! Mas é assim. São forças e polaridades. O inconsciente é ruim? Não. Ele apenas tem uma força complementar. Ou seja, ele sempre vai trazer o que está faltando para completar a cena.

A Vida tem outra intenção para nós. A Vida nos quer inteiros. Mais completos como ser. E quanto mais formos tendenciosos para um lado, mais constelamos uma força inconsciente contrária. Assim, por meio do acidente, ele foi obrigado a encontrar maneiras de abrir-se e acabou por criar uma orquestra filarmônica onde o que mais é convocada é a arte de se relacionar com seres humanos. A arte de interagir. Ele passou a lidar com centenas de músicos e a estabelecer uma relação de muito maior qualidade com os seres humanos. Menos unilateral, mais inteira, mas custou-lhe a carreira de pianista (mas não o amor pela música).

Há um clássico conto de fadas que se chama ‘Os Sapatinhos Vermelhos’ de Hans Christian Andersen que (a grossíssimo modo) fala da menina que vivia na floresta e tinha uns sapatos feitos por ela mesma e ela ganha um par de sapatos vermelhos reluzentes de verniz capazes de dançar sozinhos quando ela os calça. Mas ela foi alertada que deveria tomar muito cuidado com eles. Ela calça os sapatos e se empolga. Tem dificuldade em pará-los, mas os tira. Acha-os perigosos, mas que delícia dançar daquela forma! Ela, então, os calça novamente e sai dançando! É tão gostoso! Na segunda vez, tem mais dificuldade ainda de tirá-los... e na terceira vez, ao calçar os sapatos a menina sai arrastada dançando loucamente e não mais consegue descalçá-los. A história termina tragicamente com a amputação dos pés da garota. Para quem quiser a interpretação do conto, Clarissa Pinkola Estés a faz brilhantemente no livro “Mulheres que correm com os lobos”. Mas o que quero dizer é que há coisas que controlamos e há coisas que nos controlam. Não é à toa que a palavra usada para dom é também 'Daimon' e que tem um quê de demoníaco, ou seja, de algo que nos escapa ao controle.

Mas o que interessa nisso tudo é o que a Vida quer para nós, o que precisamos. Ou seja: a finalidade por trás das situações. A Vida não quer tragédias, mas se perdemos os seus avisos sutis poderemos ter que aprender do jeito brusco (e isso não é “praga” ou ameaça, absolutamente, mas uma tentativa de aprendizado!), assim como a menina teve dificuldade em tirar os sapatinhos vermelhos várias vezes e insistiu em calçá-los, até que... Do ponto de vista da Vida nos será dado o que precisamos para ficarmos inteiros. E nesse caso vemos como o maestro se tornou uma pessoa mais inteira e completa. O resultado é um ser humano de envergadura maior, com mais humanidade, amorosidade e mais habilidades. O seu calor, a luz no olhar, a alegria e o sentimento de preenchimento é que me chamam a atenção nele. O ser inteiro dele. Foi a partir daquela dor e perda que ele se moveu na direção do que faltava (foi obrigado!), ficando mais inteiro e alcançando maior riqueza do ponto de vista humano. Sem dúvida, a história dele nos inspira e nos comove.

Idealizamos que o dom concede um “passe livre” que permite à pessoa acesso ilimitado à felicidade, de forma que parece injusto que a pessoa seja obrigada a se limitar.  Mas a Vida nos dá o que precisamos, aquilo que fará de nós inteiros. Quando conseguimos enxergar isso, o caminho fica mais leve ou, pelo menos, temos alguma serenidade. Mas para isso é preciso atravessarmos uma vida para ver onde vai dar a estrada e encontrarmos a beleza da história. Assim é que uma árvore pode se entortar e retorcer-se toda até, mas ela sempre aponta elegantemente para o céu. Diga-me o que você quer e eu lhe darei o que você precisa. Por quê? Porque é preciso!

Texto Revisado


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Atualizado em 2/8/2018

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