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Como treinar a mente para morrer em paz

Publicado por Bel Cesar em Espiritualidade

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De acordo com a tradição budista, existem três níveis de praticante espiritual: o menor é o indivíduo que pode morrer sem arrependimento; o meditador do nível médio deve poder morrer sem medo e o praticante de nível mais alto deve realmente morrer com alegria, dando as boas-vindas à morte, porque eles não estão mais morrendo de forma descontrolada.

Não sei se a geração atual escuta contos de Fadas, ma a minha escutou, e muito. Pelo menos nós, mulheres, crescemos com a promessa de que um dia encontraríamos um príncipe e viveríamos felizes para sempre. Mas quando passamos a assistir cerimônias de casamento tivemos que ajustar nossas expectativas ao ouvir o padre dizer: "Que sejam felizes até que a morte os separe". A ideia de uma felicidade infinita estava ameaçada pela morte, e com ela, aprendemos conceitos como o céu, inferno, a doença e a velhice.

Negar o sofrimento da vida nos impede de transformá-lo em sabedoria. Esta foi a lição vivenciada pelo príncipe Sidarta ao tornar-se um Buddha. Seu pai, ao ouvir a profecia de um sábio de que seu filho poderia se tornar um grande asceta, buscou protegê-lo de todo sofrimento mundano com a intenção de que ele permanecesse no palácio para governar seu reino e não ir para as montanhas meditar. No entanto, na medida em que Sidarta testemunhou o sofrimento do nascimento, da doença, da velhice e da morte, buscou a meditação até atingir a iluminação.

Em nosso cultura, onde o sofrimento é moeda de troca para a culpa de ser feliz, a morte tornou-se um tabu. Como não sabemos lidar com o sofrimento que ela causa, negamos sua existência o máximo possível. Mas, quando ela se torna inevitável, não sabemos como lidar com o seu processo. Devido ao nosso olhar ser limitado apenas a esta vida, a morte surge como uma experiência de aniquilação.

No budismo tibetano, compreende-se que uma pessoa só terá uma vida espiritual se viver em função de suas próximas vidas. Isto é, a determinação de atingir a iluminação leva o praticante a cuidar de sua continuidade vida após vida. Ao acompanhar como psicóloga pessoas que enfrentam a morte, testemunho que aqueles que tiveram de algum modo um sentimento de continuidade lidaram melhor com sua morte.

Familiarizarmo-nos com a sensação de uma continuidade positiva em vida nos ajuda a superar a ideia de aniquilação do ego diante da morte. Para compreender melhor como nossa mente avalia o futuro, podemos, diariamente, observar como lidamos com as oportunidades que surgem: sou capaz de me ver numa situação próspera ao me defrontar com algo novo e desconhecido?

Vivenciamos a morte na vida cotidiana nos momentos em que as coisas não estão funcionando como desejávamos ou prevíamos. Podemos aprender a lidar com nossas dificuldades cotidianas como uma prática de aceitação emocional de nossa morte futura. Assim como escreve Pema Chödrön em seu livro Quando tudo se desfaz: "Ter um relacionamento com a morte na vida diária significa ser capaz de esperar e de relaxar na insegurança, no pânico, no constrangimento, naquilo que não vai bem".

Algumas pessoas sabem lidar com os imprevistos de modo natural, sem alarmes. Mas a maioria de nós não está preparada para lidar com o caos: tememos as situações que estão fora de controle. Não estamos familiarizados com a ideia de contar apenas com nossa capacidade interna. No entanto, existem momentos na vida em que a única esperança de sair de uma situação caótica consiste em podermos realizar uma transformação interior. Como nos ensina Lama Gangchen Rinpoche: "Se você estiver numa situação negativa no momento de sua morte, deve recordar-se que a negatividade não traz nada. Por isso, volte a atenção para sua concentração interna e para sua autoconfiança".

Lama Michel Rinpoche nos alerta que o primeiro passo para termos uma vida espiritual, assim como para lidarmos positivamente com a morte, é o de criar uma identidade baseada em valores internos que vão além do eu e do meu. São os valores internos que cultivamos que levaremos em nosso contínuo mental sutil de vida em vida.

O que sempre é importante? Generosidade? a Paciência? Honestidade? Transparência? Fé?
A clareza de nossos valores nos leva a fazer escolhas certas em vida e a cultivar uma mente capaz de nos sustentar no momento de nossa morte. Se aprendermos a valorizar a paz, a suavidade e a amorosidade em vida, saberemos como nos sintonizar com estes estados nos momentos de maior vulnerabilidade física. É como certa vez Lama Gangchen me disse: "No momento da morte, nossa mente pode subir, mesmo quando nosso corpo pode estar caindo".


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Sobre o autor
bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
Email: [email protected]
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