CHEIRO DE APOCALIPSE

CHEIRO DE APOCALIPSE
Autor Oliveira Fidelis Filho - [email protected]
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As imagens que correm o mundo, do último grande terremoto e do tsunami que assolaram o Japão,  as constantes e destruidoras intempéries climáticas, convulsões sociais, econômicas e políticas percebidas em vários pontos do planeta, geram uma crescente e desconfortante sensação de incerteza, insegurança e expectativa, deixando em desassossego o coração e a mente da maioria de nós. Para muitos há um inquestionável cheiro de apocalipse no ar. 

Ao longo da história, a espécie humana experienciou várias outras circunstâncias semelhantes ou ainda muito mais dramáticas. Para citar fatos mais recentes, basta nos lembrarmos da peste negra, das duas últimas grandes guerras mundiais e até mesmo do terremoto e tsunami que devastaram grande parte da costa do oceano índico. Quando observamos os registros paleontológicos e geológicos, somos informados de cataclismos de magnitudes inimagináveis, que nos levaram à beira da extinção.

Atualmente, desastres e convulsões sociais tornam-se muito mais impactantes, também em função da explosão demográfica e dos recursos tecnológicos disponíveis.  Com os meios de comunicação permitindo o "contato" com os fatos em tempo real e com o explosivo crescimento demográfico experimentado no último século, tanto a abrangência dos estragos quanto as impressões causadas, mesmo em quem vive a milhares de quilômetros do acontecimento, tornam-se cada vez mais sentidas.

Em momentos de perplexidade tão paralisantes, um dos efeitos colaterais é a tendência de se voltar para as profecias escatológicas que apontam para o "fim do mundo". Mas no que, exatamente, consiste este "fim do mundo"? E de que mundo, especificamente, se está falando? Estas são questões que alimentam as mais variadas correntes religiosas, espiritualistas e científicas.  Afinal, é o fim do mundo da espécie humana, da Terra, de todos os mundos, o fim de uma Era, de uma dimensão existencial...? Ainda que a expressão "fim do mundo" encontre-se disponível no vocabulário de praticamente todas as pessoas, o seu verdadeiro significado permanece envolvido em nebuloso mistério.

Há os que atrelam o fim do mundo à volta de Jesus, ao grande julgamento e à definição eterna dos domicílios: enquanto alguns serão conduzidos aos aposentos do céu, outros serão levados às precárias acomodações do inferno. Há os que estão aguardando e monitorando a aproximação de grandes naves espaciais, há os que vislumbram o fim de uma era enquanto aguardam o início de uma Nova Era. Há os que esperam o céu com as ruas de ouro, os que esperam o oásis com setenta virgens e os que esperam evoluir sempre na direção da Luz, reencarnando ou não. Há os que se deixam conduzir, também nestes assuntos, por pastores, sacerdotes, mestres, gurus e canalizadores de todos os tipos, cada um reivindicando a posse da verdade. Há os que aproveitam o momento para aumentar seu domínio sobre seus liderados e engordar suas carteiras. Enfim, as expectativas são as mais variadas e todos sonhamos e anelamos por dias melhores, sejam em que configuração ou dimensão forem.

Seja como for, cresce, em momentos como os atuais, o interesse pelos escritos dos mais variados profetas. Estão em alta as profecias maias, as quadras de Nostradamus, o apocalipse cristão, entre outros. Entre os cristãos, as palavras atribuídas a Jesus são especialmente lembradas: "Então lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino; e haverá em vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu... Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas." [Lucas 21: 10-11, 26].

Ainda que sob a hipnose da crença religiosa o texto possa parecer assertivo, se olharmos de forma dissociada perceberemos que são declarações genéricas. Podem ser associadas às mais variadas épocas, acontecimentos e circunstâncias. É interessante como em cada episódio de grande proporção elege-se um texto profético para apadrinhá-lo, para enquadrá-lo...

Em nossos dias, a maior certeza continua sendo a incerteza e o princípio de impermanência reivindica domínio cada vez mais amplo em nossos pensamentos. Há uma sensação crescente de desconforto, insegurança, de questionamento e relativização de valores, modelos e crenças. Uma expectativa de que algo está por acontecer e que deverá acontecer, já deixando na vida de muitos, pelo medo e o desespero, suas patológicas marcas. 

Como se comportar face às avalanches de acontecimentos com o aparente prenúncio apocalíptico que nos envolve?

Em primeiro lugar, buscar manter-nos vivos e conscientes. Ou usando a recomendação de Jesus, "vigiar e orar". O estado de vigília nos liberta do estado hipnótico causado pela exposição da mente aos comandos de outras vozes. E milhões ainda assim vivem! Precisamos estar atentos aos acontecimentos. Ignorar, fazer brincadeira, disfarçar o medo não é o caminho. "Vim para que tenham vida", disse o Mestre. Para que possamos romper com a dimensão vegetal e animal, para que desenvolvamos a expansão da consciência, necessário se faz pensar os próprios pensamentos e sentir os próprios sentimentos. O momento exige individuação.

Em segundo lugar, buscar a harmonia interna. Invista no silêncio, passe mais tempo meditando, crie o hábito de jejuar para desenvolver maior acuidade mental e sensibilidade espiritual; são práticas que possibilitam melhor trabalhar o desapego. Cuide da respiração e sinta-se mais presente no próprio corpo, faça trabalhos regulares de respiração. Mantenha o espírito manso, os relacionamentos saudáveis, pois, independentemente de para onde formos, é possível que levemos desta vida a vida que aqui levamos.

Em terceiro lugar, ouça o próprio coração. Abasteça-se menos das fontes externas e mais das fontes internas; não se nutra de notícias sombrias e densas. Aprenda a ouvir o coração começando pela pulsação e evoluindo para ouvir a Sabedoria que por ele se expressa. Lembre-se: o coração é o ninho da alma, é por onde a voz divina se expressa.

Em quarto lugar, viva com alegria, pois a redenção de aproxima. Refiro-me à redenção holística, planetária e universal, do homem e do universo, da vida em todas as suas dimensões; sim, a redenção se aproxima! 

Em quinto lugar, ame incondicionalmente. Não faça julgamentos, esteja pronto para servir, viva de forma desapegada, livre-se da densidade e das sombras do egoísmo. É o amor que nos identifica como filhos da Luz, filhos de Deus. É o passaporte para outra dimensão mais expandida, independentemente da crença religiosa.

Há uma nova ética em construção, uma nova moral, não mais meritória e fundamentada no medo e sim numa eco-espiritualidade geradora de cuidado, amor e respeito pela vida, pela natureza, pela Terra e pela essência divina que nos habita.


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Conteúdo desenvolvido por: Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
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