Quem foi mesmo Jesus de Nazaré?

Quem foi mesmo Jesus de Nazaré?
Autor Ton Alves - [email protected]
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Até o Papa admite que quase nada se sabe a respeito do homem histórico que os discípulos, os “Pais da Igreja” e até mesmo os imperadores romanos transformaram no Cristo, segundo a conveniência de cada um. Sobre o real profeta judeu do Século I foram projetados todos os sonhos e desejos de plenitude do ser humano ocidental

Nesta semana, quase a metade da população da Terra se dedica a relembrar os dramáticos momentos finais da vida do profeta judeu Yeoushuah Hanatzarati, aportuguesado “Jesus de Nazaré”. Sobre esses fatos e a vida deste homem, que os cristãos consideram o Filho de Deus, muito já se falou. Mas, certamente, essa é a mais enigmática e controversa personagem de toda a historio do Ocidente.
Talvez por isto, o sisudo e respeitado teólogo Joseph Ratzinger tenha se empenhado tanto na elaboração de uma monumental obra sobre a vida de Jesus. Há quem garanta que o ex-chefe da Igreja Católica tenha dado tanta atenção à tarefa que acabou deixando o seu papado às moscas. O que deixou espaço para cardeais oportunistas levarem o Vaticano quase à bancarrota moral e econômica.
Mas por que esse humilde pregador andarilho que vivia na miserável periferia oriental do Império Romano se tornou essa figura tão importante? Na verdade, Jesus não “se” transformou, mas “foi” transformado no salvador do mundo por seus seguidores, após a sua morte. Tanto que, o brilho sem igual que sua pessoa e o peso decisivo das suas palavras só alcançaram auge que hoje desfrutam fora de sua terra natal.
Por obra de um grego de origem judaica nascido onde hoje está a Síria, a pequena seita de Jesus, criada na Galiléia e que ao chegar à Judéia havia sido quase toda desbaratada, foi levada para todas as grandes cidades até chegar à capital do poderoso Império Romano.
Aí, no centro político, administrativo e financeiro do mundo antigo, o frágil profeta itinerante Jesus de Nazaré foi transformado no poderoso “Rei do Universo” Jesus Cristo, o salvador.
Até hoje se discute, entre estudiosos do fenômeno religioso, se foi o cristianismo que dominou Roma ou se foram os imperadores romanos que dominaram o cristianismo. Mas o certo é que, ao chegar ao centro do império, os ensinamentos de Jesus romanizaram-se, chegando ao ponto de assumir o latim como sua língua oficial, e o nome hebreu Yeoushuah haMaschiah (Jesus, o Ungido, o Messias) foi transformado em Iesus Christus.
Porém, as transformações que a pessoa de Jesus vem sofrendo ao longo dos séculos não começou em Roma, nem apenas com o missionário judeu-sírio-romano Paulo. Antes disso, dois séculos antes, a pessoa do profeta Galileu que queria apenas aperfeiçoar a lei de Moisés para seu povo, começou a ser suplantada pela pessoa do Maschiah (messias).

NEM O PAPA SABE
Hoje é difícil, por que não dizer impossível, saber exatamente quem foi o homem Jesus de Nazaré. A imagem do Cristo foi sobreposta, abarcando todas as feições e personalidade do Nazareno. Mesmo os evangelhos, considerados por alguns a história da vida de Jesus, não serve para mostrar quem era, concretamente, aquela pessoa.
Quando resolveu escrever sobre Jesus de Nazaré, Bento XVI estava determinado a mostrar que o mesmo Cristo pregado pelas igrejas era o histórico judeu Jesus de Nazaré.
Na introdução do primeiro livro da série, Ratzinger se pergunta "que significado pode ter a fé no Cristo se, o homem Jesus era tão diferente de como os evangelistas o apresentam?” E promete provar, com sua obra que o que a Igreja anuncia é a mais pura e certa “história de Jesus”.
O Papa disse que confiava nos Evangelhos como documento histórico e garantiu que ao final do último volume iria "chegar à certeza da figura verdadeiramente histórica de Jesus, a partir dos Evangelhos".
Parece não ter conseguido. Pelo menos para quem leu, com muito cuidado e atenção, a série “Jesus de Nazaré” publicada por ele. No último volume, Bento XVI foi obrigado a admitir que isso era impossível.
Ao falar sobre a morte de Jesus, o Papa reconhece que, "nas respostas dos Evangelhos, há diferenças". Ou seja, ao lidar com um dos pontos mais delicados da história evangélica, Ratzinger foi obrigado a reconhecer que os quatro evangelistas têm três teses diferentes e que duas delas, sem saber quais, "seguramente não manifesta um fato histórico".
SEM ROSTO E SEM HISTÓRIA
Como, no primeiro século, tempo ler e escrever eram privilégios para pouquíssimos e a cultura religiosa do povo semita sempre proibiu a reprodução em pintura ou escultura do corpo humano, pouco se sabe sobre a vida humana de Jesus e nada sobre sua aparência física e suas feições.
Os evangelhos, selecionados pelos papas e imperadores de Roma para se tornarem escritura sagrada, pouco falam do ser humano Jesus. Preocupam-se mais em provar que Jesus era o Cristo, sempre de acordo com as conveniências de quem os escrevia.
Os outros relatos da vida e das palavras de Jesus também seguiram, mais ou menos, o mesmo caminho. Exceções, como o apócrifo Evangelho de Tomé, parecem mais coerentes ao apresentarem as palavras de Jesus bem parecidas com o discurso de um profeta judeu.
Então, desde o início, o que se tem anunciado ao mundo é o Cristo, o Messias, o Salvador, e não o homem histórico, Jesus de Nazaré.
Por isso ficou fácil para todos, inclusive para os mercadores de ilusões religiosas, usar Jesus Cristo como instrumento de seus interesses. E não há nada que se possa fazer a respeito. Pois, de concreto, nada existe em que se pode basear qualquer discurso com pretensões de verdade científica ou histórica.

CRISTO, UM PROJETO HUMANO
O Cristo, o Messias, o escolhido, o ungido por Deus, sempre foi a grande inspiração do povo hebreu, desde que o reino criado por Davi fora destruído por intrigas e questões político tribais da própria nação. Como todos os povos, havia no coração de Israel a esperança de que um salvador da pátria chegaria para liberta-lo de todos os seus sofrimentos.
Esse messias, como todos os outros de todos os tempos e lugares, possuía todas as qualidades humanas positivas elevadas ao extremo. Nele foi projetada a perfeição humana, sonho que desde sempre embalou a esperança da humanidade. O messias não seria um deus simplesmente, mas um ser humano no qual a divindade transparecia em plenitude. Messias é, então, o mais sublime projeto do ser humano para si mesmo.
Por isso há relatos de centenas de líderes populares que se autodenominavam messias. Principalmente em tempos difíceis, como eram aqueles do Século I da era cristã, a figura do messias se torna mais recorrente. Lá, como aqui e agora, qual é o ser humano que não anseia para que apareça alguém bom e poderoso que o livre das preocupações e das dores?
Mas, ao que parece, Jesus não se considerava um messias. Pelo menos não um messias guerreiro, rei poderoso e vingador. Há passagens nos evangelhos que mostram Jesus dando uma bronca nos seus amigos que o queriam tratar assim. Para ele, a pessoa que comanda é a pessoa que mais serve.
Mas, mesmo contra s sua vontade, o Nazareno começou a se tornar messias, ou cristo, logo depois de sua morte. E essa ideia foi tomando tal forma que, duas ou três décadas depois de seu desaparecimento, pouco ou nada se podia saber da verdadeira pessoa histórica de Jesus. O mito havia suplantado a realidade.
Por isto não é errado afirmar que Jesus Cristo é fruto do grande anseio de plenitude dos seres humanos. Assim como também o são Krishna, Budha, Lao Tse e outros, como o rei Dom Sebastião para os portugueses, Arthur de Camelot para os britânicos e muitos e muitos outros heróis mitológicos.


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Conteúdo desenvolvido por: Ton Alves   
Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade.
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