LEMBRANÇAS DE OUTRA VIDA (regressão)

LEMBRANÇAS DE OUTRA VIDA (regressão)
Autor Agatha Fortunato - [email protected]
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"O papel mais arriscado, quero-o para mim!" Declaração de Tiradentes feita em uma das reuniões com os inconfidentes.
 
Entrou no edifício do consultório da terapeuta que estava ajudando-a no resgate de suas experiências de vidas passadas. Sentou na sala de espera. Não era a primeira sessão, mas ainda sim, sentia a mesma sensação de euforia, receio e ansiedade que a primeira vez. Cada sessão era uma surpresa diferente e não sabia o que esperar dessa vez pois, no último encontro as lembranças que vieram à tona foram muito fortes e esclareceram definitivamente os problemas de saúde enfrentados nesta encarnação. Entrou em prece, agradeceu e pediu misericórdia a Deus para que fosse revelado apenas o que estivesse pronta para saber.  
Enquanto isso, olhava atenta para o cristal pendurado no teto da recepção. Parecia se mexer, concentrou-se e tinha a sensação de ver uma espécie de aura em volta do cristal. Desviou o olhar e pensou, rindo mentalmente "Deve ser o efeito do feijão da hora do almoço". Levantou, esfregou os olhos e tomou um copo d'agua. Olhou novamente para o cristal e tudo parecia normal. 
 
Quando a chamaram para iniciar a sua sessão, a terapeuta parou diante da porta do consultório e olhou para o cristal do teto da recepção. Sorriu cordialmente e disse -  "Boa tarde, querida! Como estamos?Sinto que hoje teremos uma sessão muito produtiva".
 
Após os preparativos iniciais conduzidos pela terapeuta, rapidamente entrou no estado de consciência necessário para uma sessão de regressão. Com o andar do tratamento terapêutico direcionado, reiki e estudos teóricos, sua sensibilidade melhorou significativamente, sendo capaz de entrar no silêncio da alma mais rapidamente , de forma segura e consciente. Não demorou muito para os elementos da cena de outrora começarem a tomar vida.
Primeiramente vieram os sons. Apenas escutava barulho de passos. Passos para lá e para cá. Como quem andava de um lado para o outro em uma espécie de assoalho. Viu pés. Pés e sapatos que pareciam de um homem. A cena foi tomando um pouco mais de nitidez. Definitivamente tratava-se de um homem jovem e bem aparentado, com semblante bem aflito e preocupado. 
 
A terapeuta perguntou "Você é este homem? Quem é ele? Você o conhece?" - e respondeu: "Não tenho certeza de quem é, mas sinto que o conheço". "Onde você está?" indagou novamente. Mais um instante e uma outra cena parecia se formar. Viu uma jovem de pele clara, cabelos negros e presos em penteado, vestido longo repleto de detalhes em renda, totalmente comportado e delicado. Suas mãos eram magras e dedos compridos. Aparentava não mais que trinta anos de idade, porém já não carregava mais os traços de menina. Possuía um olhar negro penetrante e repleto de mistérios. Tal jovem estava sentada em uma confortável poltrona lendo um livro em francês e apesar de aparentar muito interesse e concentração pela leitura, a todo momento olhava para a porta como quem estivesse lendo algo proibido pela moral ou bons costumes. Conseguinte, uma senhora adentrou o recinto muito bem composto com móveis de luxo e decoração em estilo Luís XV, chamando firmemente pela jovem. Rapidamente ela escondeu o livro debaixo da almofada, como uma criança que tenta se livrar de algo errado. A senhora lhe disse:
- Senhorita Mouret, o senhor seu irmão lhe aguarda aflito na sala. O que devo dizer? Lembre-se que o senhor seu pai...
- Peça para que suba por gentileza - disse a jovem em tom firme e semblante austero, levantando-se da poltrona e indo de frente para o espelho como quem já parecia se arrumar.
-Mas senhorita..seu pai...
- Ele é meu irmão, D.Chica!!! - indignou-se - Peça para que suba e por favor, não conte a ninguém, estamos apenas com saudades um do outro, ora!
- Mas senhorita...ele vai lhe trazer novamente aquelas coisas que o senhor seu pai lhe proibiu de ler...
- D. Chica!!! Sem mais!!! Desça e peça para que meu querido e amado irmão suba.
Sem mais questionar, a preoucupada senhora desceu e repassou o recado ao rapaz que já a postos ao pé da longa escada de madeira, subiu rapidamente os degraus e entrou pelo quarto da jovem, fechando a porta atrás de si. Depois de se comprimentarem em um longo abraço, o jovem disse:
- Minha irmã, o cerco está se fechando. Suspeitamos de traição e se isso se confirmar, vão querer a cabeça de todos eles. O grupo irá se reunir para a ultima reunião antes do ato final. Será depois do baile que será promovido pelo Barão de Vilas Boas. Para disfarçar, o Barão pediu para dizer para ao nosso pai se tratar de um convite especial para que você apresente seus dotes musicais no cortejo do baile.  Não posso delongar mais, querida irmã. Nos vemos lá!
O irmão saiu às pressas do quarto como quem literalmente, deveria salvar alguém da forca. E naquela época, forca era uma forma de fazer justiça àqueles que afrontassem os interesses da coroa. A jovem pegou o livro debaixo da almofada e escondeu em um fundo falso de sua escrivaninha. Sentou aflita na cama, como quem devia planejar , minuciosamente, cada passo em diante.
 
A terapeuta, voltou a conduzir a sessão e pediu para que ela, agora consciente de que era a mesma jovem do relato, fosse para o evento citado.
 
Ela adentrou radiante pelo salão do baile, porém, não menos aflita. Usava um delicado vestido de renda nobre, daquelas que para a época, eram encontradas apenas na cidade da luz. Estava um turbilhão por dentro e levava consigo, uma pasta discreta onde estavam partituras musicais misturados a documentos importantes dos quais ela nem fazia idéia do conteúdo e que deveria devolver para seu irmão naquela ocasião. As luvas compridas de seda compunham o detalhe de suas vestes, assim como o singelo chapéu médio e discreto, porém, não menos gracioso. Procurava com o olhar onde seu irmão poderia estar e tão logo se encontraram. Aproximaram-se e ele lhe deu o braço, conduzindo-a pelo salão até uma mesa reservada.
Sentados à mesa, estavam duas moças e três rapazes. Ao ver a jovem se aproximar, um dos rapazes levantou-se da mesa para cumprimentá-la com simpática e destacada cordialidade, beijando-lhe umas das mãos e olhando profundamente em seus olhos. Naquele instante, a jovem deitada na sala de regressão reconhecera aquela alma. Aquele jovem pertencia a mais alta corte da nobreza. Usava um anel peculiar, diferente dos demais. Pertencia a notória família, que até hoje carrega as marcas de um legado histórico na trajetória do país. Do lado de cá, na sala de regressão, ela se emocionava ao reconhecer o rapaz. "Eu sei quem é ele! Meu Deus...esse olhar...". A terapeuta disse "Quem é este rapaz? É um malfeitor? Deseja sair daí?" e respondeu "De maneira alguma, trata-se de Pedro...está tudo bem, estou feliz". A jovem e aquele rapaz, nutriam uma espécie de carinho diferenciado um pelo outro e tão logo veio a revelação aos amigos à mesa: o então notório rapaz, pretendia em oportunidade breve, pedir a mão da moça em casamento. 
Um rompante, e as memórias da jovem, ali na sala de regressão foram lançadas para momentos desesperadores. Discutia com seu pai aos berros, tentando defender o irmão de algo. Sentia angústia e chorava em prantos. Seu irmão havia sido considerado como um conspirador, denunciado pelo próprio pai que almejava com a denúncia, conseguir recompensas com a coroa, um título, talvez. Ao saber que o irmão fora preso e morto brutalmente, a jovem caiu em desgosto, passando a odiar o próprio pai pela frieza e falta de compaixão pelo filho, que permitindo que fosse torturado até a morte em praça pública. Como forma de retaliação à conspiração da própria filha, desonrou-lhe o casamento até o leito de morte, ficando a filha solteira como única herdeira, dona de todas as terras e riquezas que a ele pertencia.
 
Pararam por aí e a terapeuta voltou a assumir  o controle a sessão, enviando-lhe décadas à frente.
 
Com tantos acontecimentos, a jovem tornou-se amarga, rude e fria. Isolando-se em suas terras, assumindo os negócios da família, dando continuiade ao legado do pai. E sua história levou um outro rumo que a terapeuta decidiu deixar para outra oportunidade.
 
De volta à sala onde a sessão acontecia, voltou ao seu estado normal de consciência e relatou outros detalhes à terapeuta, que quis investigar melhor o envolvimento com o jovem que ela reconhecera. Sentia-se aliviada, feliz, liberta de uma culpa que parecia lhe acompanhar há séculos.
 
Nesta sessão foi trabalhado o perdão a si e ao pai, principalmente. O sentimento de gratidão ao amor dedicado do irmão foi potencializado e foi trabalhado também o sentimento de culpa que ela carregava por sua morte. Soube que o irmão de outrora, estava bem e que estava se preparando para reencarnar em breve no Brasil. Referente ao jovem que era seu noivo, muitas mágoas ficaram devido ao repentino rompante do noivado. Mas eles se reencontraram nesta vida a fim de sará-las. Foram conduzidos a isto, muito antes dela saber de todos esses acontecimentos. Ele estava ainda na mesma descendência genealógica de outrora. Ao reconhecer estes fatos, os motivos de tantas coincidências, de tanto carinho, de tanto amor e envolvimento sentiu alívio e profunda ternura. Não haviam vivido a história que um dia quiseram começar...E nesta vida também viveram o que tiveram que viver.
 
Deixou o consultório da terapeuta em paz consigo. Mas uma pergunta ainda estava ecoando em seus pensamentos... 
E o pensamento foi interrompido pelo celular tocando no bolso. Era sua amiga agendando um compromisso: um recital em uma pós-reunião de negócios de empresários do ramo de transportes da cidade. Conspiração? "Sei lá", pensou. Riu e seguiu seu caminho de volta pra casa.
 
 
Nota: por questões de ética, nomes de família e de pessoas foram substituídos por nomes fictícios.


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Conteúdo desenvolvido por: Agatha Fortunato   
é Legionária da Boa Vontade convicta, espiritualista cristã. É estudante de piano clássico e temas ligado à espiritualidade e psicologia positiva. Gosta de escrever, de ler, conversar e ouvir. Profunda admiradora da natureza e das artes, do mais rupestre ao mais moderno. Apenas uma jovem, cheia de sonhos e buscadora das verdades do invisível.
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