Aprendendo a respirar - Parte III

Aprendendo a respirar - Parte III
Autor Ton Alves - [email protected]
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Como vimos, a respiração é a expressão de um processo profundamente interior. Com ela, temos em mãos um instrumento que, controlado pela mente esclarecida, possibilita dirigir até os processos inconscientes e autônomos do nosso corpo, poder que somente o homem, entre todos os seres vivos, pode dispor.
Muitos Mestres criaram seus métodos de respiração. Alguns visando a melhoria da saúde física, outros de olho no aspecto psicológico de uma boa respiração e a maioria buscando facilitar o desenvolvimento espiritual das pessoas a quem queriam ajudar.

A Respiração Integradora pretende englobar estes três aspectos: o material ou físico, o mental ou psicológico e o espiritual ou cósmico.
Essa prática visa conduzir o ser humano ao encontro ao seu interior, promover seu autoconhecimento e transformar o seu ego exterior numa forma superior de consciência.
Assim, a pessoa poderá expandir seu verdadeiro ser para além dos seus limites corporais, integrando em si os todos os outros seres do universo.

Através dela se pretende um duplo movimento da consciência: a) para dentro, rumo à fonte do mais precioso potencial de realização existente no mais profundo do ser humano; e b) para fora, em busca da conexão com todo o universo a partir do ambiente e dos seres que nos circundam até a mais distante de todas as galáxias.
Além disso, a Respiração Integradora enfoca e valoriza todos os momentos da respiração, e destaca a necessidade do ritmo e da profundidade de cada um deles. Isso revitaliza os fluxos energéticos, oxigeniza o sangue, faz uma “limpeza” no pulmão retirando resíduos de respirações mal realizadas.
Também produz a dilatação dos músculos superiores do tórax produzindo um relaxamento profundo, aumenta a sensação de calma e paz interior, melhorando o sistema imunológico e o funcionamento geral do organismo.

Observações - Este exercício respiratório é o primeiro passo do Método Casulo de Luz de Meditação que desenvolvemos como resultado de longo período de estudos e prática da meditação cristã e budista.

O Método Casulo de Luz de Meditação leva em consideração não apenas os aspectos interiores do ser, mas também os externos para promover a integração de ambos num mesmo processo. O resultado final visado é a transformação do mundo a partir da íntima transformação de todos os indivíduos.

Ajuda a firmar o pensamento e a atenção no tempo presente e, por isso, alivia tensões musculares ou psicológicas. Religiosos a utilizam para preparar o espírito para um momento de comunhão e integração com a divindade.

É recomendável sua prática antes de um dia de trabalho, logo pela manhã, ao acordar e aliviar as necessidades fisiológicas características do momento. Para desfazer as tensões, o melhor é realizá-la antes do último período de meditação ou do descanso noturno.

Como fazer - Como toda respiração correta e eficaz, a Respiração Integradora deve ser executada contraindo-se e descontraindo o diafragma torácico. Para isto, deve-se evitar respirar elevando-se e abaixando o peito. Deve-se usar para isto o movimento de estufar e encolher os músculos do abdome.
O exercício deve ser praticado de olhos abertos, mas não arregalados. É preferível deixá-los levemente semicerrados, em atitude meditativa, dirigida para o interior. Um nariz desobstruído é requisito essencial para se sair bem.

Se uma das narinas funciona mal, pode tornar doente todo o lado do corpo correspondente a ela por insuficiência de oxigênio e de prana ou chi, a energia vital.
É importante respirar pelo nariz a fim de manter a umidade das mucosas, aquecer o ar e livrá-lo de poeira e outras impurezas.

Onde fazer - Um recinto calmo e bem arejado, ou um local quieto no seio da natureza, serão condições vantajosas, mas não é decisivo para o bom êxito da prática. Talvez, no início, quando o praticante ainda não estiver bem treinado na Respiração Integradora, é recomendável se colocar em um lugar que facilite a concentração.

Depois, ao adquirir mais familiaridade com o método, é possível alcançar bom êxito mesmo em local não muito sossegado nem muito silencioso. Mais tarde, os exercícios simples poderão ser realizados no carro, sentando à mesa de trabalho, no ônibus, no avião ou durante um passeio.

Quando fazer - O ideal é praticar a Respiração Integradora o tempo todo, até torná-la automática. Contudo, para isto seria necessário uma dedicação integral do indivíduo. E como todo tem ainda as demais ocupações necessárias à manutenção da vida, aconselhamos a prática desse tipo de respiração a maior número de vezes possível, durante todos os dias.

O mínimo necessário é de pelo menos dois períodos diários de quinze a vinte minutos cada. Recomendamos a prática pela manhã, ao acordar e à noite, antes de adormecer. E, pelo menos uma vez a cada dois meses realizar períodos maiores e mais intensos de Respiração Integradora, em grupo e individualmente.

Postura Corporal e Estado Mental

Para realizar o exercício da Respiração Integradora, é preciso observar algumas recomendações, comuns aos mais antigos e tradicionais métodos das escolas de sabedoria de vários lugares e culturas.

Primeiro momento – RELAXAR: Os olhos devem ficar semicerrados com os globos oculares dirigidos para a base do nariz, como se quisesse olhar para dentro do próprio cérebro. Para relaxar os músculos é recomendável tomar consciência da sensação de peso dos braços e pernas, bem como da cabeça sobre o pescoço e deste sobre o no tronco.

Transferir esse peso as duas pernas igualmente se estiver em pé; para a base da coluna e da bacia, se estiver sentado, e, para toda a parte do corpo que estiver em contado com a esteira ou colchão se estiver deitado. Mas sempre lembrando que relaxamento não pode ser confundido com um cochilo no sofá e sim estabelecer um estado de máxima concentração, vigilância interior e plena atenção.

Segundo momento – RESPIRAR: Com a boca fechada naturalmente, sem forçar, comece a observar a respiração, tentando não interferir nem mudar o seu ritmo natural. Lembre-se que, conforme ensinam os mais diversos cientistas, sábios e mestres, é no lugar onde nasce o impulso de inspirar é que está o centro do indivíduo.

Não tente interferir no acontecimento natural, apenas observe-o. Naturalmente, por si mesma a respiração começa a se tornar mais profunda, mais calma e mais lenta e, quase totalmente silenciosa. Faça sua atenção percorrer todos os seus membros e conscientize-se, sem detalhar excessivamente de todos os fenômenos que ocorre dentro e ao redor de você. Ou seja, “esteja presente e atento ao aqui e agora”.

Terceiro momento – EXPANDIR: Sinta-se como se estivesse ampliando a percepção de si mesmo para além do próprio corpo. Absorva o que está imediatamente ao seu redor e o incorpore na mesma sensação do próprio corpo. Não julgue nem se intimide com as percepções. Deixe-as acontecer.

Expanda ainda mais a abrangência da sua consciência como se tivesse se tornado uma fumaça, um gás, que vai penetrando tudo e incorporando tudo ao seu próprio ser. As pessoas, as coisas, os fenômenos, os sons, os cheiros, o ar. Como se estivesse recebendo imagens vindas de uma nave que estivesse se afastando da Terra e abarcando no seu ângulo de percepção todo o Universo. Sinta-se fazendo parte de tudo e que tudo faz parte de você. Como se tivessem acabados as fronteiras e os limites do próprio corpo e da própria mente.

POSIÇÕES – A mais usada nas várias tradições é a sentada. E como sentar-se, como quase todos os nossos costumes, já se transformou num movimento quase automático, é bom lembrar o que os mestres consideram que é sentar-se corretamente.

Sentar-se atentamente para um exercício respiratório é colocar os ossos da bacia na vertical, a coluna vertebral reta, os ombros descontraídos.

Estar corretamente sentado pode dar até mesmo uma sensação de leve lordose, ou seja, a coluna vertebral fazendo uma pequena curvatura para dentro na região lombar.

A cabeça não deve se inclinar para nenhum lado e sim um pouco para frente. O queixo abaixa-se um pouco em direção ao peito, de tal modo que o alto da cabeça, aquele lugar onde os sacerdotes judeus e cristãos colocam o solidéu pareça estar sendo puxado para cima por uma força invisível.

POSTURAS – O tipo ideal varia segundo costumes e cultura de quem pratica. O que para uma pessoa é ideal e conduz ao relaxamento e concentração, para outra causa sofrimento e desconforto. Experimente todas e escolha a que se adapte às suas necessidades pessoais. O importante é conseguir o estado de relaxamento, concentração e atenção necessário.

A postura de lótus - sentado com as pernas cruzadas: plantas dos pés voltadas para cima, dorso de cada pé repousa sobre a barriga da perna oposta.

Assento japonês: de joelhos, sentar-se sobre as pernas, com uma pequena almofada entre os pés e o chão, ou entre as nádegas e os calcanhares, sem distender muito os tendões.

Assento beneditino: num pequeno banco: a parte inferior das pernas é enfiada sob o banquinho, de modo que é fácil manter as costas retas.

Assento ocidental: Numa cadeira, pernas em ângulo reto, plantas dos pés apoiadas no chão ou numa almofada (escabelo).dobrado.

A coluna deve ficar reta e caso o assento da cadeira tenha uma inclinação para trás, coloca-se um apoio (um livro ou uma almofada) sob o cóccix. As coxas devem ter contato com o assento, mas a coluna não deve encostar-se ao espaldar da cadeira.

Observação: As duas primeiras podem ser mais difíceis para o homem ocidental, mas vale a pena praticá-las. Nessas posturas, nossa base está firmemente ancorada, é fácil manter a coluna e a bacia na vertical, e a energia flui mais livremente por elas. Mas o bom senso recomenda que, o ato de sentar deve facilitar e não tornar o exercício um sacrifício doloroso e, portanto, ineficaz.

Passo a Passo
Perceba a temperatura, os sons, a textura e os cheiros do ambiente. Misture-se e se sinta integrado e penetrado por todos esses fenômenos sem se deixar se possuir inteiramente por nenhum. Expanda esse sentido para tudo ao seu redor, a cidade, a região, o país, o continente, o planeta, o Sistema Solar, o universo.

Sinta o ar à sua volta como parte de tudo e conectado a tudo o que existe. Sugue o ar com as narinas, bem lentamente, prestando atenção aos espaços internos do corpo que estão sendo preenchidos pelo ar.

Encha lentamente os pulmões o máximo que puder, usando para isto a contração do diafragma pela dilatação da barriga. Estufe a musculatura ampliando o espaço na parte inferior dos pulmões. Tente fazer isto sem erguer os ombros nem estufar muito o peito.

Segure o ar nos pulmões calmamente o maior tempo que conseguir. No início esse temo será curto. Com a prática constante deste exercício esse tempo vai aumentando gradativamente e o processo ficando cada vez mais natural.

Perceba ao mesmo tempo a troca que está se realizando nos seus pulmões. Como se você entregasse todo o belo resultado do trabalho de suas células como um presente para todo o Universo e ao mesmo tempo recebesse do Universo e outra matéria prima novinha para ser trabalhada.

Comece a soltar o ar lentamente pelas narinas e pela boca como se estivesse soprando para todas as direções, devolvendo com muita gratidão ao mundo toda a luz que foi recebida e que agora está enviando de volta.

Deixe os pulmões se esvaziarem completamente, voltando a barriga para o nível normal e deixando o diafragma relaxar, voltando para cima e contraindo os pulmões sem violência. Encolha a barriga para enviar para for o restante do ar que ainda está nos pulmões.

Tente manter seus pulmões vazios o máximo de tempo possível, em repouso.

Desfrute esse bem estar.Sinta-se satisfeito por ter recebido e doado tanta energia.Quando começar a sentir necessidade, recomece a sugar lentamente o ar somente pelas narinas para encher os pulmões e proceda todo o processo acima a partir do passo 3.

Obs.: Esse tempo de repouso também vai aumentando à medida que o organismo vai se adaptando à prática.

Respirando Conscientemente
Você não precisa esperar ter tempo nem espaço para praticar a Respiração Integradora. Ela pode ser praticada em qualquer lugar e o tempo todo. Adaptando-se seus momentos e posturas ao ambiente naquele momento.

Para ajudar a realização desse exercício sem ter que interromper as atividades cotidianas, sugerimos um modo compacto e simplificado de respirar de forma integradora e consciente. Esse modo pode ser praticado em qualquer lugar e a todo o momento.

Enquanto espera na fila, no trânsito, em casa realizando as tarefas domésticas ou até mesmo no escritório no intervalo entre duas atividades e até mesmo no banheiro é possível realizar uma respiração complete, conscientizadora, revitalizante e relaxante.

Respirar sem interromper as atividades diárias
Comece por se instalar confortavelmente. Relaxado, mas atento e concentrado.
Abaixe o olhar e o fixe em um ponto imaginário para além de tudo que você pode enxergar. É o que chamamos “olhar sem ver”.
Conscientize-se do momento presente e do local onde está. Coloque-se firmemente no aqui e no agora.
Inspire lentamente pelas narinas enchendo os pulmões de ar até o seu limite máximo. Para isto, dilate a barriga.
Enquanto inspira mentalize a frase: “tudo está em mim!”

Segure o ar nos pulmões o máximo de tempo, mas sem forçar. Tome consciência da troca que está se realizando nos pulmões. Sinta-se grato por estar recebendo o oxigênio e a vida gratuitamente.

Quando começar a sentir que deve expirar, comece a fazê-lo bem devagar. Sinta-se doando para o Universo, com generosidade e alegria, a paz, a luz e o calor gerados nas células do seu corpo.

Esvazie os pulmões lenta e totalmente. Para isto, encolha os músculos da barriga ao máximo, mas sem violência e sem exageros.

Fique o maior tempo possível com os pulmões vazios. Imagine-se todo fora de si mesmo e totalmente integrado ao universo e satisfeito por poder estar se doando.

Quando sentir a necessidade de voltar a inspirar, faça-o devagar repetindo as ações a partir do passo 4.

Perceba o bem estar que tomou conta do seu corpo e da sua mente. Este modo de respirar pode parecer difícil no começo. Mesmo assim, não desista e continue praticando-o sempre que lembrar e puder. Com o tempo e a persistência na prática logo estará fazendo-o facilmente.

RECOMENDAÇÃO FINAL

É importante lembrar que respirar pelo nariz e dilatar o diafragma distendendo a barriga e não o peito somente é a forma realmente correta. Respirar pela boca, sem distender o abdome, acaba por provocar um imenso cansaço em quem tem que falar muito ou falar alto. E também pode até gerar doenças do esôfago e estômago.

Infelizmente os hábitos modernos, nosso jeito de falar, andar e nossas roupas, calçados, cadeiras, poltronas e camas só contribuem para uma respiração medíocre e até mesmo prejudicial.

Mas tudo isso pode, com bom senso e persistência, ser deixado de lado, ou pelo menos adaptado para interferir o mínimo possível no ritmo ideal de vida. Afinal, nada é permanente. Tudo mudo e pode ser mudado. A sabedoria está em fazer com que essas mudanças sejam, o mais possível, para o bem estar nosso e de todos os seres.

Sarva mangalam!

Que todos os seres possam estar em paz!



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Conteúdo desenvolvido por: Ton Alves   
Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade.
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