ESPECIAL STUM: Resgatando a liberdade de sermos quem somos

A educação que recebemos de nossos pais, o exemplo vindo deles e de todas as pessoas relevantes, durante os anos de nossa formação, com certeza marcaram profundamente nossa maneira de ser e de agir ainda hoje. Eram outros tempos, é claro, mas os valores vigentes falavam de honestidade, respeito, ação correta, compaixão com os menos favorecidos e muitos outros aspectos que nos levaram a sermos o que somos.

Lembro-me claramente que nada era comprado a credito. Um envelope colocado bem à mostra sobre a geladeira recebia a cada mês uma quantia em dinheiro que, uma vez completada, servia para comprar uma TV nova, os móveis da sala, ou pagar umas curtas férias na praia. Havia ainda uma reserva que sempre foi suficiente para chamar em emergências um médico-anjo que atendia a domicilio ou para enfrentar fora de casa o dentista-carrasco que cuidava de nossa boca.

Não sou saudosista e devo confessar que muita coisa precisava mudar a fundo no estilo de vida da época, em que imperavam a escassez e a obediência absoluta a regras nunca questionadas.
Quase todo mundo estudava principalmente para garantir uma carreira segura, que permitisse uma vida digna, já projetando uma aposentadoria sagrada, ainda que fosse no serviço público, nas forças armadas ou no clero. Sim, a presença da religião dominante era fortíssima e eu mesmo sofri pressão para me tornar padre.

A religião, que em tudo estava ativamente presente, tornava-se algo automático, que repetia à exaustão refrões de culpa e pecado, um percurso quase sem saídas que começava com o batizado (sem nossa autorização, obviamente) e seguia pelos outros sacramentos, com destaque para a missa dominical, com relativa confissão (que constrangimento!) e comunhão, na espera temida e fatídica da extrema-unção, o sair de cena de uma única vida que, de acordo com aquilo que nos era passado, deveria ser de obediência, disciplina, penitência e sofrimento.
Pouco se entendia, nada se percebia realmente sobre Deus, entidade severa e distante que governava a todos através de seus dez mandamentos. Lembro que eu aceitava e me motivava somente com o "ame ao seu próximo como a si mesmo", questão que tornava os outros nove totalmente supérfluos, talvez por virem carregados de uma energia imperativa, distante, ríspida e vingativa. E ainda cujo julgamento final era definitivo, sem perdão, sem apelação. Mas que inferno!

Pessoalmente, não apreciava todos esses e outros conceitos, que considero um grande erro, uma aberração, uma formatação perniciosa de nosso futuro, de nosso imenso potencial criativo e creio que foi por querer me libertar dessa triste realidade que escolhi o Brasil para morar e trabalhar. Meu irmão mais novo acabou trilhando o mesmo caminho e ficou muitos anos por aqui. Os outros dois irmãos acabaram se aposentando por lá.
Bom, na realidade, o episódio que inspirou este boletim foi um fato doloroso em minha vida, que o tempo ainda não deletou de minhas memórias.
Quando eu e meu irmão "brasiliano" nos estabilizamos, cansamos de convidar nossos pais para nos visitar por aqui, afinal, pagaríamos as passagens e a hospedagem ia ser em uma de nossas residências.
V. bem sabe que convencer um genitor a fazer algo pode ser tarefa complicada e, sempre que entrávamos no `assunto viagem´, meu pai dizia que, por gostar tanto do Brasil, mesmo sem nunca ter estado aqui, queria ficar bem mais tempo do que um breve período de férias para conhecê-lo a fundo e, como a aposentadoria estava próxima, nada como ter um pouco de paciência e adiar o tour por uns meses mais.
Assim, dez meses antes de finalmente conquistar a aposentadoria, após mais de 40 anos de trabalho, em vez de conhecer este lindo País, escolheu o dia 2 de Novembro para retornar de vez à Casa do Pai.

Ao relembrar este fato, ainda sinto como que um soco, um grande nó na garganta, até pelo fato de que não consegui me despedir dele naquele momento complicado de minha vida, com um filho de poucos meses e a jovem esposa que ainda não sabia se virar em São Paulo. Perder o pai é algo que machuca muito, mais ainda quando estamos distantes; no entanto, as diretrizes recebidas e o encaminhamento para a vida prática, seu exemplo honrado e seus ensinamentos continuam vivos em mim.

Mas a roda da vida gira sem parar e a família unida de além-mar se divide, se multiplica e agora é da nossa que precisamos cuidar. É quando devemos assumir o papel real de pais, a responsabilidade para com nossos rebentos, espelhando-nos nos conceitos adquiridos, mas buscando filtrar, descobrir e agregar tudo aquilo de bom, de verdadeiro e sagrado que as preciosas experiências dessa existência trouxeram.

É a evolução do ser humano, a descoberta de nossa missão, livres de condicionamentos, de dogmas e pressões externas; o encontro com outros filhos e irmãos que estão em sintonia vibracional conosco, que formam um grupo de obreiros, servidores e buscadores da Luz. Seres por vezes um pouco fechados, introvertidos e que pouco aparecem, mas que com sua energia cristalina, somada a de tantos outros companheiros, de fato ainda sustentam a Verdade, mantendo vivos os valores universais e eternos: uma teia de pessoas dedicadas e conscientes de seu papel, que vivem de forma serena, lúcida, harmoniosa e amorosa.

Trata-se de um grupo especial que é a evolução do núcleo familiar e social e que também se coloca além dos inúmeros grupos interligados por laços de origem, raça, cor, princípios vários, religiões e crenças diversas, bem acima de tudo o que divide, separa; seres vivendo no amor, espalhando à sua volta um halo de energia benéfica, de bem-aventurança, de paz e transformação.
Temos, sim, muito o que reconhecer e agradecer aos nossos antepassados por terem feito tudo que esteve ao alcance deles, preparando o caminho da nossa jornada, conscientes agora de que estamos por nossa vez sendo exemplo para nossos filhos na missão de vida, estimulando-os a irem muito além de nosso legado, a buscarem a Verdade que liberta somente dentro de si mesmos, como seres livres, conscientes de seu valor, poder pessoal e divindade.

Namastê
Sergio STUM

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