CONVERSANDO COM KRISHNA

Autor Hellen Katiuscia de Sá - [email protected]
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“FALA ARJUNA:
Explica-me, ó Mestre, quais as características de um homem que tenha atingido perfeita sabedoria por experiência espiritual absoluta (samadhi); como fala um homem auto-realizado? Como é que ele vive e age?

FALA KRISHNA:
Quando o homem é perfeitamente liberto de todos os desejos do ego finito e alcançou a paz da alma pela realização do Eu divino, então, é um homem de perfeita sabedoria.

Quando alguém permanece calmo e sereno no meio do sofrimento, quando não espera receber do mundo objetivo permanente felicidade e quando é livre de apego, medo e ódio – então é ele um homem de perfeita sabedoria.

Quando não é apegado a um e indiferente a outro; enquanto não se alegra em excesso com o que é agradável, nem se entristece excessivamente com o que é desagradável – então é ele um homem de perfeita sabedoria.

Quando o yogui é capaz de retrair totalmente os seus sentidos dos objetos sensórios, assim como a tartaruga retrai para dentro de si os seus membros – então está firmemente estabelecido na sabedoria.

Pela prática da abstenção pode alguém amortecer os seus sentidos e torná-los insensíveis aos prazeres sensitivos; mas não torna necessariamente insensível aos desejos dos mesmos, o desejo dos prazeres sensitivos cessa somente quando o homem entra em contato com o Espírito Supremo dentro dele.

Ó Arjuna! Os sentidos descontrolados arrebatam com violência a mente, até do homem sábio em determinada perfeição, se não tiver a devida compreensão.

Por isso o yogui domina os seus sentidos, dirigindo-os a mim e assim se torna ele firmemente estabelecido em mim, o Ser Supremo. O homem que tem perfeito domínio sobre os seus sentidos é um sábio.

Quem pensa sempre em objetos sensórios apega-se a eles; desse apego nasce o prazer e o prazer gera inquietação.

A inquietação produz a ilusão; a ilusão destrói a nitidez da discriminação; e, uma vez destruída a discriminação, esquece-se o homem da sua natureza espiritual – e com isto vai rumo ao abismo.

Mas o homem que possui domínio sobre o mundo dos sentidos e da mente, sem odiar nada nem se apegar a nada, orientado pelo Eu central, este encontra a paz. Essa paz neutraliza todas as inquietações e o homem que goza de paz goza de verdadeira beatitude – e acaba por superar também os males externos.

Impossível a aquisição de sabedoria pela mente descontrolada; impossível a meditação para o homem inquieto! E se o homem não encontrar a paz dentro de si, como pode ser feliz? O homem sem o domínio sobre a sua mente e seus sentidos é como um navio levado à mercê das ondas.

Homem de perfeita sabedoria é aquele que possui perfeito domínio sobre seus sentidos com relação aos objetos sensórios. Onde para outros reina a escuridão, lá enxerga ele a claridade; e onde o profano fala em dia cheio de luz, lá o vidente espiritual não vê senão a noite tenebrosa da ignorância.

Todos os rios deságuam no oceano, mas o oceano não transborda e em suas profundezas reina imperturbável tranqüilidade – assim é o homem iluminado pelo conhecimento de si mesmo: de todas as partes o invadem as impressões dos sentidos – e submergem todas no seu Eu imóvel e imperturbável.

Livre de todos os desejos, é o homem senhor, e não servo, dos prazeres; livre de propriedade, une-se ele com o Todo e encontra a paz verdadeira.

Isto se chama viver na consciência de Brahman. Quem atingiu esse estado, nunca mais pode recair na ilusão antiga; e, vivendo nesse estado de consciência, o yogui alcança, finalmente, libertação absoluta na experiência de sua união com Brahman (nirvana).”

Trecho do livro “BHAGAVAD GITA”, com tradução e notas de Huberto Rohden, Martin Claret Editora

Glossário:
BRAHMAN (neutro): é a Divindade Universal, a Essência Absoluta.
NIRVANA: quietação, o repouso na Verdade de Deus adquirido pela extinção de todos os desejos do ego humano.
YÔGA: união do finito com o infinito.
YOGUI: aquele que procura unir-se ao infinito.

“BHAGAVAD GITA” quer dizer “CANÇÃO SUBLIME”. E é uma das passagens da poesia épica “MAHABHARATA”, escrita originalmente em sânscrito, e contém cerca de duas mil páginas. Ela, juntamente com o RAMAIANA, constitui o corpo fundamental da literatura sagrada indiana. A narração é dividida em 18 livros, mais ou menos oito vezes o volume da Ilíada e da Odisséia juntos.

A “Canção Sublime” é um convite ao ser humano para desenvolver seu autoconhecimento e sua auto-realização. Essa poesia foi traduzida para todas as línguas modernas e foi essa passagem que motivou Mahatma Gandhi em sua luta pela libertação política da Índia sem qualquer derramamento de sangue para chegar ao seu objetivo.

A poesia nos mostra o caminho do RETO-AGIR, ou seja, agir conscientemente e de acordo com a vontade interior, quando esta vem de um homem que conseguiu seu auto-controle. Desse modo, o RETO-AGIR torna-se expressão da Vontade Divina ou, simplesmente, é motivada pelo seu Eu verdadeiro. Em outras palavras, a vontade de Deus. Para tanto, “Krishna” explica a “Arjuna” que, normalmente, as pessoas vivem na ilusão do FALSO-AGIR e do NÃO-AGIR. Ambas impelem o homem num túnel cada vez mais profundo em erros.

A “Canção Sublime” busca mostrar que somente agindo por amor ao EU verdadeiro o homem age por consciência própria, livre de culpas. Porém, necessário se faz o conhecimento de si mesmo e isso é conseguido se mergulharmos no fundo de nós mesmos, para sabermos quem somos na realidade, sem artifícios ou máscaras. É um caminho difícil, mas não impossível!

“Canção Sublime” é uma leitura muito agradável. “Krishna” é o aspecto do homem cósmico; ele pode ter a figura de uma criança, uma moça ou um rapaz (ilustração acima). E “Arjuna” simboliza o homem governado por suas dúvidas e seu medo (o eu/ego humano). No caso da “Canção Sublime”, “Krishna” está representando nossa consciência, ou seja, nosso Eu divino. Se o escutarmos estaremos libertos.

“BHAGAVAD GITA” traduzido por Huberto Rohden, é muito suave e contém notas explicativas do tradutor sobre algumas expressões da poesia. Rohden também faz paralelo com os ensinamentos cristãos, sem o menor interesse de direcionar o que está sendo mostrado.

Hellen Katiuscia de Sá
23 de abril de 2005

Texto revisado por Cris

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