A UNIDADE DA VIDA

Autor Christina Nunes - [email protected]
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Imagine por um momento que a sua estrutura psicológica espiritual fosse robusta o bastante para suportar a recordação da carga total da sua experiência evolutiva, de tal forma que prescindisse do estágio cíclico dos nascimentos e mortes na matéria, proporcionador, de dentro da lógica misericordiosa que rege a reencarnação, do esquecimento temporário de todo o percurso anterior, a cada vida na matéria. O que teríamos?

Considere-se, para efeito de entendimento, mesmo que condicionado pelas limitações rudes de concepção da unidade da vida para aquele que se acha reencarnado, já agora, tal como de fato é: um ser apenas, em ininterrupto processo de aprendizado e de desenvolvimento das suas faculdades espirituais, do seu aprimoramento progressivo de consciência para com as realidades mais abrangentes do Universo.

Em praticando tal exercício, mais fácil seria a compreensão da unidade, da ausência de solução de continuidade para aquele imenso repertório que nada mais constitui do que o nosso vasto histórico de vida, desde os evos nebulosos e inalcançáveis dos nossos primórdios até o momento presente, numa intrincada rede de causas e conseqüências para cada uma das nossas escolhas, reações e atitudes, nos afetando, e ao próximo, ininterruptamente, e formando uma cadeia cada vez mais extensa de laços e de elos com cada coisa e ser na Criação, com os quais interagimos.

Renascemos a cada estágio na matéria aparentemente envergando um novo ser, que, no entanto, é a expressão da continuidade de nós mesmos, refletindo as nossas aquisições íntimas de cada minuto, e compondo, assim, o complexo mosaico das personalidades sucessivas que ostentamos em perfeito processo de correlação entre as modificações imperceptíveis, mas inquestionáveis que, mesmo quando ainda no palco transitório da matéria, manifestamos.

A única e expressiva diferença se faz no aspecto físico diverso a cada reencarnação, e no quantum de mudanças cumulativas que, de dentro da contagem de tempo própria dos parâmetros físicos terrenos, logramos demonstrar após intervalo mais ou menos extenso, em termos de décadas ou séculos, acentuando a ilusão, para os que na matéria nos recebem, de que se trata da chegada de um ser inteiramente novo, desarticulado dos personagens de passado que, na maioria das situações, não podem ser tomados em termos comparativos, que nos ofereçam o reconhecimento devido de que aquele que um dia, num passado distante, deixou as fugazes realidades corpóreas, agora retorna, ele mesmo, portando a bagagem de tudo que assimilou desde então, também na pausa para repouso nas estâncias invisíveis.

Mesmo de um para outro minuto não somos mais a mesma pessoa. Com intervalo de anos, nossas células se renovaram num novo aspecto corporal. O bebê de ontem não reflete mais a realidade dos nossos quarenta ou cinqüenta anos no corpo físico. Modificamos opiniões e preferências. a tal ponto que, o mais das vezes, nós mesmos experimentamos dificuldades em reconhecer, na atual expressão do nosso ser, aquilo que éramos há dez anos apenas.

Sentimentos passaram; o que antes era motivo de entusiasmo, talvez não mais; robustecemos, amadurecemos o aspecto airoso da adolescência; o branco insinua-se onde antes predominava a totalidade de cabelos escuros. A modificação mais extrema dá-se com a transição de um para o outro nível de vida.

No entanto, apesar da modificação dramática de aspecto e de realidades externas de um para outro período reencarnatório, pudéssemos arcar com a memória sucessiva ininterrupta de todas estas etapas de experiências, sem dano para nosso panorama emocional, ao deparar com toda a descomunal magnitude de sofrimento e de lutas que permearam este passado, tudo que reconheceríamos seria a continuidade pura e simples da nossa própria história única, e de nossa única vida, em companhia de um número incontável de personagens que nos acompanham, ora mais de perto, ora de mais distante, durante todo este tempo. Entenderíamos com maior clareza o tanto que se amesquinham contrariedades de momento que chegam a atingir a condição do ridículo, quando nos achamos em situação de abranger a extensão total dos lances dramáticos que já vivenciamos e vencemos em comum. Fácil ficaria a visão da preciosidade muito maior do cultivo do afeto perene, leve e grato ao imo de nossa alma, em substituição ao peso sombrio e amargo dos ódios e dissensões passageiros que voluntariamente prolongamos e arrastamos - para nosso próprio prejuízo, em primeiro lugar - durante um intervalo de tempo tão dilatado.

Imperiosa se faz a noção definitiva da unicidade da nossa vida, para entendermos, de uma vez por todas, que os únicos e exclusivos responsáveis pela qualidade da nossa vida, no seu prosseguimento inexorável e infindo, somos nós mesmos. Indispensável se pede a tomada de consciência da nossa responsabilidade para com os rumos do nosso destino, no entendimento de que os capítulos aparentemente desconexos no nosso percurso foram escritos não por um autor fatalista e alheio à nossa vontade; mas por nós, os principais interessados, determinando reações felizes ou infelizes daqueles que conosco interagem, e lances iluminados ou sombrios que nos atingem diretamente, em primeiro lugar, no processo, conferindo-nos, por outro lado, a liberdade plena para fazer da nossa existência aquilo que imaginamos, por enquanto, apenas nos nossos melhores sonhos.

Isto pode ser começado já: neste único momento que nos é disponível para agir, a partir de um simples entendimento, e tomando-se em conta um adágio antigo e sábio que nos ensina que, em verdade, “o amanhã não existe”.

O meu afeto a todos os visitantes,

Caio Fábio Quinto
pela psicoinfografia de Lucilla

"Elysium"
https://www.elysium.com.br

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
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