Como eu poderia ter contraído a hepatite C? Após pesquisar, conversar e analisar, apareceram opções como o uso de manicures, pedicures, barbeiros, dentistas, serviços de enfermagem e farmácia, médicos, cirurgias, transfusão de sangue, tatuagem, brincos, aparelho de lâmina de barbear (no uso comum), escova de dentes (usada indevidamente por outra pessoa), enfim, o que pudesse resultar no contato do sangue com sangue ou seus resquícios.
Minha hepatite está me acompanhando há 10 ou 20 anos, talvez 30. E só em 1992, no Brasil, é que ela foi identificada. Portanto, fica difícil saber a forma como eu contraí a doença. Esta hepatite, a minha, é crônica e desenvolve-se lentamente, de forma silenciosa, sem que a gente possa perceber. Nunca tive qualquer sintoma e, se não fosse aconselhado a fazer os exames, nunca saberia que sou portador do vírus da hepatite C. Como eu vamos encontrar no município de São Paulo mais de 500 mil pessoas com a hepatite C. Destas, cerca de 300 mil não sabem que estão doentes e algumas irão descobrir quando já necessitarem de um transplante de fígado ou nada mais puder ser feito.
No Brasil, os portadores do vírus da hepatite C são 5 milhões de pessoas segundo estimativas. Pelo descontrole da doença acredito que já passe de 10 milhões de portadores. No mundo são 200 milhões de pessoas com hepatite C ou seja, 5 vezes mais do que os portadores da AIDS (40 milhões de pessoas). Não há, de parte da imprensa e das autoridades da saúde, qualquer orientação preventiva ou previsão de uma campanha nacional para promoção de exames e testes na população. Gastam milhões de reais com chamadas de partidos políticos ou plebiscitos desnecessários e não proporcionam 30 segundos, em horário nobre na TV, para que o alerta seja dado.
Milhares de pessoas morrem anualmente, no Brasil, por causa do vírus da hepatite C. Muitas não são sequer medicadas e jamais terão a oportunidade de um transplante de fígado. Agora parece que vão mudar o critério dos transplantes dando preferência aos casos mais graves. Até recentemente, pessoas saudáveis recebiam um novo fígado sem haver necessidade pois os tratamentos já são suficientes na maioria dos casos. Outro horror é o controle de doação de sangue, onde muitos doadores estão na classe de risco e, no entanto, omitem dados pessoais para não parecerem promíscuos ou se comprometerem.
E tudo isso acontecendo na maior cidade da América do Sul! E nas cidades menos privilegiadas ou com poucos recursos? As manicures, pedicures, dentistas, farmacêuticos, etc, terão os devidos cuidados com a higiene de seus instrumentos de trabalho? Se nos bairros nobres de São Paulo pode-se encontrar a falta de esterilização de instrumentos cortantes ou perfurantes, o que estará acontecendo no Brasil afora?
Quem toma as injeções de Interferon e os comprimidos de Ribavirina C sofrem conseqüências como a queda de cabelo, mau humor, cansaço, coceiras e problemas na pele, ressecamentos nos olhos e narinas assim como na pele em geral e, em alguns casos acontece muita irritação, depressão e falta de interesse no convívio social. São só alguns dos reflexos da medicação para a cura da hepatite C.
Muitas pessoas se isolam e deixam suas vidas desmoronarem. Tudo porque a sociedade vê, no portador do vírus da hepatite C, o sinal da promiscuidade. Mencionei acima várias hipóteses de como contrair o vírus e na maioria das opções não há qualquer situação promíscua. Pelo contrário, fazem parte da rotina do dia-a-dia da população brasileira. É importante destacar que na relação sexual, no beijo e no abraço não se contrai a hepatite C. Somente com o sangue em contato com o sangue.
Precisamos cobrar das autoridades e da imprensa uma maior atenção neste alerta geral e criar para os portadores do vírus da hepatite C e suas famílias um clima de otimismo, humor, simpatia, alegria, cordialidade e coragem.
Fernando Tibiriçá
Texto revisado por Cris
Autor Fernando Tibiriçá
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