Matrizes Perinatais

Autor Patricia Dozza Soubihe - [email protected]
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Perinatal é um termo criado pela psicologia transpessoal e significa “em torno do nascimento”. Portanto, experiências perinatais são experiências relacionadas a todo o processo do nascimento, desde a concepção até o momento imediatamente após o parto.

Estas experiências concretas, pelas quais todos os seres vivos passam, influenciam profundamente o desenvolvimento e a vida adulta do ser, pois ficam registradas em nossa memória e criam padrões de comportamento que tendem a repetir essas experiências ao longo da vida, caso não tenham sido plena e satisfatoriamente vivenciadas.

Para fins de compreensão, dividimos estas experiências perinatais em quatro etapas ou quatro momentos e as chamamos de matrizes perinatais. Uma pessoa pode ficar literalmente “presa” em uma ou mais destas matrizes, até que esta seja perfeitamente compreendida e integrada na psique.

Apresento abaixo um esquema onde se pode observar cada matriz relacionada a seu padrão de comportamento saudável (quando plenamente integrada) ou o patogênico correspondente, bem como, visões e sensações coletadas em trabalhos com estados ampliados e consciência.

Matriz Perinatal I

Chamada também de “oceânica” é o momento onde o feto é pequeno e o espaço no útero materno é grande. Quando a gravidez é desejada, o estado de saúde da mãe é bom e o ambiente familiar é estável costumamos encontrar imagens de vastas regiões sem fronteiras, acompanhadas de uma incrivelmente prazerosa sensação de liberdade; identificação com galáxias, estrelas ou seres marinhos, como golfinhos ou baleias. As memórias intra-uterinas imperturbadas podem também abrir visões da natureza segura e provedora, linda e incondicionalmente amorosa: a mãe terra. A experiência do “útero bom” também pode abrir perspectivas paradisíacas como o Reino dos Céus, descrito pelas diferentes culturas.

Em seu aspecto negativo ou em experiências de “útero mau”, temos memórias de sensações de ameaça e sentimos que estamos sendo envenenados. Surgem imagens retratando águas poluídas e depósitos de lixo, onde nos encontramos mergulhados. Isto acontece em casos de ingestão de substâncias tóxicas como cigarros, bebidas alcoólicas e demais drogas ou, mesmo, devido a problemas de saúde da mãe, estados de medo, raiva, brigas familiares, etc. Situações como eminência de um aborto, natural ou intencional, são geralmente conectadas a sensações de ameaça universal e visões apocalípticas do fim do mundo.

Consequências associadas da vida pós–natal:

Aspecto positivo: capacidade de reproduzir sentimentos de felicidade e liberdade, prazer físico, relações compensadoras de amizades, namoros, admiração pela beleza e pela arte, respeito pela natureza ...
Aspecto negativo: sintomatologia paranóide, sentimentos de união mística com forças maléficas, sensações de estar impuro ou doente, hipocondria, devaneios e percepção confusa da realidade.

Matriz Perinatal II

Também conhecida como “inferno sem saída” é o momento próximo ao parto, quando o bebe é grande, o espaço no útero é pequeno e as contrações começaram, mas a saída ainda não se mostra possível. Esta etapa é sempre percebida como difícil. As memórias intra-uterinas desta matriz nos remetem a sensações de estarmos sendo esmagados por rolos compressores, engolidos por feras gigantescas ou presos nos tentáculos de enormes polvos.

Joseph Campbell comenta a respeito desta matriz como sendo “o tema universal da jornada do herói”:

“Reviver completamente este estágio do nascimento, onde o útero está contraindo, mas o colo ainda não está aberto, é uma das piores experiências que um ser humano pode ter.” S. Grof

Campos de concentração, masmorras, hospícios, animais presos em armadilhas, Cristo perguntando a Deus porque o abandonou... Este estado de escuridão e desespero é conhecido como a noite escura da alma e é um importante estágio da abertura espiritual, se for vivenciado em sua profundidade, trazendo efeitos purificantes e
libertadores.

Consequências associadas na vida pós-natal:

Aspecto integrado: capacidade para enfrentar situações difíceis da vida, como doenças, assaltos, acidentes, etc.
Aspecto mal integrado: sensações de “um mundo sem sentido”, severas depressões, sensações irracionais de culpa e inferioridade, fuga diante de situações difíceis, alcoolismo, etc...

Matriz Perinatal III

Conhecida como “inferno com saída”, trata-se do momento do parto propriamente dito; é o momento em que o colo se abre e o bebe fará o esforço necessário para atingir a liberdade. Esta fase é extraordinariamente rica e dinâmica. As memórias nesta fase são associadas com batalhas, cenas sangrentas de violência, confronto com impulsos sexuais, cenas de orgias, sabat de feiticeiras, etc..., em uma mistura de excitação, ansiedade, agressão, dor e contato com materiais biológicos normalmente repulsivos. É um importante momento de encontro com os impulsos obscuros de nossa personalidade, a sombra, descrita por Jung.

Consequências associadas na vida pós-natal:

Aspecto integrado: sexualidade positiva, reintegração da “sombra”, capacidade de gerar autoconfiança e confiança em seu processo, positividade diante da vida, consciência de seus potenciais e força interior.
Aspecto não integrado: elementos sadomasoquistas e escatológicos, desvios sexuais em geral, automutilação, neurose obsessiva compulsiva, asma, tiques nervosos e gagueira.

Obs.: Os cesariados simplesmente são privados de vivenciarem esta matriz, formando-se uma lacuna em sua psique. É comum trabalharmos com pessoas cesariadas que simplesmente “não sabem” como “sair” de uma situação.

Matriz Perinatal IV

Conhecida como “a saída” é o momento imediatamente após o parto, quando o médico corta o cordão, dá o famoso tapinha e coloca a criança nos braços da mãe. Esta matriz, assim como a primeira, depende de uma boa condução, sendo um momento de crucial importância; representa o emergir para o mundo, traz memórias de chamas purificadoras e identificação mitológica com a fênix. O fogo purificador consumindo tudo o que é corrompido e trazendo as sombras à luz. É um momento de morte e renascimento, pois aquele ser aquático, que vive em um local escuro e protegido, alimentado por um cordão, morre, dando lugar a um ser terrestre e independente, que respira e se alimenta às suas próprias custas e vive na luz.

Aspectos negativos são observados quando após tanto esforço, luta, morte e renascimento a criança não é “bem recebida” ou é rejeitada ou não pode ter contacto imediato com a mãe (precisa ir para encubadeira); ou mesmo por negligência e insensibilidade por parte dos médicos sobre a importância deste momento e, principalmente, pela falta de conhecimento de que estes registros ficarão marcados na memória daquele ser...

Consequências associadas na vida pós-natal:

Aspecto integrado: capacidade de vencer obstáculos, sensação de saciamento, contentamento diante da vida, capacidade de gerar fé na existência e boa vontade.
Aspecto não integrado: sentimentos de destruição, não reconhecimento, delírios messiânicos, exibicionismo, necessidade de “chamar atenção” para si, dificuldade de contacto afetivo, físico e/ou emocional.
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