O virtual real

Autor Sylvia R. Pellegrino - [email protected]
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O meio literário ganhou espaço jamais sonhado com o advento da internet. Um ponto de referência para a reunião de todos aqueles que têm afinidades com a literatura, sejam escritores, poetas, contistas, cronistas, cordelistas, sonhadores, palavreiros, meros exercitantes e demais literandos, consagrados ou não, novos talentos, desconhecidos, sem espaços. Firmou-se um fórum irrestrito onde todos têm a liberdade necessária para divulgarem seus pensamentos, certamente espelhando o que lhe vai pela alma.
Esse meio de comunicação transformou-se na brecha de mídia, perfurando o ainda tão seletivo e exigente espaço de divulgação estatuído, tendendo assim aos anseios de tantos e tantos, ainda excluídos do meio literário, de forma a se tornar mais um canal de divulgação dos valores literários ainda à margem dos olhos da sociedade, adotando democraticamente a postura independente em relação às políticas conhecidas.
Hoje a família literária brasileira ganha cada vez mais espaço e se firma no meio virtual como um dos grupos mais bem conceituados e de alto nível, levando a tantos novos leitores o respeito mútuo, o reconhecimento autoral, a seriedade com o trato literário, a divulgação de nomes até então desconhecidos, a afirmação dos já conceituados, e o principal que é a singularidade voltada para o amor à Literatura, inexistindo quaisquer tipos de preconceitos quanto aos estilos literários, característica preservada a cada escritor.
Muito a fazer pela literatura brasileira, ainda, mas o essencial é que se conseguiu criar hábitos de leitura, tão relegados, antes do virtual. Claro que o respeito ao livro impresso há de se perpetuar, mesmo porque ambas as formas podem conviver em harmonia, buscando com o olhar voltado para o futuro, versar na beleza das palavras divulgadas via internet ou via impressa. Esta é uma forma de se olhar o futuro e se desenvolver tão sadio hábito que certamente transformará o pensamento do povo deste país.
O universo das letras saiu ganhando com esta realidade que surgiu de um sonho e como realidade despontou materializando nos corações de todos os brasileiros a manutenção da chama pela Literatura viva.
O desejo de contribuir efetivamente com a cultura deste nosso país impeliu inúmeros cidadãos ao trabalho voluntário, retirando das gavetas os ensinamentos e a filosofia inserta em seus escritos. Numa nova expressão de amor, que não cerceia ou cobra, muitos aprendemos para ensinar e coadjuvando com aqueles já reconhecidos viemos retirar o caos cerceante da ignorância e da inércia, ou omissão. Aos olhos atentos da crítica literária o nosso respeito e o nosso convite para virem conhecer a verdadeira expressão literária de um povo. Sem máscaras, sem tabus, sem absurdos ou esquisitices oportunistas. Que venha o universo literário já consolidado certificar-se como a palavra colocada com simplicidade e humildade, forma leis que estão sendo rigorosamente cumpridas em prol da verdadeira expressão escrita.
O sonho continua. Novos desafios certamente se apresentarão de forma soberana.
Cientes de que o ensino da Língua Portuguesa não pode restringir-se à transmissão de regras gramaticais e de que a leitura pode ser uma atividade deflagradora da produção textual, temos certeza que a rede de internet é a alternativa mais contributiva, neste momento.
A primeira reflexão que propomos é sabermos que não devemos ler apenas o que nos é conceitualmente apresentado como o convencional e o necessário. Ler não é uma atividade vazia de significação. Da leitura advém o conhecimento que amplia as possibilidades do bem escrever.
A segunda reflexão que propomos é sobre o ato de leitura. Ler não é uma atitude passiva, não é simples decodificação de sinais gráficos, mas pressupõe uma atividade de reconstrução de sentidos, das emoções e dos sentimentos que nos faz parte do todo, como ser humano que somos. Ela não é um ato solitário porque envolve uma forma de diálogo com o escritor, ou melhor, com diversos escritores. No momento em que intelectualizamos um texto, introduzimos novos questionamentos à mente e ampliamos nossos horizontes. O texto literário apresenta sempre a possibilidade de acrescentar novos conhecimentos, ele cria uma rede de conexões, atravessando nossas experiências pessoais e formando processos intercomplementares.
A sociedade reflete-se num texto, portanto a cultura viva estará sempre inserta em cada texto lido, porque este não é a simples reunião de enunciados sintagmáticos e gramaticais.
Preocupados então com a necessidade do aprendizado e com a cultura do povo brasileiro é que ocorreu e se amplia este novo movimento cultural, via internet. A produção literária transformou-se num grande movimento de voluntariado.
A utilização do computador, além de meio de divulgação da nova produção literária, socializou a cultura. Em tempos anteriores, como ainda acontece com o livro impresso, a cultura só estava ao alcance das classes mais favorecidas. Atualmente o texto ao ser lançado à rede pode ser acessado de qualquer parte do mundo e por qualquer pessoa. Compartilhar o escrito com várias pessoas oferece sentido à produção literária. Além disso, com a preocupação do governo em disponibilizar computadores às escolas públicas, aumentará cada vez mais essa socialização.
O discurso literário torna-se um gesto representativo de uma coletividade produtora. Cada texto linkado é responsável por nova leva de leitores. Os sites literários estabelecem sempre uma ponte para outros escritos, ele é parte de uma produção coletiva, sua dimensão democrática se esgarça na tela do computador. Eles dividem essa responsabilidade com uma coletividade que alarga o campo de alcance a cada dia. Além disso, à medida que o internauta vai linkando outros escritores ele torna-se, literalmente, um leitor.
Essa transgressão do espaço do papel à tela do computador oferece uma liberdade de compilação inestimável e infinita. O cruzamento de informações também é uma característica singular do texto digitalizado.
Não podemos ignorar ainda que o computador é um meio muito mais favorável aos cruzamentos textuais pela sua capacidade de armazenamento e à troca de idéias. Por outro lado, do ponto de vista da produtividade, o leitor tem maior liberdade de reler e de interferir no texto impresso, desta forma desenvolve também a capacidade de escrita de quem lê, libertando o sujeito de certas restrições materiais, mantendo um processo dinâmico no aprendizado. Revela-se como uma prática literária de exploração e descoberta das possibilidades de expressão da linguagem verbal e não-verbal. A folha de papel, ao contrário, é um espaço restrito para o escritor, o livro é um espaço finito para seu idealizador.
Esse duplo jogo de leitura e construção insere o texto digitalizado num processo em constante movimento, pois ele jamais se encerra, mesmo quando se volta para si próprio é reconstruído. Portanto fica provado que a literatura virtual, hoje tão real, é uma forma de despertar o leitor adormecido e de fazer dele um escritor em potencial. Pelo menos o abalizará a escrever melhor, abrindo horizontes e gerando diversas práticas significantes para sua vida profissional.


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Conteúdo desenvolvido por: Sylvia R. Pellegrino   
Sylvia R. Pellegrino é advogada e escritora. Escreve romance, contos e crônicas. Tem blogs no wordpress: Ecos da Terra, O Anjo Humano, Blog de Conto.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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