Como fazer as pazes com os “eus” que moram em você

Como fazer as pazes com os “eus” que moram em você
Autor Mariana Viktor - [email protected]
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Todos nós –incluindo você– temos vários “eus”. E não me refiro a máscaras, não. Os “eus” de que falo estão mais para o poema de Walt Whitman:

“Contradigo a mim mesmo?
Muito bem, então contradigo-me.
Sou vasto.
Contenho multidões...”


Existe o “eu” que faz muito bem alguma coisa... e o “eu” que não leva o menor jeito pra outra. O “eu” que diz não ter preconceito e aquele que julga precipitadamente, sem dar-se conta do que acabou de fazer. Existe o “eu” que fala muito bem em público e que convive com o “eu” que se perde numa conversa íntima. O “eu” que é fantástico na teoria e o que se acha incapaz na prática – ou vice-versa. Tem o “eu” generoso com os outros, mas que é mesquinho consigo mesmo. O “eu” que morre de medo de perder um emprego nada-a-ver por achar que não conseguirá outro melhor, e o “eu” que sabe que é bom à beça no que faz e que fracassar é apenas desistir. Tem o “eu” socialmente simpático e o “eu” que é ranzinza com as pessoas mais próximas.

O fato é que todos esses “eus” vivem juntos dentro de você.
O problema é que eles acabam batendo boca e criando diálogos mentais sabotadores que mais parecem tortura. Basta um “eu” resolver, por exemplo:

– Hmm, estou decidida! Amanhã acordo mais cedo pra caminhar antes do trabalho e farei isso todos os dias!

Pros outros “eus” tomarem a palavra dentro da sua cabeça:

– Ah, mas vai ser difícil sair da cama uma hora mais cedo, hein?...
– Fora que caminhar sozinha é muito chato...
– Não sei se vai dar pra manter essa disciplina diária. Talvez três vezes por semana seja melhor...
– Mas se eu desistir, vou me sentir péssima!
– É verdade, e vai ficar cada vez mais gorda e flácida!
– Mas caminhando vou demorar pra emagrecer e este mês mal tenho tempo pra almoçar...
– Ah, dane-se!... Deixa pra lá!

Soou familiar pra você? Qualquer semelhança com seus diálogos internos não é mera coincidência. Quando todos os nossos “eus” se reúnem desse jeito pra conversar, seja sobre que assunto for, parecemos incoerentes aos nossos próprios olhos – e aos olhos dos outros.
Mas tem algo muito interessante sobre essa galera: tanto o “eu” protelador, quanto o que se acha incapaz, que morre de medo de, que faz gol contra em momentos-chave da vida, que diz sim quando gostaria de ter dito não, o “eu” amargurado, o carente, o dependente, o invejoso e tantos outros... todos esses “eus” não são você!
Nosso eu verdadeiro é luz, é inteiro, é ótima companhia pra si mesmo, sabe lidar com situações-limite, sabe produzir felicidade mesmo em tempos de vento contra. É confiante, tem visão do horizonte e não de túnel. Suas narrativas não são saturadas, seu caminhar não é em círculos. Não perde tempo reclamando ou procurando culpados. Ele simplesmente faz o que tem que ser feito, faz o que ama, o que faz bem, o que é saudável, o que traz realização, crescimento, vida. É um ser ecológico.

Sim, você é assim.

Muitos desses “eus” que parecem ser quem somos, são na realidade nossas cicatrizes emocionais, grandes ou pequeninas, de ontem à tarde ou lá da infância. São esses “eus” machucados que acabam assumindo o controle de nossos pensamentos e atitudes em situações que parecem ameaçadoras para nossas emoções – mesmo que a ameaça seja somente contra o conforto de poder dormir uma hora a mais em vez de acordar cedo pra curtir uma caminhada.
Exemplo: se aos 15 anos eu tivesse sido traída pelo namorado e aquilo marcasse profundamente meu sistema emocional, dificilmente conseguiria confiar novamente em alguém, mesmo que do ponto de vista racional eu quisesse, me esforçasse e dissesse pra mim mesma que aquela dor já passou, que nem lembro mais, que foi superada faz tempo.
Isso acontece porque enquanto a lógica, o bom-senso e o raciocínio são controlados pelo néocortex – a parte do cérebro responsável pelas decisões conscientes –, as emoções são acionadas por outro departamento cerebral: o sistema límbico, que desde o tempo das cavernas nos manda fugir ou lutar diante de uma ameaça, seja ela real ou imaginária.

(Um parêntese: esse é um dos mecanismos, aliás, que alimenta a síndrome do pânico. Não há ameaça real, mas algum gatilho emocional aciona o sistema de luta/fuga, como se a pessoa estivesse cercada de búfalos enfurecidos. Eu tive síndrome do pânico por anos e quando descobri o motivo – minha guerra interna projetada no mundo externo – os sintomas sumiram.)

Voltando ao trauma dos 15 anos, basta um atraso do namorado, uma palavra mal-colocada dele ou um olhar suspeito pra outra mulher e zás!... o “eu” machucado aciona todos os alarmes emocionais do meu “eu” traído lá atrás, gerando pensamentos e atitudes equivalentes: começarei a desconfiar, a brigar, a ter comportamentos de defesa ou ataque que acabarão inviabilizando este novo relacionamento. E meu discurso repetirá que “nenhum homem presta”, “não nasci pra ser feliz”, "tenho mesmo que ficar pra titia” e outras regras sabotadoras.
E não importa se o outro fez isso mesmo ou foi apenas um “achismo” da minha parte, um equívoco de interpretação. “Se ele olhou pra direita, com certeza foi pra aquela morena lá!”.

Então, um convite pra você – você dona-de-si-mesma, ou dono-de-si-mesmo, o centro da engrenagem, a pessoa que comanda a festa da sua vida, a que tem a batuta na mão: em momentos onde a emoção gritar “presente!”, preste atenção em qual “eu” tomou a frente dos seus pensamentos e comportamentos. Ter consciência de que pode ser algum “eu” machucado reagindo a dores do passado é o primeiro passo para curá-lo.

Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Mariana Viktor   
Meu propósito é conduzir você através de uma jornada gostosa e surpreendente para o seu verdadeiro EU, melhorando o seu relacionamento com você mesmo e com os outros. Currículo: http://www.somostodosum.com.br/e.asp?i=13774 Contato para atendimentos individuais ou de casais em crise: [email protected]
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