PEREGRINO - CAMINHO DA PAZ

PEREGRINO - CAMINHO DA PAZ
Autor Djalma da Silva Leandro - [email protected]
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                     CAMINHO DA PAZ – PEREGRINO

 

Aos olhos dos transeuntes, que se encontravam na Cidade, quando um grupo de pessoas, com andar vagaroso, ritmado, com trajes suados, calça, jaqueta, bonés ou chapéus, mochilas nas costas, botas ou tênis, cheio de lama, ou poeira já bem gasto,  segurando um pedaço de pau, apodrecido, outros com bengalas em madeira bem torneadas,  e alguns com dois cajados, uma em cada mão que os sustentavam no andar vagaroso e com nítida feições de cansaço, tratava-se de "uns doidos"; "andarilhos"  que andavam pelo mato, longas distâncias, dormindo nas ruas, nas igrejas, ou em pensões baratas, ou em casa de conhecidos que o abrigavam, ou para alguns tratava-se de pessoas religiosas, fanáticas e que não tinham nada na cabeça. E paravam para olhar, com um firme pensamento - são uns pobres coitados!!...

Muitas vezes, viajando em meu automóvel  ZERO KM, bem confortável equipados com bons pneus, bancos de couro legítimos, com pinturas perolizadas, ótimo kit multimídia com TV, Internet, CD, rádio, Mp3 de última geração, geladeira de bordo etc.. me deparei ao longo das estradas principalmente nas Minas Gerais, e no Estado de São Paulo com "andarilhos"  que  margeavam os acostamentos das rodovias em que transitava em direção a um Hotel 5 Estrelas, ou Resort, com piscina, suíte, tv a cabo, DVD, um verdadeiro club de veraneio com farta alimentação, e empregados bem arrumados, cheirosos e com largo sorriso no rosto, e sempre disposto a  nos paparicar, com um cortês sim senhor!!  E pensava, comigo mesmo e as vezes comentava com meus convivas: - que passa pelas cabeças dessas pessoas, andar sozinho, com mochila nas costas, e concluía, o que a falta de juízo faz... Não conhecia outra maneira de sair de férias que não fosse num hotel de luxo, o desafio era cada vez ir  a um  hotel melhor...com mais luxo, talheres de pratas, banheira de hidromassagem, gastronomia internacional e cobertores de fios egípcios. Nunca economizei no desperdício!! Pelo contrário. Não havia dinheiro que chegasse para saciar meu desejo em consumir exageradamente. Afinal, se trabalha muito justamente para ter mais...

Em um domingo de verão,  fazendo uma caminhada pela praia,  conheci uma senhora de nome MARIA, que me falou sobre uma caminhada que teria lugar no VALE DO JEQUIRIÇÁ-UBAIRA-BA, um lugar montanhoso, com clima ameno, lindas paisagens e que havia aberto o CAMINHO DA PAZ, que se inicia em AMARGOSA/BA e termina em UBAIRA/BA, com chegada a uma POUSADA, denominada PROJETO SEMENTE, onde seu idealizador, fazia um trabalho com crianças, dando educação, alimentação, e pratica de esportes e que era mantido pelos "amigos do projeto" onde ajudava com qualquer valor. Assim enveredei pelos CAMINHOS. E ao caminhar junto com o grupo, me tornei o "alvo" dos comentários, dos rótulos que outrora dava para "aquelas pessoas"  que sempre via passar dentro do meu carro possante!! Estava eu lá, com mochila nas costas, com chapéu, com cajado nas mãos,  tênis sujos, roupa extremamente suadas,  fétidas e empoeiradas!!

Ao caminhar pelas subidas e longas descidas mato a dentro, cruzando uma cidade, povoado, currais, pulando cercas, passando por trilhas, plantações de cacau, frutas diversas, canaviais, trilhas e outras dificuldades, subindo "picos" morros, montanhas imensas, (havia hora que achava que não ia conseguir chegar ao final...), passei por desesperos, enfrentei cães, bois, vacas com suas crias, gatos selvagens, enfrentei meus medos, medo de desmaiar, medo de ser molestado, me sentir sozinho, desamparado, me questionei como cheguei até ali!!. Onde estava com a cabeça para aceitar tal desatino! Havia momentos em que com sede, com fome, com o peso da mochila nas costas rasgando minha pele, pés doloridos e com bolhas, o suor, o sol escaldante, que parecia estar cozinhando meu juízo, depois a chuva fininha, molhando minhas vestes, e aumentando ainda mais o "peso" que levava nas costas. Aos poucos cada kilômetro que andava e deixava para traz, era um alivio, a certeza de que estava chegando ao fim daquela loucura por mim iniciada, sem mesmo saber o porque. Assim venci várias etapas daquele caminho, até que no último trecho, já exausto, debaixo de um sol de meio dia, meio que desorientado, pois para mim aquilo era tudo novo, seguindo algumas "setas amarelas" pintadas por outros caminhantes voluntariamente, em cercas, postes, pedras, na própria estrada, enfim, cansado, querendo entregar os pontos, sem mais forças, não sei se foi sonho, ou mesmo vontade de que alguém me ajudasse, ou fruto do meu inconsciente, escutei um "som" como se alguém cavalgasse. Parei segurei no meu cajado, e olhei para traz. E vi se aproximando um homem num cavalo, bem trajado, com chapéu de couro, jaqueta  de vaqueiro. Estava no meio de uma subida bem íngreme! Ao se aproximar me perguntou: Boa tarde amigo, está indo para onde? --Eu lhe respondi o cumprimento e disse: -  já não sei mais para onde estou indo, creio que é para UBAIRA/BA e ele me disse, posso lhe levar até o topo da subida, e ato contínuo me segurou pela mão e deu um puxão me acomodando em sua garupa. Começamos a galopar! Não sei o que ocorreu. Cheguei na Cidade, onde todos os caminhantes já haviam chegado e estavam almoçando e conversando animadamente. Cheguei  descansado com uma enorme sensação de bem estar e transformado. Tomei banho, almocei e adormeci. Depois ao comentar com o grupo, me emocionei. Claro que os comentários foram de  que havia imaginado pelo cansaço...

Bom, não sei o que ocorreu, pois aprendi e me modifiquei interiormente, pois não mais exagero ou desperdiço, procuro sempre o equilíbrio, com o caminhar cheguei a conclusão que TODOS NÓS temos uma VIDA para viver, e ninguém pode CAMINHAR/VIVER por nós. Não precisamos de muito para VIVER bem,  feliz e em PAZ, pois quando caminhamos, só temos - a terra - o céu - a água da natureza,  e o que podemos carregar. E fazemos nosso caminho, e que ao  caminhar,  damos um passo de cada vez.

Assim aprendi a unificar em vez de dividir, deixei de  ser egoísta para ser altruísta. Para viver não precisa de hotel de luxo, onde se paga muito, para aproveitar pouco, pois não vamos ficar confinados em um quarto de hotel, e sim devemos caminhar para conhecer o novo, a cultura, os costumes,  descobrir os valores da humanidade, valorizar nosso corpo, agradecer por termos corpo saudável,  por podermos nos locomover sem dificuldade, podermos enxergar, quando muito não tem esta chance. Entendi  que por mais luxuoso que seja o hotel, não é melhor que nosso "cantinho" onde nos abrigamos do frio, da chuva, do sol, e aconchego de nossos cobertores por mais simples que seja.

Descobri que na historia da humanidade houve vários homens, mulheres que caminharam pelos mais diversos motivos, seja religioso, por prazer, por intuição, distração, em busca de respostas, autoconhecimento, esportes, aventura ou mesmo falta do que fazer, mas todos, chegaram a conclusão de que não se anda para si, e sim para todos, caminhando se abre caminhos, se alegra, se descobre, encontra respostas para perguntas, cura-se traumas, enfim, ganha-se nova vida, e tenha certeza faz toda diferença. DJALMA LEANDRO-agosto/2012



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Conteúdo desenvolvido por: Djalma da Silva Leandro   
Djalma da Silva Leandro, Advogado Previdenciarista. Especialista, MBA em Direito Previdenciário, Holistico, Practitioner, Master Trainer em Programação Neurolinguistica (PNL) Hipnose EricsKsoniana (ACT Institute) Doutorando em Ciências Jurídicas,(Universidad Católica Argentina).
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