Segredos (óbvios) do bem-estar: você coloca em prática?

Segredos (óbvios) do bem-estar: você coloca em prática?
Autor Mariana Viktor - [email protected]
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Dar significado à própria vida, ter um propósito, sentir prazer em ser quem você é, não importa o ponto da caminhada interna em que esteja. Estes são alguns segredos do bem-estar – ou da felicidade, se preferir – apontados pelo professor Tal Ben-Shahar, que leciona Psicologia Positiva em Harvard (EUA). Psicologia Positiva é o ramo da Psicologia que estuda a mente das pessoas felizes.

Mas
felicidade é um conceito curioso. Dizem que existe, todo mundo quer sentir, mas muita gente tem medo de deixar a própria luz interna brilhar e aí, babau. Há quem já tenha desistido dela por se achar incapaz de ser feliz neste mundo, ou sendo quem é. Não falta gente que confunde felicidade com ter coisas, justamente as pessoas que não conseguem ser felizes mesmo tendo muitas coisas. E existe quem acredite que felicidade é outra teoria da conspiração, criada no mesmo espírito alienante do “pão & circo”. E tem aqueles que, mesmo querendo, acham que procurar pela felicidade é algo tão sem noção quanto comemorar o aniversário de 60 anos na Disney. Nem os super-heróis “do bem”, como o Batman e o Capitão Nascimento, têm expressões de felicidade porque se tivessem pareceriam bobos ou arrogantes, tipo “olha como eu sou O CARA depois de salvar cidades e donzelas!”

E a palavra gratidão, que é indispensável para começar a produzir o sentimento de felicidade? “Vou agradecer a quê? Ao meu saldo emocional sempre no vermelho, à minha vida social no lixo, à minha conta bancária com vários zeros à esquerda, à minha epopeia afetiva que sempre termina antes de começar?” E mesmo se fosse o caso, como ser grato com o mundo do jeito que está? “Eu seria hipócrita!”
Não adianta a Universidade de Califórnia concluir que quem experimenta o sentimento de gratidão diariamente tem mais energia, concentração e melhor saúde cardíaca. “Isso pode ser verdade pros americanos, mas eu sei onde aperta meu calo e vou manter essa tal gratidão na prateleirinha alienada dos livros de autoajuda. Pura lavagem cerebral pra nos transformar em carneirinhos resignados diante dos poderosos que dão as cartas!”

Tá ok, mas você já parou pra pensar que só as pessoas infelizes são manipuláveis? Em tempo: por pessoas infelizes entendo aquelas que reclamam de tudo o tempo todo (dentro da própria casa, principalmente) e para quem nada está bom por melhor que esteja. Esse tipo de infelicidade nos torna manipuláveis porque nos leva a buscar fora de nós – na aprovação dos outros, nas coisas materiais, nas circunstâncias – um jeito de preencher um vazio interior que nenhum prêmio da loteria, validação de terceiros ou romance preenche.

A grande vilã da infelicidade gerada pela reclamação? A comparação. Sempre que olhamos pro lado, acontece: nos achamos em desvantagem porque comparamos o que os outros têm de melhor com o que temos de pior (olha a injustiça contra nós mesmos!), como observou brilhantemente a terapeuta floral Adriana Souza, do "Hoje Eu Me Sinto". Se é para comparar, que comparemos nossas qualidades com as dos outros e então descobriremos que temos muito, só não sabemos usar e esse é justamente o x da nossa questão.

E todas essas distorções sobre a felicidade nos afastam da estratégia mais simples e direta, que é a de fazer as pazes conosco mesmos, porque é tanta argumentação contra, que chegamos a sentir vergonha de procurar o bem-estar. “E se me desclassificarem para aquela vaga de emprego porque eu disse na entrevista que apesar de viver num mundo apocalíptico, estou em paz dentro de mim, e isso parecer um forte indício de que deve haver algo errado comigo?”. Verdade, podem até pensar que você é psicopata. Não dizem que os psicopatas são pessoas que parecem ótimas, as mais elogiadas pelos vizinhos?

Brincadeira à parte, a questão é que poucos vão acreditar que você aprendeu a produzir o sentimento de felicidade com anos de ralação até descobrir o jeito certo de comandar suas emoções e mudar o giro dos pensamentos e crenças autodestrutivos (“não mereço”, “não sou capaz” etc.) que o faziam acordar todo dia com o coração na boca de tanta angústia. A ordem é desconfiar de pessoas felizes porque elas podem ser tudo, menos felizes.

Então, vamos ser sensatos, pé-no-chão e seguir o caminho pavimentado, apesar dessa sensação íntima de que esse caminho não é exatamente o seu. Mas vamos mesmo assim, com medo de sonhar pra não quebrar a cara, e esquecer esse papo de “dar significado à própria vida, ter um propósito muito seu, sentir prazer em ser quem você é”. Porque, além de tudo que já foi dito, isso é conversinha de quem tem tempo pra filosofar, viagem de adolescente que quer mudar o mundo. A maioria acaba mudando de ideia e amadurecendo com o tempo, não é mesmo? Está aí a prova de que a busca por tudo isso é discurso do Surfista Prateado – aquele super-herói melancólico que vive suspirando de saudade do seu planeta natal.

O mundo r-e-a-l é outra história: é um caos e não há nada a fazer quanto a isso, exceto desconfiar de todos, frequentar um curso de defesa pessoal e ter uma arma em casa. Ponto.

Desculpa discordar outra vez, mas vou trocar o ponto por uma vírgula porque vale lembrar que o mundo não muda, quem muda são as pessoas. E as pessoas não mudam coletivamente, mudam individualmente: é eu aqui comigo, é você com você aí dentro. É um processo solitário. Não tem como a humanidade inteira acordar na próxima manhã se percebendo desenrolada, sábia e humana, de repente. Não tem como "todo mundo" eliminar a ansiedade, a ganância, o orgulho, o egoísmo, as crenças limitadoras, os medos, a comparação, as defesas sem tomar consciência de que o buraco é mais dentro, e menos fora – de cada um. Não tem como deletar a corrupção, as guerras, a fome e a má distribuição de renda, só porque a entidade "mundo" compreendeu que precisa mudar. Não existe entidade mundo, existem indivíduos.

Bom, a partir daqui há dois caminhos.

Como o sofrimento machuca, acabamos investindo energia em fugir das dores e muitas vezes passamos a vida evitando relacionamentos mais próximos para não sofrer decepções, ou achando que vai acontecer uma desgraça porque algo na nossa vida finalmente está dando certo, ou deixando de curtir uma situação gostosa no presente porque não conseguimos nos desprender emocionalmente de um passado bom – ou ruim. Mas como tudo onde colocamos a atenção tende a se tornar mais evidente aos nossos olhos, a dor da qual queremos fugir acabará ganhando mais força, porque o mal que evito me faz mal também. É como discutir com pessoas encrenqueiras: quanto mais argumentamos, pior fica a situação, mais o encrenqueiro “cresce”.

O segundo caminho é buscar a autoconsciência e descobrir uma coisa fantástica e de uma simplicidade óbvia: atitudes e comportamentos que nos aproximam de nós mesmos, do que queremos, do que acreditamos, do que faz sentido pra gente, do que gostamos dá um calorzinho gostoso no peito e uma súbita “vontade de sorrir pro português da padaria”, como disse Paulinho Moska. Sorrir um sorriso sincero lá do fundo porque uma fichona caiu. Como disse uma pessoa que atendo, “me dei conta de que na verdade não são os outros que me rejeitam, mas eu os rejeito e sou hostil sem perceber, de tanto cultivar o sentimento de odiar a humanidade e ter medo de ser machucada”.

Percepções assim mudam tudo. Dá um alívio imenso porque finalmente entendemos “o que havia de tão errado comigo”. Não tem como fazer "todo mundo" gostar da gente. Mas tem, por exemplo, como tratar a si mesmo e a todos de outro jeito. E aí sim, perceber que, “num passe de mágica”, o mundo em volta acordou um pouco mais humano na manhã seguinte.

Tudo começa na gente. Tudo mesmo. Quer ser bem tratado? Comece a tratar bem – e comece a se tratar bem, inclusive, de verdade verdadeira. Daí, observe o que acontece, porque as mudanças são rápidas! Mas não faça para obter resultados, porque aí os resultados não virão... faça porque é gostoso gerar bem-estar na intenção do seu sentir e na conexão com os outros. Pronto: eis o início da sensação de ter prazer de ser quem é, que se torna mais intensa na medida em que vamos gerando mais sensações boas e limpando pensamentos e emoções que nos tiram o prazer de viver.

E, então, você sabe do que gosta, do que faz sentido pra você? Coloca esse gostar em prática? Coisas simples, sabe, nem falo das mais caras ou que exigem grandes manobras. Falo de ações cotidianas que nos fazem interagir com a vida de maneira mais dinâmica, ter sonhos, seguir a curiosidade de dar um passo além e não deixar que o dia seguinte seja exatamente o replay do dia anterior. Isso é o que dará significado pra sua vida.

E o propósito, vem de onde? O seu envolvimento com o que você faz profissionalmente é de corpo-e-alma? Se sim, eis o seu propósito.
E os dois somados reforçam o prazer de ser quem você é.
Simples assim.

Texto revisado


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Conteúdo desenvolvido por: Mariana Viktor   
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