Saber e aceitar são coisas bem diferentes

Saber e aceitar são coisas bem diferentes
Autor Andrea Pavlo - [email protected]
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Outro dia atendi uma moça de 47 anos que veio ao meu consultório porque foi traída pelo marido, mas não sabia o que fazer. Ficou pensando se deveria ou não se separar, se era o certo e os motivos que fizeram aquilo acontecer. O que achei estranho, assim que ela entrou e contou essa história, é que ela estava extremamente calma. Narrava os fatos como se contasse mais um capítulo da novela. E depois de alguns anos sentada na cadeira da psicoterapeuta eu pensei: aí tem treta.

Tá, eu pensei “oh, ela está usando talvez um mecanismo de defesa”, mas no final dá no mesmo. Ela tinha descoberto por uma amiga. A amiga viu o marido em questão comprando uma joia no shopping e pensou “Humm, a minha amiga vai ganhar uma linda joia”. Depois de alguns dias foi questioná-la e percebeu que não, não tinha joia. Oops, foi mal amiga. Mas pelo menos ela confrontou o marido e ficou sabendo de tudo.

A primeira coisa que perguntei foi “Você ainda ama o seu marido” ? Eles tinham um relacionamento de muitos anos e uma filha de 9 anos, poderia ter o tempo desgastado o amor a ponto de ela ficar fria daquele jeito ? “Sim, claro”, respondeu ela, e ainda complementou “como se fosse o primeiro dia”.

Hum, a Sherlock em mim estava atarantada tentando desvendar o caso (e quem disse que psicólogo não é meio detetive) quando ela soltou um “sabe, não sei se é mesmo verdade que ele me traiu...e se foi só intriga da minha amiga?  Ela sempre teve inveja de mim”. Sim, respondo, mas ele confessou e contou a história, não foi?

Ela concordou com a cabeça, mas ficou olhando com cara de desconfiada. Eu podia ler os balõezinhos da cabeça dela dizendo “mas se ele mentiu tudo”, o que absolutamente não faria nenhum sentido. Até que a luz se fez no meu cérebro e eu entendi. Ela está em negação.

A negação é um mecanismo de defesa do ego. Esta costuma ser a primeira fase do luto, quando alguma coisa ou pessoa morre. Lembro-me de quando minha irmã entrou no banheiro, enquanto eu tomava banho, e disse “O Vinícius morreu”. Vinícius era um amigo de infância e na época tinha apenas 19 anos. Eu tive uma crise de riso nervoso e fiquei repetindo “deixa de ser louca, ele não morreu”. Demorou para cair a ficha.

Notadamente ela sabia, mas não aceitava. Na verdade, a aceitação de qualquer coisa ruim, de uma morte a uma iminente separação, demora. É um processo. Por isso eu digo que a separação é um processo e não um evento. As pessoas vão se separando aos poucos e, como fomos constatar mais tarde, essa moça vinha nesse processo há anos.

Algumas notícias são tão chocantes que simplesmente levam um tempo para serem assimiladas. O caso do marido durava anos, então como ela não percebeu?  Simples, ela não queria perceber. Tinham muitos medos associados, medo de solidão e até das questões financeiras, então o ego dela travou, dissociando as informações e fazendo com que ela não conseguisse acessar a verdade na frente dela.

Sim, parece loucura, mas o nosso ego faz isso justamente para não enlouquecermos. Quando algo é assustador demais, ele, o cérebro, nos protege e não tem nada que possamos fazer sobre isso. O resto do tratamento não foi sobre o fato ser ou não verdade, deixei que ela duvidasse o quanto precisasse. Um dia, depois de alguns meses, ela chegou aos prantos no consultório dizendo que ela tinha pedido o divórcio. Finalmente o tempo de ela entender e trabalhar as inseguranças tinha chegado e ela poderia sair da resistência e viver a sua nova vida.

Nem sempre as pessoas negam ou fingem porque querem ou é mais conveniente. Às vezes, é só a dor que parece grande demais para ser vivenciada. Mas tudo passa e um dia deixamos de acreditar nos contos de fadas. No nosso tempo, do nosso jeito.
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Conteúdo desenvolvido por: Andrea Pavlo   
Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa.
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