A grande inversão energética do ocidente
Na jornada espiritual ocidental, uma troca sutil mas catastrófica se consolidou: o centro esplênico – mero regulador bioenergético – foi elevado indevidamente à posição de segundo chakra principal. Enquanto isso, o verdadeiro núcleo criativo, o chakra sacral (Swadhisthana), foi relegado ao silêncio. Esta não é apenas uma falha técnica: revela o divórcio histórico entre espiritualidade e corporeidade no pensamento esotérico ocidental.
Raízes da distorção: moralismo sobrepondo-se à sabedoria
A figura-chave nesse desvio foi Charles Leadbeater, pioneiro teosófico do século XX. Sob influência de valores cristãos repressivos, seu modelo declarou o chakra sexual como "perigoso", substituindo-o artificialmente pelo centro esplênico na lista dos sete principais. Como analisado por estudiosos como Wagner Borges, essa manobra reflete o tabu ocidental que transformou a sexualidade em força a ser domada, não integrada.
Swadhisthana: o eixo esquecido da criação
Nas tradições orientais autênticas – dos textos tântricos ao Sat-Cakra-Nirupana – o segundo chakra rege:
- Órgãos criativos (gônadas e sistema reprodutor)
- A alquimia emocional e prazer consciente
- A
centelha vital que anima a gestação
Conhecido como Hara no Japão e Tan Tien inferior no Taoismo, este centro é celebrado como fonte de poder generativo, jamais como obstáculo.
O chakra do baço tem função legítima: é uma estação de captação e filtragem do prana, associada à imunidade e vitalidade física. Porém, nas tradições védicas e tântricas, permanece como centro auxiliar – sem mantra-semente (bija), sem papel em iniciações, fora do eixo dos sete grandes vórtices.
Cicatrizes da supressão: a espiritualidade sem raízes
Esta inversão gerou uma ascese desencontrada:
- Sexualidade como fonte de culpa, não de potência
- Corpo visto como cárcere, não como veículo sagrado
- Bloqueios
que ecoam nas terapias de Reich e Grof
A espiritualidade tornou-se um projeto de fuga, não de integração.
Urge restaurar o mapa original:
- Reconhecer o sacro como fonte de criatividade e vida
- Recolocar o esplênico em sua função complementar
- Honrar
o corpo como via real de transcendência
Como destaca Borges, negar este centro é mutilar nossa conexão com o divino encarnado.
A verdadeira evolução espiritual floresce quando abraçamos nossa natureza integral. Elevar o centro do baço em detrimento do sacro não foi acidente: foi sintoma de uma cultura que teme sua própria força vital. A cura começa quando reinscrevemos o corpo no sagrado.
Dalton Campos Roque – @Consciencial – Consciencial.Org
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