A realidade é o estado original do ser: pleno, sem conflitos, sem desejos, onde a paz reina e a luz da consciência habita. Ela não pode ser melhorada nem moldada segundo os caprichos humanos. Os desejos apenas prolongam a prisão, mantendo-nos escravos das sensações grosseiras da matéria.
A ideia de felicidade disseminada popularmente é grosseira. Tentam nos convencer de que precisamos empreender lutas e enfrentamentos interiores para alcançá-la. Ora, a vida não é um campo de batalha. O caminho verdadeiro é o da paz, da rendição e da aceitação — e não o da resistência, onde nos colocamos contra forças imaginadas, apenas para fortalecê-las.
Não adianta seguir cartilhas rígidas de reforma íntima, combatendo tendências negativas e inclinações ruins. O caminho nunca foi esse. A realização acontece no reencontro com a verdadeira natureza, onde tudo já está pronto, porque o estado original é divino.
Apenas para exemplificar: imagine alguém que queira tornar-se menos orgulhoso, porque aprendeu que deve combater esse vício mental. O que faz? Luta consigo mesmo em uma vigília exaustiva. E o resultado? Nada. Pois o foco permanece na ausência, na escuridão, na própria tendência censurável que pretende superar. Lutar contra o que quer que seja apenas dá vida àquilo.
A solução é mudar o foco: em vez de combater o orgulho, cultivar a humildade. Uma vez que a humildade floresce, o orgulho se desfaz naturalmente. Afinal, não há escuridão que resista à luz.
A vida nunca foi sobre melhorar nada, alcançar algo ou conquistar coisas — tudo isso é ilusório demais. A vida é sobre desconstruir, soltar, desapegar, desaprender. A vida já pulsa no interior do ser em todo o seu esplendor, pois a Vida é Deus presente em cada um de nós. Ninguém “tem” vida; todos nós somos a própria Vida. Isso precisa ficar claro.
Toda ânsia por algo é apenas um estágio em que, tomados pela ignorância, vivemos como um peixe no oceano procurando o próprio oceano.
A mente humana precisa ser dominada, e não há outro caminho senão o do desapego e da renúncia. Para transcender essa condição precisamos nos desinteressar por ela. Enquanto estivermos apegados a este mundo, permaneceremos na ignorância.
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