O stress é uma reação do organismo frente às ameaças do ambiente. O corpo reage tornando-se mais alerta e preparando-se para uma situação de emergência: lutar ou fugir! Imagine um animal qualquer, ou mesmo um ser humano em estágio selvagem, que encontra um predador – ou seja: a ameaçadora figura de uma fera, com suas garras e dentes cortantes, faminta! Podemos pensar no stress também como um conjunto de reações fisiológicas que visam adaptar o organismo a uma nova situação. Frente às modificações no ambiente, é necessário estar mais alerta e, de certa forma, preparado para uma eventual emergência. Dessa forma, frente a situações novas ou ameaçadoras, ocorre uma reação em cadeia da qual participam diversas estruturas nervosas e glândulas endócrinas, liberando neurotransmissores e hormônios, como por exemplo, a adrenalina. A liberação da adrenalina leva ao aumento da pressão arterial, à aceleração da freqüência cardíaca e do ritmo respiratório, entre outras reações. Essas medidas visam propiciar melhor oxigenação dos músculos, em geral, para que o organismo possa obter mais energia e assim, lutar ou fugir. Passado o susto e uma vez contornado o problema, ocorre uma reação instintiva de respirar profundamente e manter-se quieto, permitindo o restabelecimento normal das funções, diminuindo a pressão arterial e os batimentos cardíacos.
O ser humano, na vida moderna, reage da mesma forma quando ameaçado pelos medos, horários, prazos e preocupações. Em determinadas fases da vida, são muito grandes as mudanças e muitos os compromissos, levando ao stress crônico. Este ocorre quando não há tempo nem situação para permitir que o organismo relaxe e volte ao normal. O stress crônico pode predispor a uma série de doenças orgânicas, em decorrência da diminuição da imunidade, além de desencadear quadros emocionais característicos: irritação, sensibilidade extrema, crises de choro ou de agressividade etc.
No caso específico dos noivos, existem uma série de fatores concretos que, muitas vezes não podem ser evitados. Providências para a nova moradia, preparativos para a cerimônia, vestuário e assim por diante. Além disso, o casamento implica em uma mudança radical na vida. É um passaporte definitivo para a vida adulta, principalmente para aqueles que sempre viveram junto aos pais. Implica em uma nova identidade, pois o estado civil, assim como a profissão, define o sujeito e seu papel na sociedade. Isso ocorre mesmo que não se modifique o nome, embora este fato possa, para algumas pessoas, ter também um impacto considerável. Dessa forma, além da mudança concreta de vida, casa e rotina, existem mudanças internas, ou seja, na forma como pessoa passa a se ver e, obviamente, na forma de ver o parceiro e a própria relação. Todas essas mudanças exigem um esforço adaptativo e, por isso, são fatores de stress.
É muito comum a interferência de familiares nas decisões dos noivos. Por tradição e em função do papel social do casamento, existe uma grande participação dos familiares nos preparativos e, como em qualquer grupo social, as divergências são inevitáveis. Discussões, palpites e desencontros de objetivos podem gerar cobranças e pressão. Os noivos sentem o dever de atender simultaneamente às suas próprias expectativas e às expectativas de ambas as famílias, o que, certamente gera conflitos e muita angústia. É importante salientar que os principais interessados são os noivos e, assim, o que desejam fazer deve ser prioritário. No entanto, faz parte da vida adulta saber ceder e respeitar os limites dos outros, assim como as regras sociais. No caso, acatar a opinião dos familiares (principalmente dos pais) pode, eventualmente, ser a melhor solução para minimizar os desentendimentos.
Por outro lado, muitas vezes os fatores do stress são imaginários, ou seja, não são os compromissos propriamente dito, mas a preocupação com eles, a ansiedade, o medo de que não se cumpram os prazos e assim por diante. Existem também medos e fantasias, muitas vezes inconscientes, relacionados à insegurança quanto a escolha: Será que devo realmente me casar? E se não for isso o que realmente quero? Conseguirei me adaptar à vida de casado? Como será viver longe de meus pais? E se o(a) noivo(a) não aparecer no dia? Esse medos são muito comuns, naturais e até esperados. Ninguém deve se condenar, nem se sentir culpado frente a isso. Ao contrário, tomar consciência de seus medos e inseguranças, aceitando-os, auxilia no combate ao stress.
Por exemplo, se uma noiva está muito nervosa, ocupando-se intensamente das atividades preparatórias e, nos poucos momentos que tem para descansar não consegue relaxar, não consegue dormir, isso pode estar relacionado às fantasias e aos medos inconscientes, que ela não aceita. No momento em que tomar consciência deles, aceitando-os como “normais”, assumindo o que sente (todo mundo tem direito a ter dúvidas!), poderá refletir a respeito e relaxar. É importante ter alguém de confiança e que se posicione de forma neutra, para poder conversar, desabafar, pedir um colo... Em certos casos é interessante buscar apoio profissional, pois um terapeuta não irá interferir nas decisões ou emitir julgamentos. O profissional levará o paciente a perceber por si mesmo o que o aflige, o que raramente ocorreria buscando apoio com amigos ou com familiares, que, estando emocionalmente envolvidos na situação, não permaneceriam neutros.
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Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected] E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
