ESTRELAS NO ASFALTO

Autor Christina Nunes - [email protected]
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Durante toda uma vida até aqui, mergulhada nas correrias do cotidiano da cidade grande, que nos impõe as idas e vindas para o centro da cidade do Rio e para outros lugares, na faina interminável do estudo e do trabalho, sempre considerava o asfalto uma coisa feia.

Não diz respeito apenas a uma possível associação psicológica com algo que representa fumaça, barulho, acidentes, quentura excessiva nos dias de verão, um estereótipo de perigo e desassossego, enfim. Desagradava-me, sobretudo, a cor: aquela cor de piche, que vem tornar mais cinzenta a atmosfera do ambiente já tumultuado e enfumaçado das cidades; que tanto influi negativamente no nosso estado de ânimo, ainda mais naqueles dias em que o stress atinge as raias do insuportável.

Pois precisou quase quarenta anos sob o domínio destas considerações, no meu dia-a-dia em viagens de coletivos, para que, talvez num momento apaziguado, em que me coloquei susceptível às inspirações do mais Alto, eu me desse conta das “estrelas no asfalto”.

Vocês já repararam, em dias de sol? Naqueles dias em que a exuberância do céu azul ensolarado consegue sobrepujar os incômodos feios dos dias cinzentos cá de baixo? A incidência da luz solar sobre o asfalto produz um maravilhoso espetáculo de brilhos faiscantes que, sob observação mais atenta, descobrimos tratar-se de uma infinidade de lascas diminutas das pedrinhas que compõem a mistura do betume asfáltico, reluzindo sob as claridades fortes do dia ou do sol.

Detive-me por dilatados momentos, encantada diante do espetáculo que se desvelava aos meus olhos admirados, justo ao rés-o-chão, onde menos esperaria depará-lo. No lugar comumente associado, apenas, à simples pavimentação áspera das ruas; aos acidentes diários; às ansiosas correrias humanas; aos buracos incômodos dos dias de chuva; às enchentes, e à sarjeta das angústias terrenas. E, gradativamente, veio-me a associação iniludível daquela chuva de estrelinhas faiscantes, embelezando tão modestamente a ribalta prosaica das nossas jornadas, (de modo mesmo imperceptível para a maior parte das pessoas inconscientes que por ali transitam) com o papel que representamos no percurso das nossas lutas anônimas na vida corpórea.

Pensemos se o pano de fundo das nossas trajetórias terrenas, muitas vezes, não é escuro, áspero e repleto de aflições símilares ao incômodo e às peripécias que a simples visão do asfalto nos invoca ao espírito. E reflitamos se o que faz a diferença, no que toca ao estímulo para que prossigamos em frente, apesar das vicissitudes, e aquilo que ainda confere beleza à vida humana, não é a miríade de “luzes” individuais que, na maior parte das vezes no anonimato, e com pouco ou nenhum reconhecimento, reafirma o valor de uma existência ainda e sempre digna de ser vivida.

O riso cristalino dos nossos filhos pequenos, ao nos receberem ao final do dia; o amor materno, que nos dá colo e amparo sempre que necessitamos; o perfume das flores volta e meia nos surpreendendo, durante o cumprimento apressado das nossas obrigações; momentos felizes com aqueles amigos especiais; o azul do céu, as paisagens do mar e das montanhas, e o calor brando do sol; palavras gentis e agradáveis, que possamos ofertar a quem precisa, e que várias vezes recebemos em instantes de carência, como presentes mais valiosos do que qualquer jóia; abraços e beijos sinceros; a dádiva da saúde, conferidora das condições necessárias ao desempenho bem sucedido das nossas atividades; tantas coisas...

Como as dezenas de estrelas brilhosas num asfalto que não é propriamente feio, mas a base indispensável e sustentadora dos caminhos a serem por nós percorridos, pensemos que também nas nossas vidas, às vezes tidas como enfadonhas ou insatisfatórias, existem milhares de estrelas desapercebidas, e ainda não apreciadas na sua capacidade de rebrilhar incansavelmente, atenuando os nossos dissabores e conferindo o valor justo às lutas, que nos brindam como o aprendizado necessário de que o fulgor das estrelas, tanto do asfalto quanto do firmamento, só nos deslumbra por se destacar através do contraste da luz perene, e inerente ao próprio cerne de vida, com a escuridão passageira do vaivém das noites e das turbulências das nossas realidades mundanas.

Com amor,

Lucilla e Caio Fabio Quinto
https://www.elysium.com.br

Lucilla é autora do romance psicografado lançado este mês, "O PRETORIANO", pela editora MUNDO MAIOR (www.mundomaior.com.br). Leitura fácil e envolvente, de autoria espiritual de Caio Fabio Quinto, o conteúdo trata de uma das vidas passadas vividas pela médium e pelo seu mentor, na Roma de Júlio César, de cujos exércitos Caio foi um dos comandantes, narrando lances de convivência no cotidiano dos personagens, ricos de ensinamentos ilustrativos da Codificação Espírita de Kardec, das leis de causa e efeito, e do aprendizado espiritual que a todos nós envolve no decorrer do nosso trajeto evolutivo durante as reencarnações terrenas.
Os direitos autorais estão revertidos às obras assistenciais da FUNDAÇÃO ANDRÉ LUIZ, no amparo aos deficientes.
Aos interessados, maiores informações para compra no site da editora, ou no da FUNDAÇÃO ESPÍRITA ANDRÉ LUIZ: link

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
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