Uma mente repleta de espaço é feliz de verdade
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Atualizado em 12/05/2020 18:28:05
Quando a mente corre solta, vagamos entre pensamentos e sensações que ora nos trazem bem-estar e ora geram insegurança e desconforto. A mente constantemente rastreia o ambiente em busca de sinais que nos digam o que fazer. Ela segue o curso da direção na qual for chamada com maior intensidade. Quando surge um estímulo que desperta sua curiosidade, nossa mente o segue em busca de mais informações.
No entanto, devido ao estilo de vida urbano, estamos constantemente sobrecarregados de estímulos sonoros e visuais. O tempo todo algo pede por nossa atenção. Não temos a privacidade do mundo interno. Quando vamos dormir, estamos cansados física e emocionalmente. Acordamos sob pressão do tempo e das expectativas cotidianas. O ponto é que, sobrecarregados, não captamos bem os estímulos externos, e consequentemente temos uma visão distorcida da realidade. Sem espaço interior, somos reativos. Sem paciência, interpretamos precocemente o que ocorre ao nosso redor, sem checar se estamos corretos. Assim, naturalmente surgem problemas de comunicação que por sua vez geram interferências e mal entendidos; estes tornam a vida complicada demais para fluir.
Segundo a filosofia do budismo tibetano, a mente possui três qualidades concomitantes: abertura, claridade e desimpedimento. Mas, como estamos sobrecarregados de estímulos e sem espaço interior, nos sentimos fechados, tensos e impedidos de ser quem somos espontaneamente. Uma mente com espaço é paciente, estável, disponível e aberta. Já uma mente sem espaço é instável, irritada e vê em tudo um obstáculo.
Lama Gangchen Rinpoche nos alerta que em nossa sociedade moderna temos problemas com o espaço, tanto no nível físico grosseiro quanto no nível interno, mental. Sentimos falta de espaço externo e interno. Por isso, precisamos começar a encontrar nosso espaço interno. Ele escreve em seu livro AutoCura Tântrica III (Ed. Gaia): "Em nosso estado normal, nossa mente nunca aceita o espaço. Vemos o espaço como os "espaços" entre os objetos que nos fascinam, entediam ou repugnam. Não entramos realmente em contato com o espaço. Além disso, no mundo pessoal interno de nossa mente, ficamos tomados pela dança de nossas emoções e energias mentais sempre em mutação; nunca focalizamos o espaço entre os pensamentos e emoções. Se pudermos entrar em contato com o espaço do mundo interno e externo, nunca nos sentiremos desconfortáveis, mesmo em situações muito atribuladas ou cheias de gente, e nunca nos sentiremos sozinhos ou nervosos quando não houver ninguém mais por perto. Se estivermos em contato com o espaço, quando as pessoas disserem coisas ruins para nós, nos ofenderem ou nos causarem problemas, enxergaremos simplesmente que elas estão sofrendo. A experiência profunda do espaço dissolve todas as nossas reações negativas.
"Quando conseguimos relaxar, mesmo no espaço relativo, sentimos um profundo alívio em nossa mente. Os pensamentos e as emoções surgem e depois perdem a energia e se dissolvem de novo na mente. É como um pássaro que soltamos no convés de um barco no oceano: podemos vê-lo voando no céu ali perto por algum tempo. Depois ele se cansa, sua energia se esgota e ele volta para o barco, pois não tem outro lugar para pousar. Da mesma forma, nossos pensamentos e nossas emoções surgem de nosso espaço interior e depois perdem o impulso e voltam para esse espaço, onde se dissolvem.Temos de criar um espaço muito grande dentro de nós. Nosso objetivo final é ter uma mente com muito espaço, uma mente que tenha um relacionamento direto com o elemento espaço. Quando tivermos a nossa mente repleta de espaço, seremos felizes de verdade".
Quanto mais espaço interior tivermos, melhor os nossos sentidos irão funcionar. Mais apurada será a nossa percepção da realidade. Teremos tempo, receptividade e paciência para ler a realidade a partir do que chega até nós sem anteciparmos os fatos devido a nossos medos e esperanças.
Cabe ressaltar que os métodos de observação da mente segundo o budismo tibetano não estão voltados para os conteúdos da mente, mas sim para a atitude de abertura diante do que se passa em nossa mente. Não se trata de saber mais sobre nosso sofrimento, mas sim de nos abrirmos para ele de modo compassivo.
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