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ZOZ - Por que a aprovação é uma necessidade para tantas de nós?

Atualizado dia 6/2/2024 8:58:07 PM em Psicologia
por Margareth Maria Demarchi


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Para entender isso vamos antes imaginar algumas situações:

- Passei pela Sandra ontem e ela não me cumprimentou, será que fiz alguma coisa que ela não gostou? Será que deixei de fazer alguma coisa para ela?

Ou:

- Fui convidada quase de última hora para a festa da Laís e do Eduardo. Será que desejavam que eu não fosse?

Ou:

- O Chefe foi mais compreensivo com a Silvia, onde será que eu estou falhando?

Ou:

- Meu pai nem abriu o presente que eu lhe dei. Por que ele está me desprezando?

Ou:

- Nossa! Parece que ninguém notou meu corte de cabelo?

Ou:

...ah!! Nesse aspecto eu estou sossegada. Meus filhos nunca me deram um "trabalhinho" sequer.

Ou:

- Por que você não quer que eu vá junto com você?

Ou:

- Você parece chateada (o). Espero que não seja por minha causa?

E pode-se parar por aqui porque os exemplos de situações são quase infinitos. Todas as respostas para as perguntas acima, buscam aprovação de alguma forma. Quando alguém precisa de aprovação é porque não se sente aprovada em função da reprovação que acha que outros fazem de si. Isso significa por um lado, o quanto se fica na imaginação e para isso há algum motivo, e por outro lado, o quanto se cultiva o hábito de não esclarecer certos problemas quando eles acontecem. Este é o culto à perfeição.

É assim que se cria uma armadura e ao usá-la se pensa que ela protege das demais pessoas e de suas críticas, e que também ajuda a afastar da crítica interna, aquela que cada uma tem sobre si mesma, e que geralmente procura esconder por não admiti-la e que usa para evitar que quem quer que seja explore ou tente revelar verdadeiros sentimentos de gerados pela imperfeição.

Aquelas dentre nós que sabem o quanto a busca pela perfeição pode ser perturbadora, reconhecem que a falta de uma boa comunicação no relacionamento com outros impede a maior intensidade do vínculo afetivo.

Nesse ponto, vale entender de onde surgiu essa sensação de falta que influi sobre os vínculos e cria a necessidade da aprovação da parte de outros.

Desde quando nascemos e enquanto somos crianças, sempre recebemos de alguém atenção e cuidados, não importa a intensidade. Com isso, a mente estabelece através do pensamento moldado pelo sentimento e pela imaginação um dos aprendizados da vida, ou a regra da retribuição, pela qual temos que retribuir o que recebemos, na mesma medida e intensidade que o aprendizado da infância fixou em nossas mentes.

Para muitas de nós, isso significa aprovar mais o outro do que a si mesmas, o que implica em querer da mesma forma, que este outro nos aprove naquilo que nós mesmas não nos aprovamos.

- Perla, é uma jovem bastante sensível, tímida e dependente do pai e da mãe. Seu irmão, Ricardo, se comporta de forma mais espontânea. A diferença de idade entre os dois é de três anos de idade. Fernanda, a mãe, conta que passavam por uma situação financeira delicada e difícil quando engravidou de Perla. Não bastassem os problemas que enfrentavam, Fernanda e seu marido Humberto ficavam em constante conflito e acusações, coisa que perdurou até os três anos de Perla. Humberto praticamente ignorou a filha durante esse período. Fernanda quase sempre deixava Perla com a avó, numa tentativa inconsciente de se afastar da própria filha e assim ficar longe de sua própria reprovação como mãe.

Passados três anos, Humberto, agora estabilizado financeiramente, supera seus próprios conflitos e volta a ter uma vida a dois com Fernanda, revivendo bons momentos e criando novos bons momentos. Assim, Fernanda engravida-se de Ricardo.

Com o nascimento de Ricardo, a família se revigora, todos se integram, Ricardo recebe atenção, carinho e amor, Perla passa a receber o tratamento adequado e seus pais se comportam como se tentassem recompor aquilo que não foi dado a ela nos três anos anteriores.

Viver três anos no meio de conflitos entre seus pais, criou marcas, Perla sentia as discussões dos pais. Ricardo, nasceu e foi criado envolto por uma realidade completamente diferente, equilibrada e cheia de aceitação e diálogo.

Perla, então com dezessete anos, teme um retrocesso imaginário no relacionamento de seus pais, controla isso com extrema dependência, sempre precisa da opinião deles para cada decisão que tenha que tomar e prefere a companhia dos pais à qualquer outra. Ricardo é independente, age com facilidade e é querido tanto por familiares como pelos amigos.

Esta uma experiência quase única, assim como cada uma de nós tivemos as nossas. Mas, demonstra que o que somos hoje, é resultado de muitos acontecimentos que afetam diretamente as pessoas envolvidas.

 O caso de Fernanda e Perla, mostra o quanto um sentimento afetou o comportamento e o desenvolvimento de uma criança e depois adolescente. Por isso, cada caso deve ser analisado com muito respeito e cuidado, há muitas coisas envolvidas, e a correta interpretação destes acontecimentos e da linha do tempo de cada pessoa pode dar uma orientação acertada sobre as raízes do sentimento e da necessidade de aprovação ou de reprovação de si mesma.

Quando a presença dos pais é frequente, a criança participa de forma constante da dinâmica familiar, ela sente e observa os pais. Cria imagens mentais com relação aos pais e essas imagens, durante a fase de desenvolvimento, vão sendo incorporadas no comportamento da criança, que passa a se relacionar usando essas mesmas imagens, dando a elas a sua interpretação e representação do comportamento dos pais pelo carinho, afeto, bronca, expressão de alegria, mal humor e tantas outras manifestações que recebe.

A partir de então, a criança exerce uma escolha e se fixa num determinado comportamento, o que lhe garante mais atenção e exclusividade. Assim, se mostra para o mundo externo como obediente, ou rebelde, ou frágil, ou doente, ou ausente, tímida, orgulhosa, fraca, disciplinada, indisciplinada ou tantas outras características, podendo inclusive mostrar om conjunto delas. É dessa forma que o seu "pequeno mundo" interfere no "grande mundo" e pelo comportamento escolhido acaba movimentando a família.

No entanto, é preciso ter um claro entendimento do que realmente é esta escolha. Sendo ela resultado do comportamento dos pais e das pessoas que interagem com a criança, é importante, a forma como ele, o comportamento, afeta a criança, pois isso é que determinará como ela manifestará suas expressões positivas de vida, tanto quando revela o lado bom, como quando revela a sua rejeição ao prazer e à felicidade, com manifestações adversas.

Há uma forma intermediária, que representa o efeito da grande maioria dentre nós cujos pais ou tutores viveram ou vivem contrariamente à forma pensada ou desejada de vida e escondem, senão, disfarçam quando não querem assumir que algo, um sentimento ou situação se apresenta como a causa de seus desconfortos.

Diante disso, o comportamento da criança revela esse lado ruim na vida familiar, independentemente da vontade de quem vive com essa criança. Sempre o que não é dito, mas deveria ser dito, é somente sentido, mas, na criança, isso é sentido e também é manifestado.

A experiência familiar de cada um será como um mapa para a convivência humana. Esse mapa não é o território[1], mas nos mantém presos aos seus símbolos e significados, e a todo o momento o utilizamos em nossos relacionamentos. No caso acima, o mapa corresponde aos pais e é o referencial tanto para Perla como para Ricardo, assim, pela forma como cada um a experiência é que esse referencial interfere na interpretação que fazem de seus pais.

Já para Fernanda e Humberto, mapa e território contam, e o território representa a ancestralidade, que é a história de pessoas da família, e pessoas da família que interagiram com cada um de forma significativa e influenciadora, isso sempre tem que ser levado em consideração.

Sempre que buscamos aprovação, deixamos de ser verdadeiras. Em muitos casos, aprende-se através das experiências de vida que só sendo "boazinhas" com os outros é que se consegue ser aceita e obter valor. Essa dinâmica é muito utilizada porque a nossa sociedade a incute e impõe artificialismos por vários meios criando o significado de que é importante manter-se sempre no bem do outro, sem precisar estar no próprio bem. Quando vivemos de fato dessa forma, então acabamos cerceando o nosso verdadeiro sentimento interno que quer ser expresso como somos, sem nos deixar afetar pela forma e interpretação que o outro tem a nosso respeito.

É lógico que esta afirmação se aplica sempre ao mundo real. A nossa existência foi concebida para desfrutar e realizar o bem, o bom, o belo, o útil e o agradável, para cada um de nós e para o coletivo, mas nunca à custa de nossa anulação, ou da anulação da nossa individualidade, que nos identifica como seres e como agentes ativos. Como seres ativos, compreendemos que o outro sempre terá vivências diferentes que o tornam um ser integral e único.

De forma mais profunda, tratar a individualidade para se autovalorizar significa na verdade um sentimento de baixa autoestima. Implica que por necessidade de aprovação a pessoa passa a trocar o sentido de individualidade, que é uma conquista de valor por ser quem é, e também amar aquilo que a pessoa é. A individualidade confere à pessoa a possibilidade de estar num posto em que é admirada e reverenciada por si mesma, e se auto distingue pelo que faz e menos pelo que tem.

Nessa condição verdadeira, é que a pessoa deixa de controlar a relação com o outro e parte para conquistar a vida e ser integralmente responsável por ela. Nesse modo de ser não existe competição, pois, a pessoa está ciente de que pode e tem talento para realizações. Assim, o caminho fica livre, sem a necessidade de aprovação.

Já a necessidade de aprovação é a falta de preparo em reconhecer as habilidades pessoais que fazem com que sempre se sinta segura. As pessoas que aprendem a olhar para suas habilidades por necessidades da vida ou por incentivo, principalmente dos pais, possuem uma segurança natural, sentem-se tranquilas em expor essas habilidades e mantém relacionamentos mais maduros, tem facilidade em expor suas ideias e confiam nos seus valores.

A necessidade de aprovação, dá autoridade e transfere a responsabilidade para que o outro nos julgue. Mas, quanto uma outra pessoa realmente pode entender daquilo que você é, eu sou, nós somos? Pergunte-se se você quer que alguém diga quem você é e o que deve fazer.

Nesse sentido, a responsabilidade pela vida também é diminuída, não se corre riscos quando alguém diz que nos aprova, ou aprova o que fazemos. Há uma diferença relevante entre ser aprovada e ser elogiada. Sempre será mais fácil, perguntar se - "posso isso?" Ou - "posso aquilo?", do que simplesmente assumir responsabilidades que exigem qualquer tipo de esforço, buscar conhecer condições ou mesmo, auto sugerir. É também mais confortável não ter que assumir consequências pelas decisões tomadas.

Mas, há uma diferença relevante entre ignorar a qualquer custo o que os outros pensam e pedir opiniões para comparar antes de tomar decisões. Ignorar a qualquer custo implica em considerar-se ao mesmo tempo autossuficiente, onisciente e independente, uma conjunção que só é possível para quem vive isoladamente, e quase sempre resulta de um comportamento individualista e não da individualidade. 

Na auto aprovação, uma pessoa é responsável pelas consequências previsíveis de seus atos. Fosse sempre essa a forma de comportamento, o resultado seria o de pessoas confiantes de suas qualidades e que sabem perfeitamente o seu propósito e valor. Cessaria a busca de aprovação, e se passaria a viver a sua própria aprovação.

Carl G. Jung chamava isso de "processo da individuação"[2], a meta da individuação, dizia Jung "era despojar o próprio eu (self) dos falsos invólucros da forma como nos apresentamos ao mundo (persona), isso por um lado, e do poder sugestivo das imagens que carregamos no inconsciente, (imagens primordiais), por outro lado". Ao nos tornarmos nós mesmas, ao nos tornamos quem realmente somos, também expressamos uma das muitas facetas da do interno da pessoa (realidade primordial da psique) que, desta forma, cristaliza o seu próprio ser.

Por isso o desenvolvimento humano individual, na teoria psicológica de Jung, é conectado com a evolução humana e até mesmo cósmica. Nessa estrutura conceitual, o indivíduo não está mais isolado e sozinho, ao contrário, ele torna-se "contrapeso" que através da sua consciência, desequilibra a balança da história humana. Aplicando esta estrutura ao nosso tema, parte do que somos hoje, é resultado dos eventos que envolveram nossa família (ancestralidade) até agora.

O que nos ajuda a pensar que cada ser humano tem a sua importância para o meio. Equilibrado (dentro do seu talento e propósito) ele contribui no todo, favorecendo com a sua atuação diferenciada e verdadeira a possibilidade de que outros possam tomar coragem e reagir para o seu centro de prazer e felicidade. Só estando conectado com o centro do ser é que se possibilita viver de forma responsável e cooperativa no mundo.  Cada qual pode assim dizer: - Sou um que compõe o todo.

Quando uma pessoa carrega a verdade ela vê e identifica a verdade. Pense. Quando você consegue ser realmente sincera? Quando você percebe a sinceridade do outro? Quando você aceita sinceridade?

Quando a verdade é buscada é porque ela não é vivida pela pessoa que a busca.

Isso é o que frequentemente se faz com todos aqueles por quem se quer ser amada. Entra-se numa esfera de dependência da apreciação dos outros, e as razões podem ser as mais diversas, desde o simples bem estar no convívio, até complexas relações de poder.

Agora olhe para você sem máscaras e olhe para cada máscara que já utilizou e observe atentamente e entenda o verdadeiro motivo de ter utilizado cada uma delas, inclusive e sobretudo para si mesma (uma figura que você representa ou representou ser).

A própria aprovação estará equilibrada quando olhar para trás e entender que todos os que vieram antes como provedores (pais, tutores, auxiliadores) recebem respeito, aceitação e consideração por saber que eles fizeram o seu melhor, e os deixa livres de julgamento, do pensamento, assim, estará livre para ser o meu melhor.

Desta forma ninguém tem necessidade de dar provas, nem de aprovar, pois já existe a consciência da sua responsabilidade pela a verdade que carrega em si, sem precisar de que o outro lhe diga. Ninguém tem que ser melhor que alguém, quem quer que seja, simplesmente tem que ser melhor naquilo que quer e deve melhorar para si mesma.

Cada pessoa tem que se aprovar como o ser humano que caminha pela vontade de realizar o seu talento, com amor por tudo o que realiza, e com sabedoria para realizar suas atividades com força e conhecimento necessários, sempre com a verdade que já se encontra si mesmo. Por isso é preciso acessá-la.

Olhar a verdade em si, é o caminho para sentir amor e compreensão pelo outro, pois só assim se pode também compreender que aprovar o outro é supérfluo e desnecessário, já cada um possui em si a aprovação. Este é um passo importante que nos conduz a um novo tema, o da colaboração e da solidariedade.







[1] Programação Neolinguística - mapa não é território, há uma diferença incontestável entre a realidade e a experiência de realidade de um indivíduo.

 [2] C.G.Jung - Processo de individuação


* Continua o texto no próximo artigo.

* Direitos autorais Margareth Maria Demarchi
*Todos comentários serão bem-vindos. Obrigada*
 
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