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Quando saber a hora certa de discutir a relação?

por Bel Cesar em Autoajuda
Atualizado em 08/04/2020 11:35:16


Quando saber a hora certa de ter uma D.R.? Discutir o relacionamento só pode ser bom se houver a intenção de sair de uma situação que está ruim para ir para uma melhor. Uma conversa sem essa intenção é pura discussão: uma disputa contaminada pela raiva, ressentimento e da desagradável luta de poder para ver quem consegue melhor impor e convencer o outro de que ele é a raiz do problema em questão. Desta forma pouco adianta conversar. Mas como cultivar o clima certo para uma boa conversa?
Creio que, em primeiro lugar, temos que observar e admitir para nós mesmos se estamos abertos ou não para tal comunicação. Se não estivermos, teremos que nos dar um tempo para refletir sobre o que e como esta questão nos paralisa até que nos sintamos proprietários de nossa dor. Não há erro maior que entregar a sua dor para quem não quer cuidar dela. De que adianta acusar o outro de que você está sofrendo se ele não está aberto para o acolher?

Segundo a filosofia do budismo tibetano, existem três formas corretas de escutar os ensinamentos: não ser como um vaso que está de ponta cabeça; não ser como um vaso sujo; e não ser como um vaso que está na posição correta mas está furado na sua base. Creio que podemos reconhecê-las também como a base segura para termos uma conversa capaz de solucionar problemas de relacionamento.

Não ser como um vaso que está de ponta cabeça quer dizer quando estamos presentes fisicamente, mas a nossa mente está em outro lugar. Simplesmente não escutamos o que o outro tem para nos dizer porque não há espaço em nós para mais nada. Estamos tão sobrecarregados que nem suportamos mais ouvir o tom da voz daquele que nos fala. Quando isso ocorre é porque já estamos em posição de fuga. Neste estado, o sistema nervoso simpático que já está muito ativado, quer dizer, nosso sistema corpo-mente inconsciente tem condições para novos acordos, só para lutar ou fugir. Portanto, observe a sensibilidade de seu ouvido. Quando sentir que sua receptividade de escuta voltou é sinal de que seu vaso saiu da posição de ponta cabeça! Aliás, devemos notar também o nosso tom de voz quando falamos. Quando mais modulado e incisivo ele for, mais iremos cativar o outro para nos escutar. Enquanto estivermos como vaso que está de ponta cabeça é porque não temos a motivação correta para lidar com este conflito.

Não ser como um vaso sujo quer dizer não estarmos poluídos por nossos preconceitos a respeito do outro. Preconceitos são imagens mentais pré-estabelecidas. Hábitos mentais dificílimos de mudar porque fazem parte do nosso modo de ser. Assim, como a raiva, o ciúme e a inveja. Para diminuí-los temos que pegar as rédeas de seus impulsos em nossas mãos. Lama Michel Rinpoche em nosso novo livro "Grande Amor" (será lançado dia 12 de novembro, pela Ed. Gaia, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional), ressalta que para transformar um estado negativo da mente, como a raiva, é preciso gerar um estado oposto a ele, como a paciência ou a compaixão. Quando lhe pergunto como fazemos isso, ele me responde: temos que aprender a nos autoinduzir a esse estado de consciência positivo para criar familiaridade com ele; com o tempo, esse estado irá surgir de forma espontânea. Alguém pode me dizer: "Ah, mas isso é artificial!" Sim, é artificial. Uma pessoa já me disse: "Não! Eu preciso ser espontâneo, verdadeiro diante da vida". Eu digo: "Sim e não". Não temos que esconder as coisas de nós mesmos, mas não podemos sair por aí xingando todo mundo só porque somos verdadeiros. Isso tem um preço a pagar. No início, forçamos a barra para nos autoinduzirmos a um estado positivo. Porém, quanto mais gerarmos esse estado artificial, mais seremos levados por ele. Nesse processo, não tem free lunch (boca-livre), nada é de graça. Precisamos trabalhar muito e o processo é gradual".

E finalmente não ser como um vaso que está na posição correta, mas está furado na sua base, que significa ter uma postura correta de escuta e motivação durante a conversa, mas depois deixar que tudo que foi conversado se escoe...

Enquanto estivermos trabalhando internamente para deixar nossos "vasos" de ponta cabeça cima, menos sujos ou furados, podemos seguir os conselhos de Lama Gangchen Rinpoche que nos diz que, em situações difíceis, devemos pensar: "Estou bem, não tenho nada com isso, não me coloco diante disso". Lama Michel Rinpoche interpreta este seu conselho como uma forma dele nunca se colocar diretamente diante de um problema: "Se uma pessoa chega diante dele com uma atitude hostil, ele vai dizer: 'Tudo bem, não tem mais espaço para a harmonia e a união, mas eu não entro no conflito'. Presenciei situações em que Lama Gangchen não só diz, mas pratica o que diz: "Eu dei minha amizade para você, abri meu coração, dei a minha confiança e não vou tirar. Você pode fazer o que quiser, dar a sua amizade para mim, ou não, isso é você quem decide. O fato de eu te dar a minha amizade não significa que você tenha que dar a sua para mim. Eu continuo seu amigo. Mas, se quiser, haverá entre nós uma troca verdadeira e vamos crescer muito mais". Que fortuna temos de poder aprender com os Lamas em como viver melhor!


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bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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