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O show tem fim!

por Rosana Braga em Almas Gêmeas
Atualizado em 06/09/2007 14:03:06


Cansamos de ouvir, desde que nascemos, que a única coisa certa nesta vida é a morte. Do mesmo modo, cansamos de ouvir a reação das pessoas, e até a nossa, diante da morte do outro amado: “não acredito! Isso não pode ter acontecido!”.

É o conflito existencial indissolúvel gritando de alma em alma... É a charada tragicômica da condição humana; a revelação escancarada de nossa mais absoluta limitação. E ainda assim, insistimos em negar o inegável!

Quando comecei a refletir sobre essa finitude, achando interessante o tom poético que acompanha o final do show de cada um, cheguei a pensar que bastaria encararmos a última cena do espetáculo como o grande ato e tudo pareceria perfeitamente compreensível e facilmente assimilável.

Entretanto, esse pensamento logo se mostrou ineficaz quando entendi que a dor é por causa do fim do outro e não do nosso. Ou não? Não! Claro que não! Afinal, cada vez que a cortina de alguém se fecha, as bandas da nossa se aproximam um tantinho mais, sem que eu ou você percebamos que a morte pode ter sido dele, mas a despedida é pessoal. Eu de mim; você de você.

Depois, pareceu-me também que aceitar o fim assim, como se nele houvesse apenas beleza, mistério e poesia, seria ignorar a sádica presença da morte durante todos os dias de nossa vida: morremos aos poucos, e não há como evitar!

Melhor então aceitar não o fato de que o show acaba, mas o conflito que pulsa nele. E a partir daí, ciente de que viver nunca é um ensaio e que, portanto, contém em si estréia e encerramento, possamos experimentar, enfim, a essência. Este é o único motivo para que termine; caso contrário, tudo não terá passado de um estúpido desperdício.

Fica-me a impressão de que só desperdiçamos quando não aceitamos o conflito. A morte (assim como a vida) é trágica e linda. É fim e luz. É saudade e esperança. É a prova cruel e mágica de que somos finitos e isso muda tudo. Embute no agora uma urgência que nos salva.

Mas não porque devêssemos viver como se não houvesse amanhã. Seria vazio demais viver sem esta chance. Pode ser mesmo que não haja amanhã e isso precisa estar previsto especialmente por causa dos que amamos; mas pode ser que haja... e, assim, talvez seja melhor acreditar que o hoje é urgente tanto quanto será o amanhã, se houver. O segredo é um dia de cada vez, para que seja sempre hoje, sempre presente, tão idílico quanto o fim.

E para que a esperança no amanhã seja efetiva, ainda que ele não chegue para mim ou para você, é preciso que nos permitamos: o conflito precisa pulsar, o espetáculo precisa acontecer e a essência haverá de ficar, de algum jeito lindo, numa entrelinha do show de nossos amados...

Porque é por causa desta possibilidade, sobretudo, que o fim é indispensável... e que sem ele perderíamos o desejo genuíno de encontrar algum sentido maior à arte de existir, ainda que seja depois do espetáculo terminar...

Inspirado no “fim” de Luciano Pavarotti – 06/09/07.


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Rosana Braga é Especialista em Relacionamento e Autoestima, Autora de 9 livros sobre o tema. Psicóloga e Coach. Busca através de seus artigos, ajudar pessoas a se sentirem verdadeiramente mais seguras e atraentes, além de mostrar que é possível viver relacionamentos maduros, saudáveis e prazerosos.
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