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A dor é inevitável, o sofrimento é opcional

por Bel Cesar em Autoconhecimento
Atualizado em 08/04/2020 11:35:18


Lama Michel Rinpoche, aos 13 anos de idade, comentou em seu primeiro livro 'Uma Jovem ideia de Paz' (Ed. Sarasvati): 'Sofrimento é ter apego à dor. Uma coisa é a gente ter dor e sofrer com isso; outra coisa é dizer: 'Está doendo, mas por que vou sofrer, passar mal?'. Dor e sofrimento são coisas diferentes. Uma coisa é a gente ter dor e outra é ter sofrimento. Você pode ter dor e não achar que ela é algo ruim, pode transformá-la". Ou seja, em vez de interpretar a dor como um erro ou uma punição, podemos encará-la como um fato, algo que temos simplesmente que atravessar.

Tememos a dor emocional porque temos medo que ela jamais termine. Entender que o sofrimento em si não é permanente nos ajuda a atravessá-lo. Por isso, faz parte do processo de purificar o sofrimento a consciência de que ele, em si, não é eterno. A questão está em não negar nossas emoções, pois são elas que nos apontam nossos limites e também nossa capacidade de enfrentar as situações. Portanto, não devemos reprimi-las, mas sim usá-las como um instrumento de autoconhecimento.

O que pensamos a respeito da dor interpreta a intensidade de seu sofrimento. Na medida em que nos abrimos para aceitar e transformar nossa dor, mudamos a relação que temos para com ela.

Instintivamente resistimos à dor. Isso é natural. Mas podemos nos transformar em pessoas mais fortes se praticarmos o enfrentamento da sensação de desconforto sem interpretá-la como boa ou ruim. A percepção da dor emocional nos poupa de sentirmos mais dor. Mesmo que doa, é o ato de perceber a dor que faz com que ela se dissolva. É sadio sofrer, mas apenas o necessário, o natural. O que não é sadio é negar uma dor emocional ou senti-la sem querer aceitá-la. Esta atitude é possível, mas envolve treino. É como meditar, precisamos treinar. Pois nossa mente mimada não quer mudar, mesmo que seja para melhor. Afinal, ela não sabe que a mudança pode ser boa!

Por isso, temos de abandonar a atitude de achar que somos feitos do jeito que somos e não vamos mudar. Esse pensamento é muito infantil, pois não reconhecemos que podemos nos responsabilizar por quem já somos e queremos ser.

Estamos tão sobrecarregados de ideias preconcebidas, expectativas e exigências que não conseguimos mais nos mover dentro de nós mesmos! Quanto mais rígidos formos internamente, mais insatisfatório será o mundo à nossa volta.

A atividade de pensar e refletir é uma qualidade de nossa natureza humana, mas o problema se dá quando aquilo que nos dizemos nos deixa amarrados a um padrão negativo, que nos faz cair repetidamente na mesma arapuca. Há uma lógica na forma de pensar que resulta sempre num mesmo destino. Por exemplo, se alguém diz me amar, mas eu não me considero interessante o suficiente para ser amada, ou esta pessoa está enganada ou é muito carente de amor. Por isso aceita qualquer coisa, neste caso "eu". E assim vai, interpretamos a realidade conforme nossa autoimagem. Se já sabemos disso, agora precisamos nos dar uma real chance de mudar.

Lama Michel Rinpoche conclui em seu livro Uma Jovem ideia de Paz (Ed. Sarasvati): "Ter paz interior é estar aberto para as coisas positivas e fechado para as coisas negativas. Acho isso superimportante. Se alguém nos criticar de um jeito negativo, não devemos ficar perturbados com isso. Se sabemos que somos bons, não temos porque ficar balançados e dar peso às palavras que foram ditas. Se a gente refletir, verá que isso são só palavras, que não temos por que reagir negativamente. É importante aceitar tudo e transformar o negativo em positivo. Como o Lama Gangchen disse: "Quando a gente tem paz interior, podem até amputar nossa mão. Sentiremos dor, mas não teremos sofrimento".


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bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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