A força da criança interior no caminho do autoconhecimento

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 29/07/2025 15:46:47
Dentro de cada um de nós vive uma criança teimosa. Ela mora nos olhos que brilham quando escutamos uma música antiga. No arrepio diante de um cheiro que nos remete à cozinha da avó. Ela não tem idade. Não usa relógio. Não se preocupa com boletos ou prazos.
Essa criança é a centelha da nossa esperança.
É comum, na caminhada adulta, nos deixarmos endurecer. A vida exige. Machuca. Decepciona. E sem perceber, vamos construindo camadas de proteção: responsabilidades, medos, cinismos, hábitos automatizados. Vamos nos tornando sérios demais, racionais demais, duros demais. E no meio dessa armadura emocional, esquecemos de algo essencial: quem fomos antes de tudo isso.
Mas a verdade é que a nossa versão infantil, aquela que sonhava alto, que inventava mundos na cabeça, num quintal qualquer, nunca foi embora. Ela apenas se recolheu, esperando que a convidássemos de volta. Esperando que nos lembrássemos do que realmente importa.
Essa criança acredita. Contra todas as evidências, ela acredita!
Acredita que o amanhã pode ser melhor. Que ainda vale a pena amar. Que é possível recomeçar, aprender, perdoar. Ela insiste quando o adulto em nós quer desistir. Ela é a nossa alma embirrada, teimosa, esperançosa. Aquela parte de nós que se recusa a morrer.
Talvez por isso sejamos tão profundamente tocados por certas músicas, certos cheiros, certas cenas que, de repente, nos devolvem a pureza de antes. São portais. Passagens secretas que nos conectam com aquela essência primeira, onde tudo era mais simples, mais verdadeiro. Onde o afeto era mais direto, o riso mais fácil, a dor mais passageira.
O autoconhecimento, nesse contexto, não é apenas um exercício de análise. É também uma escavação delicada. Um retorno à origem. Um convite para reencontrar aquela criança que fomos, não para romantizar o passado, mas para resgatar o que ele tem de mais autêntico: a coragem de acreditar.
Porque veja, a esperança não é passividade. Não é esperar de braços cruzados. É persistir. É levantar todos os dias com um restinho de fé de que algo pode mudar. É olhar para o caos e ainda assim enxergar beleza. É ser capaz de dançar mesmo quando os pés estão cansados.
Essa força vem da criança que ainda vive em nós.
Quando tudo parecer sem sentido, feche os olhos e busque por ela. Escute o que ela tem a dizer. Talvez ela te lembre de um sonho antigo que ainda pulsa aí dentro. Talvez ela te faça rir de algo bobo e te devolva um pouco de leveza. Talvez ela apenas segure tua mão em silêncio, como faziam nossos pais ou avós quando nos sentíamos perdidos.
Na jornada da vida, precisamos reaprender a ouvir essa voz interna que nunca nos abandonou. Ela pode estar soterrada sob anos de exigências, traumas e repetições. Mas ainda está lá, pulsando, esperando, vibrando com a possibilidade de nos ver inteiros outra vez.
Não se trata de viver no passado, mas de levar essa criança pela mão e mostrar a ela o mundo com os olhos de hoje. De assumir o comando com a maturidade do adulto e a esperança do pequeno ser que acreditava em mágica. Porque a mágica ainda existe. Está na presença, na gratidão e no reencontro.
E quando nos reconectamos com essa parte de nós, algo muda. A vida reencontra o encanto. As perguntas se tornam mais suaves. O futuro, menos ameaçador. A esperança deixa de ser uma teoria e passa a ser uma prática diária, construída passo a passo, com o coração aberto e a alma alerta.
Portanto, da próxima vez que sentir que está se perdendo, procure a criança em você. Ela não desistiu. Ela nunca desistirá. E talvez seja exatamente isso o que te salvará. Porque a verdadeira esperança, nunca envelhece.