A história do papado: de Pedro a Leão XIV

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 08/05/2025 17:09:47
O papado é uma das instituições mais antigas e influentes do mundo ocidental, com quase dois milênios de história contínua. Mais do que uma liderança religiosa, o Papa encarna um símbolo espiritual, político e cultural que moldou civilizações inteiras. Em 8 de maio de 2025, a Igreja Católica testemunhou mais um capítulo histórico: a eleição do Papa Leão XIV, o cardeal americano Robert Prevost, tornando-se o 268º sucessor de São Pedro.
As origens: Pedro, o primeiro Papa
Segundo a tradição católica, Jesus conferiu a Pedro uma missão única: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mateus 16:18). Considerado o primeiro bispo de Roma, Pedro é visto como o início da sucessão apostólica que fundamenta o papado. Martirizado em Roma, ele se tornou o pilar da autoridade papal, ligada à cidade eterna.
Durante os primeiros séculos, os bispos de Roma eram respeitados, mas não exercitavam ainda o primado universal. A partir do século IV, com a conversão do imperador Constantino e a oficialização do cristianismo no Império Romano, o papa começou a assumir um papel mais institucional. Com Leão I (440-461), chamado Leão Magno, o papado se fortaleceu teologicamente e politicamente. Ele afirmou com clareza a autoridade romana sobre outras igrejas cristãs.
Na Idade Média, o Papa se tornou também uma figura política. O ápice de sua influência temporal ocorreu entre os séculos XI e XIII, com papas como Gregório VII, Inocêncio III e Bonifácio VIII. Eles confrontaram reis, lançaram cruzadas e definiram doutrinas fundamentais. O papado era ao mesmo tempo pastor de almas e soberano dos Estados Pontifícios.
Crises, cismas e reformas
Entre os séculos XIV e XV, o papado enfrentou crises severas, como o Cativeiro de Avignon e o Cisma do Ocidente, com até três papas simultaneamente reivindicando legitimidade. A Reforma Protestante no século XVI desafiou frontalmente a autoridade do Papa, levando à Contra-Reforma e ao Concílio de Trento, que reafirmou a centralidade do papado na fé católica.
O século XIX trouxe a perda do poder temporal com a unificação italiana e a criação do Estado do Vaticano em 1929. O Concílio Vaticano II (1962-1965), sob João XXIII e Paulo VI, representou uma renovação profunda da Igreja, aproximando-a do mundo moderno, mas mantendo o primado papal.
Papas recentes como João Paulo II, Bento XVI e Francisco transformaram a forma como o papado se comunica com o mundo: global, pastoral e engajado com temas contemporâneos como ecologia, justiça social e diálogo inter-religioso.
Os desafios do século XXI
A eleição de Robert Prevost como Papa Leão XIV é emblemática. Primeiro papa americano nascido nos Estados Unidos, ele representa a crescente globalização da Igreja. Ex-bispo em Chiclayo, no Peru, e prefeito da Congregação para os Bispos, Prevost é reconhecido por seu perfil pastoral, escuta ativa e foco em descentralizar o governo da Igreja.
Sua escolha sinaliza um compromisso com a continuidade das reformas iniciadas por Francisco, especialmente em sinodalidade*, ecologia integral e combate à clericalização. Como Leão XIV, ele carrega um nome pesado: o último papa com esse nome, Leão XIII, foi um visionário que abriu a Igreja à questão social com a encíclica Rerum Novarum**.
Nos dias atuais, sob a liderança de Leão XIV, a Igreja entra em uma nova fase de diálogo, presença global e busca de renovação sem romper com suas raízes milenares.
*Sinodalidade, no contexto da Igreja Católica, significa "caminhar juntos", ou seja, uma caminhada em comunhão e participação, onde todos, desde o papa até os leigos, se unem para realizar a missão da Igreja. É um conceito que enfatiza a necessidade de todos os membros da Igreja se envolverem no processo de tomada de decisões e na vida da Igreja, formando um corpo único em comunhão.
**Sobre a Encíclica Rerum Novarum: O documento escrito no final do século XIX pelo Papa Leão XIII abordava as questões mais delicadas do relacionamento entre empregado e patrão, como o salário justo, o limite da jornada de trabalho, o trabalho insalubre, o trabalho da mulher e o da criança, assim como o trabalho escravo.