A tecnologia não resolve a solidão existencial

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 27/04/2025 23:50:22
Jordan Peterson esteve em junho de 2024 no Brasil e, em uma de suas palestras, abordou com profundidade a morte dos nossos ideais e a importância de falar a verdade como um desafio pessoal. Para ilustrar seu ponto, ele resgatou a história de Caim e Abel, mostrando o contraste entre dois modos de vida: a agricultura e a caça-coleta.
A agricultura, com seu ciclo contínuo e transmissão entre gerações, representa estabilidade, rotina e conexão com a terra - valores que promovem o pertencimento e a construção de laços familiares. Já a caça-coleta, mais nômade, é marcada pela transitoriedade e pela ausência de enraizamento.
Abel simboliza o amor à terra, o cuidado pela criação e o respeito às raízes, espelhando valores como patriotismo e amor à família - pilares hoje em declínio na sociedade moderna. Caim, por sua vez, movido pela inveja e pela falsidade, destrói Abel, simbolizando a perseguição contemporânea aos valores tradicionais. A inveja corrói o que é virtuoso e gera um vazio existencial que parece caracterizar boa parte do mundo atual.
Essa desconexão foi profundamente analisada por Oswald Spengler em O Declínio do Ocidente. Ele observou que, à medida que as grandes cidades crescem e se tornam megalópoles, a humanidade se distancia da terra e da família, dando lugar a uma massa urbana despersonalizada. Quando o dinheiro não tem pátria, a vida também perde suas raízes - e a vontade de formar família e criar filhos se dissolve.
Após matar Abel, Caim não encontra liberdade, mas sim solidão e desespero. A destruição dos valores tradicionais cria um vazio que tecnologia e utopias distópicas não conseguem preencher. Assim como na história da Torre de Babel, uma metáfora para a tentativa de alcançar o paraíso sem sacrifício, as buscas modernas por soluções megalomaníacas para problemas globais, como a crise da natalidade, tendem ao desastre.
A tentativa de construir um paraíso na terra através da tecnologia e da centralização global acaba, inevitavelmente, em mais caos e desilusão.
Sugestão de leitura: O FENÔMENO URBANO