Healer Databank: O começo de tudo
Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 24/12/2025 15:27:15
(Uma homenagem à semente que floresceu como SomosTodosUm)
Às vezes, as grandes revoluções não começam com grandes manifestações, mas com um ato silencioso de amizade. Em 1996, durante um final de semana de pura vontade e dedicação, nascia o Healer: um programa de computador criado para auxiliar meu grande amigo, Sergio Scabia, a gerenciar receitas, etiquetas e pessoas em sua jornada nascente como terapeuta. Este não era apenas um software; era a materialização em código de um raciocínio terapêutico intuitivo, uma ponte entre o coração e a eficiência.
Nosso encontro, anos antes, em 1994, dentro da mesma empresa, já carregava a marca de uma sintonia singular. Enquanto aprendíamos sobre o mundo corporativo, nas entrelinhas do cotidiano, começávamos a entender algo muito mais profundo sobre conexão e propósito. Em 1996, Sergio, então vendedor de máquinas industriais, começava a dar seus primeiros passos como terapeuta, traduzindo intuição em gestos concretos. Ele oferecia florais nas ruas, atendia a dezenas de pedidos por telefone, investindo seus próprios recursos em frascos e essências, tudo de forma voluntária, paralelamente ao seu trabalho na Arbus. Era um fluxo intenso de generosidade que clamava, em silêncio, por organização.
Eu testemunhava seus desafios e frustrações: anotações improvisadas em cartões de visita, palavras como angústia, medo e falta de sono rabiscadas em guardanapos de restaurante, a dificuldade de acompanhar cada caso, a logística caótica das etiquetas e dos preparos. Havia um risco constante de confusão, de perda de informações preciosas em meio àquela desordem material.
Eu pensei, vou dar um presente de Natal pra esse cara, e foi assim que Healer nasceu, em apenas um final de semana de trabalho em minha casa. Aproveitei algumas telas de outros projetos de cadastro de clientes, controle de estoque e pedidos e fiz um piloto. Era um banco de dados simples, mas um que podia dar forma e estrutura ao trabalho do meu amigo. Na segunda-feira, assim que ele chegou no escritório, eu disse que tinha uma surpresa. Aquele cara que tinha já, em tão pouco tempo me ensinado coisas sobre mecânica, tecnologia, italiano, inglês e cuidado por anos da minha rinite e outros problemas emocionais, com seus florais... ficou atônito, parecia uma criança com um brinquedo novo e como conhecia bem de computadores, percebeu instantaneamente o potencial da coisa. Ele queria me pagar de qualquer jeito, mas não, disse que era um presente... ele não acreditava.
Na época ele já tinha um notebook. Muito agradecido levou tudo pra casa e ficou fuçando a noite toda.
No dia seguinte chegou com uma lista interminável de dúvidas, críticas e sugestões de alterações. Então chegou a minha vez de levar tudo pra casa e fazer a primeira revisão. Bom, depois da 8a revisão eu ja tava arrependido "pá caramba" e ele cada vez mais entusiasmado. Já podia criar relatório para seus pacientes, apenas informando as primeiras letras de cada essência usada na formula e o sistema já trazia todo o restante, origem, produtor, aspectos positivos e outros que podiam ser melhorados com o uso continuo do floral.
Ele organizava não apenas nomes e fórmulas, mas histórias e intenções de cura. Cada campo preenchido era um passo para que a energia do Sergio pudesse fluir com mais liberdade, menos obstruída pelo atrito do cotidiano.
O projeto tomou tal vida que, num dado momento, ele sugeriu: "Precisamos oferecer isso a outros terapeutas". Levei o Healer a eventos e feiras do setor, e foi então que levamos nosso primeiro grande "baque". Esbarramos em um ceticismo poético: muitos colegas temiam que a "frieza" do computador pudesse interferir na "pureza" das essências. Nós, porém, enxergávamos o exato oposto. Para nós, a tecnologia não era uma barreira, mas um amplificador. Poderia ser o suporte estrutural que libertaria o terapeuta para fazer o que realmente importava: curar. O Healer não substituía o olhar humano; garantia que ele pudesse se aprofundar.
O espírito inovador que gerou o Healer não se apagou. Em 1997, ainda nos primórdios da internet brasileira, criei meu primeiro site, tecnotron (que ainda está no ar, fala do bug do milênio e meu nome da área de mail list). Sua simplicidade arquetípica ainda hoje testemunha aquela época de desbravamento digital. Aquele pontinho no vasto oceano da rede mostrou um caminho possível. Acho que o Sergio percebeu esse potencial antes mesmo de mim.
Com o tempo, nossa parceria natural transformou-se em uma sociedade alquímica. Minha estrutura técnica encontrou na visão espiritual do Sergio um horizonte infinito. Juntos, percebemos que aquela colaboração transbordava as telas do programa. Estávamos, na verdade, codificando os primeiros pixels de um movimento maior. Cada linha de código carregava, em seu núcleo, o DNA do que estava por vir: a vontade de organizar, unir e disseminar.
E o grande salto chegou. No alvorecer de um novo milênio, em 3 de janeiro de 2000, Sergio Scabia e eu, inspirados por tudo o que havíamos aprendido e construído juntos, demos um passo ousado. Movidos pelo desejo de transcender dogmas e unir pessoas através de valores universais, a Unidade e o Amor Incondicional, fundamos o SomosTodosUm.
O portal não nasceu do zero. Ele brotou diretamente do Healer. Nasceu das longas conversas, da confiança construída linha a linha, da crença compartilhada de que a tecnologia e a espiritualidade são linguagens complementares de uma mesma verdade. O santuário virtual que concebemos foi, em essência, a escalabilidade daquele primeiro ato de ajuda: um espaço onde cada indivíduo pudesse encontrar sua verdade interior e se reconectar com a essência da vida, agora potencializado pela rede mundial.
Olhando para trás, o Healer foi muito mais que um programa. Foi o plano piloto de um movimento, o embrião de uma comunidade que transformaria milhares de vidas. Era a prova viva de que, quando a amizade sincera se une a um propósito maior, o que começa em um humilde disquete pode ecoar na vastidão da internet, criando um lar digital para todos os que buscam a luz.
Esta é uma homenagem ao início. À semente plantada com código e cuidado. Ao Sergio, meu grande amigo e sócio, cuja intuição foi a primeira versão do sistema. E a todos que, de alguma forma, foram tocados por essa jornada que começou em um simples final de semana de 1996, com um único objetivo: ajudar um amigo a ajudar o mundo.









in memoriam