O Verdadeiro desperdício de tempo é Viver sem Propósito

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 14/05/2025 23:06:32
"Desperdiçar tempo" é uma expressão que carrega julgamentos morais, como se cada minuto não dedicado a um propósito fosse um pecado capital da modernidade. Costumamos ouvir as pessoas lamentarem, desde o excesso de preocupação com bens materiais até a incapacidade de viver o presente. Mas será que o "desperdício" está apenas no ócio, falta de planejamento, ou paradoxalmente, está na obsessão por produtividade?
Enquanto muitos definem "desperdiçar tempo" como não concluir tarefas, a cultura atual elevou a produtividade a um fetiche. Vivemos sob a ditadura do hustle culture (ou "cultura da agitação"), onde descansar é visto como preguiça e o lazer precisa ser "justificado".
Filósofos como Byung-Chul Han alertam: "a sociedade do cansaço nos aprisiona em uma corrida por eficiência, esvaziando a vida de sentido". Desperdiçar tempo, nesse contexto, pode ser um ato de resistência - como tirar um dia para não fazer nada, desligar notificações ou simplesmente contemplar o céu.
Desperdiçar tempo, pode significar também algo como não se conectar com novas culturas... mas a hiperconexão digital muitas vezes apenas nos aliena. Passamos horas rolando feeds, consumindo conteúdo fragmentado, enquanto algoritmos nos mantêm em bolhas. O filósofo Zygmunt Bauman descreveu isso como "vida líquida": relações superficiais e atenção dispersa. Neste caso, o verdadeiro desperdício não é a falta de conexão, mas a ilusão dela, trocando diálogos profundos por likes e stories.
Viver o presente virou um mandamento, mas essa cobrança pode ser opressiva. A ideia de que "devemos aproveitar cada segundo como se fosse o último" gera ansiedade, como aponta o psicólogo Svend Brinkmann. Para ele, a busca obsessiva por felicidade ignora a importância de momentos ordinários na construção da resiliência. Desperdiçar tempo, aqui, pode ser não permitir-se sentir tédio, raiva ou saudade, emoções essenciais para uma existência autêntica.
O sociólogo Hartmut Rosa questiona: a aceleração social nos rouba a capacidade de experienciar o tempo. Agenda cheia, metas rígidas e a busca por "otimização" nos impedem de mergulhar no agora. Desperdiçamos tempo quando transformamos a vida em uma checklist, em vez de abrir espaço para o inesperado, como aquele café prolongado com um amigo ou um desvio no caminho para observar o pôr do sol.
"Não temos pouco tempo, mas perdemos muito". Sêneca criticava os que dependiam de escravos para sair da banheira, simbolizando a perda de autonomia. Hoje, podemos trocar o papel do escravos por algoritmos. Os aplicativos decidem o que comer, assistir ou comprar. Será que desperdiçamos tempo quando terceirizamos nossas escolhas? Seja para a Netflix ("o que assistir?") ou para o Ifood ("o que vou comer?")... A comodidade pode nos afastar da liberdade de errar, descobrir e, assim, crescer.
Assista ao vídeo que inspirou esse artigo, do programa Linhas Cruzadas:
Desperdiçar tempo não é uma equação simples entre "fazer" e "não fazer". É uma questão de consciência.
Quem dita o valor do seu tempo? a sociedade, o chefe, seus seguidores ou você?