Oração, Fé e Autoconhecimento

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 03/10/2025 20:18:53
Ao longo da história, a humanidade criou mitos, rituais e crenças que, mais do que respostas, revelam perguntas íntimas: quem somos, por que estamos aqui, existe um propósito maior?
O curioso é que, muitas vezes, não buscamos um sentido em Deus, mas uma solução imediata. Queremos alívio para a dor, cura para uma doença, sucesso nos negócios, prosperidade material. Não é raro que nossas orações se parecem mais com listas de desejos do que com diálogos profundos.
Mas será que esse é o verdadeiro papel da oração?
No livro, A Oração de Jabez, Bruce Wilkinson ensina a que a prece consiste em pedir a Deus a expansão de território, riqueza e poder. Milhões de pessoas se identificaram com essa promessa de bênçãos materiais. Esse fenômeno nos mostra algo fundamental: quando oramos, muitas vezes não estamos buscando o divino, mas reforçando o nosso próprio ego. De certa forma, pedimos que o mundo se curve aos nossos desejos, que a realidade se ajuste ao nosso conforto.
A oração, nesse sentido, não nos aproxima do mistério, mas sim aprisiona na ilusão de controle.
Existe ainda um paradoxo: se acreditamos que Deus tem um plano perfeito, por que pedir para Ele mudá-lo? Se tudo já está escrito, qual o sentido de suplicar por alterações?
Alguns podem dizer: "Se não acontecer, é porque era a vontade de Deus". Mas então, não seria mais coerente viver em silêncio, confiando na vida como ela é, em vez de tentar negociar com o infinito?
Quero sugerir algo mais profundo, que a oração pode ser um instrumento de rendição sim, mas também pode ser expressão da nossa arrogância, como uma pretensão de que o universo gire ao redor da nossa pequena história.
Para alguns, Deus é uma metáfora para o mistério, a vida e a vastidão do universo. Para outros, é uma presença viva, que cuida até dos mínimos detalhes de nossa existência.
No fundo, o que separa essas visões não é apenas crença, mas a maneira como lidamos com o mistério. Uns precisam de respostas concretas ou narrativas que expliquem tudo. enquanto outros preferem aceitar o não-saber e permanecer em contemplação.
Pra mim o risco está nas certezas absolutas, tanto dos que afirmam possuir toda a verdade, quanto dos que descartam qualquer possibilidade de transcendência.
Tão importante do que discutir se Deus existe ou não é compreender o efeito que essa crença -ou ausência dela- tem sobre nós. A fé verdadeira não precisa de barganhas nem de promessas de prosperidade. Ela se manifesta quando somos capazes de confiar na vida mesmo sem entender seus caminhos.
Do ponto de vista de um esotérico, a oração pode ser transformadora quando deixa de ser uma súplica e se torna um estado de presença. Não pedimos coisas, mas cultivamos clareza, gratidão e abertura.
Assim, em vez de repetir fórmulas prontas, podemos transformar a oração em silêncio, contemplação e entrega. Não para que o mundo mude, mas para que nós mudemos.
O verdadeiro amadurecimento espiritual talvez esteja em aceitar que não sabemos. Que a vida é maior do que nossas explicações, que o mistério não precisa ser preenchido com histórias literais nem com fórmulas de poder. Podemos acreditar em Deus, no universo, no amor ou simplesmente na vida. O importante não é o nome, mas a qualidade da relação que cultivamos com a existência.
Pra fechar penso que a pergunta não é se Deus existe, mas: O que minha fé, ou ausência dela, está produzindo em mim?
Se ela me torna mais humilde, compassivo e consciente, então cumpre seu papel ou se isso me torna arrogante, fanático ou preso ao ego, então virou apenas mais uma ilusão.