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Parir com alegria!

por Adília Belotti em Autoconhecimento
Atualizado em 22/03/2005 19:30:20


“Não vou ter filhos”, ela me diz. E conclui: "Dói muito, vi na TV!”. Tive vontade de rir. A mulher quase menina, também ria, como se brincasse com a idéia, para afugentar o medo. E no entanto, nos olhos de azeitona, a vida quase que transbordava, tamanha alegria...Claro que teria filhos! É a “ânsia da vida por si mesma”, como diria o poeta!

Partos, dores... não lembro da dor, lembro de me sentir dissolver, para além do prazer e da dor. Estou convencida de que as mulheres nem se deram ao trabalho de inventar uma palavra para definir as sensações de um parto. Com certeza estavam ocupadíssimas parindo e com medo. Sim, havia medo. Para os gregos, por exemplo, as mulheres que morriam no parto eram comparadas aos heróis que morriam nas batalhas...

Mas e hoje? Leio a entrevista do Delas com o dr. Malcom Montgomery: “a menstruação é desnecessária, eventualmente até prejudicial para as mulheres modernas que têm no máximo dois ou três filhos ao longo de sua vida fértil”. Hummm!

Claro, ninguém precisa menstruar para se sentir mulher. E não é maravilhoso que, ao contrário de nossas avós, possamos ter os filhos que desejamos e apenas quando os desejamos? E que alegria é viver a gestação e o parto sem nenhum medo! Certo, só não pode engordar...E, melhor ainda, tudo isso sem dor, viu? Ou quase.

Não dá nem para acreditar que algumas mulheres ainda consigam associar palavras empoeiradas como “sacrifício” e “renúncia” à maternidade... pelo menos nas nossas grandes, modernas, antissépticas e eficientíssimas cidades! Ser mãe definitivamente não é “padecer no paraíso”, viva!

Ao contrário, como diz Elena Loewenthal, num artigo para a revista italiana Grazia, “É belo poder dizer para o filho: você foi gerado por alegria”. Não por necessidade, não por solidão, não por falta de alternativas, mas por pura e genuína alegria! Porque ser mãe é mesmo extraordinário! Sobretudo se você escolher gerar um filho justamente porque se sente bem no mundo e porque cada bebê deveria ser uma afirmação da nossa confiança no futuro! Estas são boas razões para ser mãe... e no entanto...

...fiquei pasma ao me dar conta de que a feminilidade está cada vez mais longe de ser algo concreto e que daqui para frente só vamos nos tornar mulheres se conseguirmos fazer o parto de nós mesmas!

Há milênios o ser feminino vem sendo definido pela suas mais do que evidentes aproximações com os fenômenos da Natureza. Éramos nós, em nós, misteriosíssimos fenômenos feitos de ciclos lunares, sangues, dores, desejos, humores... dentro de nós a cada mês encenava-se o formidável espetáculo da vida e da morte! Nada se parecia mais com a própria Terra do que uma mulher. E, é claro as imagens destas afinidades estão aí mesmo escancaradas: terra virgem, terra fértil, terra violada, nascemos da terra e voltamos ao seu útero úmido e escuro para morrer.

A teóloga (sim, existem teólogas!) Rosemary Radford Ruether, no livro New Woman, New Earth conta que, para os povos pré-cristãos que se acotovelavam às margens do Mediterrâneo, “a gênese do ser era compreendida como uma matriz divina ou “ovo do mundo”, dentro do qual o céu e a terra, os deus e os homens se diferenciavam. A Criação acontecia no útero desta Grande-Mãe...”

Não, estas não só apenas coisas velhas, descoladas de nós. Veja só o que diz a nossa teóloga: “O símbolo da Mãe Divina representa uma sociedade que interage diretamente e depende de forma absoluta da natureza para sua sobrevivência, uma experiência fundamental que vai persistir nas culturas agrárias, mesmo muito depois da revolução urbana”.

Muito tempo nos separa destes povos. No caminho, deuses masculinos foram aos poucos derrotando estas poderosas figuras femininas, e hoje reinam, solitários e estéreis... na linguagem dos símbolos, o culto absoluto do Deus-Sol substituiu os rituais dedicados às deusas da Lua...

Alguns estudiosos da psique humana, no entanto, afirmam que, a Grande-Mãe ainda continua viva nas profundezas úmidas do nosso inconsciente. “Ela vive nos nossos sonhos”, alerta a psicóloga junguiana Marion Woodman. E é importante que possamos criar um espaço interno para ela. Porque ainda que sem menstruar, mesmo sem dor, mesmo parindo nossos filhos semi-adormecidas, mesmo que nosso corpo não guarde nenhuma memória da Lua Cheia, ainda assim deve existir algo que acontece conosco em certos momentos. E que nos obriga a virar os olhos para dentro e prestar atenção...

Um algo que Marion Woodman expressa assim: "O sangue vermelho sugere o poder interior e ardente das mulheres, matriz essencial que pode se transformar em bebês, leite, paixão e orgulho, lava primordial da vida!"
E vivam as mães!

Este poema foi retirado do livro Dancing in the flames, de Marion Woodman. Foi escrito por uma menina e fala da necessidade que toda mulher tem de, em algum momento da vida, se separar da própria mãe para encontrar a si mesma. A tradução, livre, foi feita por mim...

Quem sou eu?
Busco a resposta
ao menos parte dela
nos seus olhos
quando você sorri para mim
apenas para mim
me foca e define
no tempo e no espaço.

Eu sinto
as lentes do seu amor
me dando sentido...e forma

Como você me faz parecer bela!
Você me ama
e me dá vida
e coragem para viver
e um jeito de viver.

Você me envolve
em você mesma
e eu nunca percebi que
não existo
fora de você.

Você está sempre ali
Entre mim e o vazio
Entre mim e eu mesma!


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adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
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