Permaneça concentrado no momento presente

Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 19/06/2025 10:55:45
O pensamento estoico que me inspirou muito foi esse:
Não enchas tua mente com todas as coisas ruins que ainda poderiam acontecer.
Permanece concentrado na situação presente."
Marcus Aurelius, Meditações
Marco Aurélio sabia que aquilo que nos perturba nos outros, seja a inveja, a raiva, o rancor, muitas vezes é reflexo do que carregamos dentro. Quando um semblante rude nos cala, não é apenas o outro que revela seu lado obscuro: é o nosso espelho que se quebra. O filósofo percebeu que "o agressor compartilha da mesma centelha" e, abraçarmos essa ideia, nos damos o direito e a coragem de encarar nossa própria sombra.
Hoje encontrarei pessoas mesquinhas, ingratas, arrogantes... Mas nada disso pode me ferir, pois sei que partilham da mesma centelha divina que eu.
Quem olha demais "quem vê demais" experimenta um exílio pessoal. Sabemos coisas que muitos preferem ignorar. Isso nos distancia da conformidade, dos roteiros emocionais familiares e confortáveis. A lucidez, diz Marco Aurélio, costuma nascer na solidão, um consolo escuro, mas pleno, para quem decide permanecer fiel à verdade.
Ele sugeria iniciar o dia antecipando as dificuldades. Não para se fechar ao mundo, mas para se preparar e não ser tomado pela correnteza emocional.
"você tem poder sobre sua mente, não sobre eventos externos"
Se não posso mudar o agressor, posso regular minha reação e talvez reconhecer que certos atos alheios são ecos de impulsos nossos. Quando julgamos um inimigo como traiçoeiro, pode ser que nossa sombra nos implore por atenção. Reconhecer isso é liberdade, não indulgência!
Medos, raiva e inveja, quando enfrentados, não nos destroem, nos iluminam. A sombra, se confrontada, se torna uma fonte de poder redistribuído, uma virtude redimida. A integridade se fortalece nessa fusão.
O exílio da consciência não precisa ser cárcere. Pode ser um santuário onde respiramos nossa própria verdade. Lá, não esperamos aplausos, mas apenas ecoa o silêncio da alma que decidiu se governar. E ao comandar esses impulsos, somos senhores de nós mesmos.
Mas como integrar o lado escuro de forma estoica?
Escreva por cinco minutos sobre o que irritou você hoje. Sem filtro.
Pergunte: "o que isso me diz sobre mim?"
Reconheça o impulso, pois ele existe mesmo, mas não define sua ação.
Encerre com gratidão, por você estar ciente, por poder escolher melhor.
Integrar a sombra, esse lado sombrio e visceral, não é renegar suas virtudes mais básicas. É, nas palavras de Marco Aurélio, reconhecer que "tudo é um ser vivo único", e que dentro dessa unidade há luz e escuridão.
Ao não fingir conhecer nem negar o que sentimos, caminhamos com autenticidade. E, no final, vemos que a liberdade essencial não está em escapar da escuridão, mas em carregá-la dentro de nós, iluminando nosso próprio templo interno.