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Eu quero paz, e você?

por Rosemeire Zago em Corpo e Mente
Atualizado em 14/01/2010 14:44:42


Infelizmente, o começo do ano começou com muitas tragédias, e a cada dia temos conhecimento de outra e mais outra, atingindo nossos corações através dos noticiários e das vivências de muitos. É um momento de dor, impotência? Ou resultado da falta de atitude de uma maioria com nossa grande Mãe Terra? Com certeza, é um momento de reflexão para muitos de nós, que mesmo ainda não sendo atingidos diretamente por tamanha violência, todos estamos sujeitos às suas consequências. A Terra não estará dando um sonoro grito de socorro?

Nesse momento de reflexão, penso no sofrimento não só das pessoas atingidas por tudo que está acontecendo, mas também daquelas que não estão sendo vítimas de tais tragédias, mas vivem intensos sofrimentos dentro de seus próprios lares, dentro de seus próprios corações.
Questiono o motivo que levam pessoas, ainda que estejam distantes de toda essa destruição desproporcional, trazer para dentro de suas casas essa mesma destruição em seus relacionamentos, em forma de palavras, atitudes, gestos e que, na verdade, muitas vezes refletem seu próprio mundo interior. Muitas dessas pessoas são as que falam que é preciso ter paz, que condenam a guerra, violência, mas não percebem que vivem uma guerra diária consigo mesmas e com aqueles que convivem.

Será que não basta tudo que vivemos nesse mundo doente? Ou será que o mundo está doente como reflexo de pessoas igualmente doentes e que nem se dão conta disso? Será que cada um que pede paz está em harmonia com sua família e principalmente, consigo mesmo? Como ouvi certa vez: “se levo um tapa todos os dias do meu pai, qual o problema se eu fizer o mesmo com outra pessoa?”

A violência é gerada por muitos motivos: busca do poder, dinheiro, interesses políticos, pessoais, enfim, os interesses são muitos, mas geralmente é uma tentativa de liberar uma dor, se vingar, ou até mesmo se defender, ainda que por meios nada convincentes. Quando se agride alguém, é uma forma primitiva, mas real, de dizer: “fui agredido e por isso também me vejo no direito de fazer o mesmo”.

Esse processo pode acontecer sem que a pessoa tenha consciência disso e também como resposta a algo que aconteceu há muito tempo. A agressividade é um gesto desesperado para expressar dor, angústia ou preocupações com situações da qual não se vê saída. Mas, e nós, que sequer participamos ou concordamos com tamanhas atrocidades, o que podemos fazer?
Afinal, por que a violência acontece? A história de muitos começa no início da vida, com os próprios pais, que vistos como exemplo do que é certo, muitas vezes impõem o respeito a seus filhos usando de todos os meios, batem, são agressivos, violentos, agridem com palavras, atitudes, e ainda, são impunes. E, assim, a violência muitas vezes começa na infância, dentro de casa, e vai se intensificando com o passar dos anos, com os brinquedos e jogos, comprados pelos próprios pais.

O ato de bater, agredir alguém, para muitos acaba sendo demonstração de poder, superioridade, independência, controle, ainda que totalmente errada, mas talvez a maneira com que aprendeu. Em contrapartida, muitos também agridem em resposta, como forma de defesa, por se sentirem agredidos em alguma época de suas vidas, ainda que já muito distante.

A violência, portanto, caracteriza uma insatisfação consigo mesmo tão profunda que faz muitos agredirem aos outros, numa tentativa insana de aliviar a própria dor sentida quem sabe há muitos anos e se perpetua. Há tantas formas de se comunicar com o outro, por que a necessidade de ferir tão profundamente alguém? Será uma demonstração fiel de como se sentiu tratado durante a vida? Ou ainda, como na verdade de trata? A agressividade contra os outros seria apenas o reflexo de uma agressividade contra si mesmo? Pode ser algumas das respostas.

O que sabemos é que não há desculpa nem justificativa para a agressividade cometida de todas as formas, seja por gestos, palavras, ou até pela indiferença. Agir de modo instintivo, como os animais agem, mas por sua própria natureza, nos faz semelhantes e não diferentes, e isso é, no mínimo, lamentável.

Sendo assim, o Homem, aos poucos, está perdendo por si mesmo seu direito de ser chamado de ser humano, e quantos animais não são muito mais humanos? Ou quem sabe mais sensíveis e capazes de doar amor quando o próprio ser humano se mostra incapaz?
Ao reprimirmos tantas injustiças, decepções, e tudo o mais que sentimos, acabamos tendo como reflexo uma sociedade com agressividade exacerbada, e o pior, inconsciente de sua própria doença, o que torna mais difícil a busca por sua cura.

Falarmos de paz sem promovê-la dentro de nós mesmos, torna qualquer ação improdutiva. Assim, nos tornamos vítimas da violência, ainda que distantes, porque em muitos casos, ela acontece muito mais perto do que as imagens que estão entrando dentro de nossas casas todos os dias, pois muitas vezes ela acontece dentro de cada um. Quantas são as pessoas que tratam não apenas os outros com agressividade, mas também a si mesmas? Quantas são as pessoas que são seus piores inimigos? Sempre se maltratando, se criticando, se desconsiderando, por não acreditarem em seu real valor? Infelizmente são muitas! Tudo que está acontecendo neste momento pode ser como um alerta para tornar algumas pessoas um pouco mais conscientes de seus próprios comportamentos e que percebam que é possível viver em paz se permitirem sentir essa paz dentro de si mesmas. Quando as pessoas forem capazes de sentir sua dor, conscientes do sentimento que estão sentindo sem negá-la, irão se sentir mais aliviadas e serão menos violentas ou agressivas. Essa transformação é lenta e deve ter como base o amor para criar a verdadeira paz. Mas, essa harmonia deve começar primeiro dentro de cada família, de cada ser humano, para depois, sim, refletir no mundo, pois só quando o Homem for capaz de enfrentar a si mesmo e sentir paz dentro de seu próprio coração, o mundo terá paz. Ainda que cada um de nós sejamos apenas um nesse Universo repleto de violência e maldade, onde o poder e a força dos mais fortes impera, busquemos pela paz ainda que seja dentro de nosso pequeno coração, entre as pessoas que amamos, com a esperança que essa energia se fortaleça e cresça, contagiando todos aqueles que estão de uma maneira ou de outras distantes da luz e da paz tão almejada, pois afinal Somos Todos Um.



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zago
Rosemeire Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.
A base de seu trabalho no atendimento individual de adultos é o resgate da autoestima e amor-próprio, com experiência no processo de reencontrar e cuidar da criança que foi vítima de abuso físico, psicológico e/ou sexual, e ainda hoje contamina a vida do adulto com suas dores.
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