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Não quero saber...

por Rosemeire Zago em Corpo e Mente
Atualizado em 24/06/2010 14:52:17


Você evita pensar ou falar sobre o que sente ou convive com alguém assim? É muito comum as pessoas não desejarem saber sobre alguns fatos que estão bem diante delas. Estamos habituados com frases feitas como: “o que os olhos não vêem o coração não sente”, ou “pensar dói”, “não quero nem saber...”, “vamos colocar panos quentes” ou ainda, a crença que devemos colocar para debaixo do tapete situações ou atitudes das quais não concordamos ou que nos machucam e por isso mesmo, tendemos a fugir, negando o que é óbvio. Mas quais as conseqüências disso? Muitas!

Em algum momento aquilo que, até então, estava escondido pode se manifestar de alguma forma, seja por um sintoma, doença, acidente, angústia, insegurança, tristeza, culpa, arrependimento, entre outros; e muitas vezes sequer relacionamos o fato a situações mal resolvidas e acumuladas ao longo do tempo. Isso acontece porque ainda que nossa consciência queira negar, tudo é registrado pelo inconsciente. Ou seja, uma situação não deixa de existir apenas porque a negamos. Quando evitamos a verdade, estamos omitindo de nós mesmos o que sentimos e nos negando a possibilidade de evitar conflitos futuros. Que com certeza irão existir.

Em algumas situações, pode até ser mais prudente adiar a conversa sobre o que aconteceu e como nos sentimos, mas isso não significa deixar pra lá, como muitas pessoas preferem. Em algum momento de nossa vida, o deixar pra lá vai ressurgir e em geral, de maneira muito mais intensa, pois irá se somar a muitas outras situações que também foram deixadas pra lá. É a famosa última gota que faz tudo transbordar! Transborda a paciência, tolerância, a raiva, o ressentimento, as mágoas, podendo comprometer a amizade, admiração, e até o amor!

Quando somos acusados injustamente por algo que não fizemos, é natural que tentemos nos defender, mas nem sempre fazemos isso, pelos mais diferentes motivos. Alguns alegam que é para evitar brigas, outros sentem dificuldade em demonstrar o que sentem diante de alguma situação, outros ainda querem tanto agradar que nem pensam na possibilidade de dizer o que pensam, enfim, no fundo queremos poupar o outro em detrimento de nosso próprio sofrimento. É justo? Não quero defender a idéia de que devemos brigar por tudo, mas saber impor limites e nos fazer respeitar quando alguém nos invade, nos machuca, deve ser entendido como saudável e não como mais fonte de brigas. Se a briga acontece porque você demonstrou que não gostou de uma acusação, uma palavra ou gesto que te ofenderam, na verdade está lidando com uma pessoa imatura e que não suporta ser contrariada.

Já percebeu que algumas pessoas têm a necessidade de inferiorizar o outro com brincadeiras inadequadas e desagradáveis? Sabe por qual motivo agem assim? Em geral, para sentirem-se superiores. É certo com você mesmo agir como se nada houvesse acontecido? E nos relacionamentos afetivos? Quantas pessoas não sabem nada da vida do outro? A parte financeira é algo sigiloso até entre os casais. E sabe o que aconteceu com um casal que conheço? O marido veio a falecer num acidente e a esposa ficou totalmente perdida e sem nenhum recurso financeiro, pois nada sabia sobre isso. Quantas histórias você conhece que aconteceu isso? Se não conhece, saiba que é muito freqüente.

Outra situação muito comum é de pessoas que buscam sempre agradar ao outro e cedem em tudo, deixam que o outro escolha a comida, onde viajar, o filme que irão assistir, e assim, com o tempo acabam se tornando desconhecidas de si mesmas, sem saber mais o que gostam. E não é surpresa se o outro deixar de ter a admiração e atração que tinha por você. Afinal, onde está aquela pessoa por quem um dia se apaixonou se ela se tornou uma extensão dele?
Atendi um senhor em meu consultório que durante as férias sua esposa e os filhos foram viajar e ele ficou. Numa noite foi até a pizzaria e não sabia qual o sabor da pizza escolher, pois sempre deixava que esposa e os filhos decidissem. Inconformado, voltou para seu carro e decidiu que não voltaria para casa sem escolher aquilo que queria comer. Demorou quase uma hora, mas conseguiu ouvir a si mesmo e fazer sua escolha. Depois disso, sempre que vão comprar pizza ele pede que ao menos dois pedaços sejam com seu recheio preferido. Parece brincadeira, mas isso mostra o quanto nos perdemos até para fazermos escolhas tão simples como uma pizza, quem dirá para outras coisas. Sim, é importante cada um ceder em algumas situações, mas isso não quer dizer fazer o que agrada apenas para um. Relacionamento é troca, em todos os sentidos. E aquelas pessoas que estão sempre fugindo de uma conversa mais séria, evitam falar o que não gostaram para não machucar o outro ou evitar maiores aborrecimentos, devem pensar no quanto já estão machucadas, o quanto estão permitindo serem desrespeitadas, talvez até porque nunca aprenderam a se respeitar.
Pense sobre isso. Não coloque o que sente para debaixo do tapete, pois poderá chegar um momento em que terá tanta sujeira, que você não conseguirá sequer mais enxergar o outro à sua frente, e sequer a si mesmo. Converse, converse muito sobre tudo, afinal, o diálogo é o que nos faz seres humanos e nos aproxima de quem tanto amamos.



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zago
Rosemeire Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.
A base de seu trabalho no atendimento individual de adultos é o resgate da autoestima e amor-próprio, com experiência no processo de reencontrar e cuidar da criança que foi vítima de abuso físico, psicológico e/ou sexual, e ainda hoje contamina a vida do adulto com suas dores.
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