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A Viagem Espiritual de Rama

por Wagner Borges em Espiritualidade
Atualizado em 08/04/2020 11:34:54


(Conversando Sobre o Dharma Fora do Corpo)

"Oh, Rama!
Enquanto dormes numa cama macia, vagas em todas as direções com o teu corpo de sonhos; porém agora, nesse estado de vigília, onde está esse corpo?"
- Yoga Vasishita Sara -

Até mesmo um grande mestre pode padecer de momentos de desânimo em suas tarefas de esclarecimento e assistência espiritual no mundo. Isso aconteceu com o mestre Rama, sétimo avatar de Vishnu (1), em sua peregrinação pelos campos da Terra.
Certa vez, após refletir sobre a ingratidão dos homens que só buscam a comunhão com o Divino, quando as coisas não andam bem, o generoso e justo Rama sentiu um forte abatimento em seu coração. Ficou assim por dias seguidos: sua alma partida e assediada por pensamentos de desânimo e incertezas.
Porém, numa noite em que ele havia orado muito ao "Poder Maior Que Governa a Existência", antes de deitar o corpo no leito, ele se viu projetado espontaneamente para fora do veículo carnal. Flutuou logo acima dele, primeiro na posição horizontal e, logo depois, sentou-se no ar na posição de lótus.

O mestre-iogue estava consciente fora do corpo material. E ele sabia bem o que era essa condição extrafísica, pois os anos de estudos e práticas psicofísicas o haviam preparado para as diversas condições do parapsiquismo humano (2).
Sentado no ar, ele esperou. Meditou na Luz Cósmica que guia a todos os homens secretamente e agradeceu em silêncio o dom da vida e as oportunidades de aprendizado e despertamento consciencial.

Em determinado instante, logo à sua frente, também sentado no ar à moda iogue, surgiu a veneranda figura do sábio Vashishita (3). Então, no silêncio interdimensional, os seus olhares se cruzaram em pura sintonia. Os seus olhos extrafísicos brilhavam intensamente refletindo o grau de alta lucidez que manifestavam.
Nessa comunhão silenciosa, de alma a alma, Vashishsita ponderou a Rama:
"Oh, Rama! Jamais deixe a chama espiritual fenecer. Não são só os seus devotos que precisam de seu calor e luz, mas até mesmo os asuras (4) nos planos inferiores se beneficiam de seu labor.

O Grande Amor está em todos os corações, e tudo é manifestação de sua Luz.
No entanto, poucos são os homens que percebem isso. Engolfados em suas emoções pesadas, tornam-se presas fáceis da ansiedade e das influências sensoriais momentâneas. Raros são os que ponderam serenamente sobre as coisas da vida, e mais raros ainda são aqueles que perdoam e flutuam acima das cercas emocionais que prendem o coração espiritual.
Meu amigo, o despertar da consciência não é fácil.

O nevoeiro dos sentidos tolda a visão, e é muito fácil deixar de ver a Luz nos objetivos à frente. Sem os raios do sol do discernimento para dissolver tal nevoeiro, como será possível algum despertar da visão veraz e lúcida nas observações e análises dos fatos?
Tenha mais paciência em seu labor com as pessoas. Nunca perca a generosidade, por mais que elas não compreendam, e até mesmo se voltem contra você mesmo. O nevoeiro em torno delas é tão intenso...
Por isso mesmo, é necessário trabalhar no mundo levando a tocha da Espiritualidade acesa. Essa é uma tarefa grandiosa, e só conseguem executá-la, com eficácia, aqueles que submetem o seu labor ao Amor Supremo e agradecem de coração às chances de crescimento geradas por tal atividade.

Persevere na jornada que O Absoluto ordenou-lhe. Só Ele é que sabe o tempo certo do despertar das consciências.
Cabe a você a tarefa de esclarecer e ajudar, nunca a de mensurar o despertar consciencial alheio.
Paciência, meu caro.

Carregar a chama espiritual acesa em si mesmo não é fácil. Só alguém cheio de responsabilidade e lucidez na jornada é que conseguirá suportar o calor vital do Amor no coração e a Luz das idéias maiores na cabeça em total equilíbrio.
Tenha paciência com todos aqueles que padecem da "embriaguez emocional". O despertar das consciências entorpecidas pelas influências sensoriais é difícil.
Dentro do estado de semiconsciência, parece-lhes insano alguém falar de despertar consciencial.
Em meio às guerras fratricidas engendradas por seus arroubos de arrogância, parece-lhes estranho alguém falar de Amor e Luz.
Em meio ao nevoeiro sensorial, quem é que pensa na luz do sol?

Com tantas emoções pesadas açoitando-lhes a todo o momento, são raros os que escutam o chamado silencioso das altas vibrações da Paz Imperecível.
Rama, eles padecem da fome de amor em seus corações!
Parecem rebeldes e de difícil pacificação, mas são muito amados pelo Senhor da vida. São seus irmãos, mesmo os mais rebeldes.
Em lugar do desânimo, aumente a chama espiritual. Acelere as suas vibrações e projete energias salutares a favor de todos os seres, incondicionalmente.
Semeie a Espiritualidade, esclareça e ajude, e deixe a cargo do Senhor da vida o tempo da colheita e do despertar de cada um.
Agora, meu amigo, volte ao corpo carnal e pondere sobre a Luz Suprema que brilha em cada ser e canto do Universo. Medite nesse Amor Onipresente que os homens se deixaram esquecer. Pense nesse Incomensurável Poder que sustenta os incontáveis sóis e orbes espalhados na imensidão estelar.
No Macrocosmo e no Microcosmo, o mesmo 'AMOR QUE GERA A VIDA'.
Medite no Pai-Mãe de todos, que para muitos não passa de condicionamento religioso, mas que, para "aqueles que tem olhos de ver, ouvidos para ouvir e sensibilidade para sentir", é o velador secreto que inspira e guia nas jornadas vitais, na carne e fora dela, na Terra e no Espaço, e em tudo.
Caminhe em paz e veja a luz do TODO em todos os seres.
Cumpra o seu Dharma! (5)
Rama, na crosta da Terra ou nos planos inferiores, que a sua luz resplandeça sempre".Rama ponderou sobre os esclarecimentos amorosos do sábio espiritual. Os seus olhos espirituais resplandeciam com o brilho da lucidez serena. Ele saudou o mestre e, em seguida, interiorizou-se no corpo adormecido no leito.
Imediatamente, abriu os olhos carnais e sentou-se no leito. As lembranças de seu encontro extrafísico com Vashishita estavam intactas em seu cérebro.
As janelas de seus aposentos estavam abertas, e por elas ele via o céu noturno coalhado de estrelas. Pensou no Incognoscível Poder que gerara tal maravilha.
No silêncio da noite estrelada, o sábio Rama, sétimo avatar de Vishnu, admirou-se com a beleza da imensa tapeçaria estelar tecida pelo Supremo Preservador da vida.
Quietinho, ele agradeceu ao Tecelão Divino por todas as oportunidades.
E também agradeceu ao sábio Vashishita, que, mesmo no plano espiritual, não esquecera do seu pupilo reencarnado nas lidas da Terra.
No dia seguinte, logo cedinho, Rama já estava animado no jardim de sua residência real dando uma preleção sobre o divino potencial que mora nos corações aos seus discípulos.
Acima deles, o sol brilhava nos céus tecidos pelo Divino Tecelão, o mestre de todos!

Paz e Luz.

- Notas do sânscrito:
1. Avatar - emissário Divino; canal da divindade; enviado celeste. Na Cosmogonia hinduísta se acredita que Vishnu, O Preservador e Protetor da vida, encarne parte de sua luz como um avatar espiritual entre os homens. Ao longo da tradição dos hindus se diz que Ele encarnou por nove vezes em períodos diferentes. Na sétima vez Ele "personificou" o nobre Rama. Para maiores detalhes, ver o épico "O Ramayana", escrito pelo rishi Valmiki.

2. No contexto iogue o parapsiquismo humano - paranormalidade - faz parte do conjunto de "siddhis" - capacidades parapsíquicas - despertados pela ação da kundalini ativando os chacras e fluindo pelos nádis - condutos sutis - ao longo da coluna vertebral.
Obs. Nenhum iogue responsável busca a obtenção pura e simples de fenômenos parapsíquicos, que são apenas ferramentas para se chegar a certos estados alterados de consciência. Pelo contrário, muito iogues até aconselham os seus discípulos a desconsiderar tais desenvolvimentos, pois isso poderia levá-los às malhas do ego do poder fenomênico e desviá-los do desenvolvimento espiritual verdadeiro: o despertar da consciência.
No entanto, desconsiderar as capacidades parapsíquicas, que são potencial inato humano, é uma espécie de radicalismo doutrinário. Em alguns casos isso reflete o medo de lidar com os atributos psíquicos naturais, e de constatar o óbvio: capacidades parapsíquicas não são boas ou ruins, são apenas humanas. A maneira como alguém lida com elas é que caracterizará o nível de sua manifestação. Se alguém usa essas capacidades para crescer e ajudar os outros dentro de seu desenvolvimento espiritual, dosando-as com discernimento, amor e alegria, que problemas isso irá causar em sua caminhada ascensional?
Porém, há outros que objetivam tais desenvolvimentos por pura leviandade mesmo. Alguns querem o despertar da kundalini a qualquer custo - acho que esse pessoal pensa que isso é como "acender" um foguete no traseiro para decolar consciencialmente. É preciso explicá-los de que "acender" não significa "ascender", e que ascensorista não é o mesmo que ascensionado -, ou da mediunidade e demais manifestações paranormais.
É nesse caso que se aplica o alerta dado pelos mestres-iogues, preocupados em que as pessoas estejam só buscando o desenvolvimento parapsíquico em detrimento do desenvolvimento espiritual: o amor, a paciência, a maturidade consciencial, a união com o Todo...
Aqui, como em tudo na vida, é preciso equilibrar as coisas.
É mais do que natural de que no esforço de elevação do seu nível consciencial a pessoa se depare espontaneamente com a manifestação de suas capacidades parapsíquicas latentes, agora ativadas devido aos seus estudos e trabalhos. Isso não é problema, é até previsível. Seria problema se a pessoa se prendesse apenas nisso, e esquecesse de progredir com isso. Aí o problema seria de falta de maturidade para lidar com tais manifestações.
Pode-se muito bem harmonizar o desenvolvimento parapsíquico natural mediante estudos sérios e aprofundados de seus mecanismos. Se a pessoa aliar a isso a consecução de objetivos sadios, então utilizará essas capacidades como ferramentas para sua elevação consciencial.
Resumindo: capacidades parapsíquicas não são boas ou ruins, são apenas humanas e naturais. E podem ser utilizadas como meio correto de se chegar ao desenvolvimento espiritual sadio.
Há diversas maneiras para isso: seja o pesquisador que estuda seriamente os temas projetivos, mediúnicos ou iogues; seja o projetor consciente ou o médium que presta assistência espiritual, utilizando-se de suas capacidades parapsíquicas desenvolvidas; seja o iogue que ativa os seus chacras, projetando sua luz invisível para o bem do mundo; ou, então, sejam aquelas pessoas que freqüentam grupos de estudo consciencial - tanto faz se esses grupos são espíritas, ocultistas, teosofistas, taoístas, hinduístas, cabalistas, sufis, rosacruzes ou conscienciológicos -, objetivando aprender e crescer como ser humano sadio e criativo - todos carregam potenciais ocultos que ainda carecem de muito estudo e aprofundamento, mas que já podem ser vislumbrados e vivenciados corretamente.
O legal é isso: crescer com o estudo e a prática sadia desses potenciais, em lugar de se atolar com eles pelos caminhos da arrogância e da ânsia pelo poder, ou pelos apelos fúteis do egoísmo.
O parapsiquismo bem desenvolvido e bem aplicado para o desenvolvimento espiritual é muito sadio e só faz bem. Porém, o parapsiquismo dominado por objetivos torpes é encrenca pesada mesmo.
Note o leitor de que não estou falando de experimentação e curiosidade sadia de descobrir "como é que aquilo rola", mas de leviandade na abordagem.
Leviandade nada tem a ver com alegria e simplicidade, é apenas um estado de consciência estranho e que aumenta o risco de escorregadas violentas pelas ladeiras do ego e intensas viagens na "maionese parapsíquica".

3. O sábio Vashishita é considerado como um dos maiores rishis - sábios - da antiga Índia.
4. Asuras: demônios; seres do astral inferior.
5. Dharma: missão; dever; mérito; trabalho; programação existencial.


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Wagner Borges é pesquisador, conferencista e instrutor de cursos de Projeciologia e autor dos livros Viagem Espiritual 1, 2 e 3 entre outros.
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